Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência.



A jornalista Joseane Teixeira
Foto por: Acervo pessoal
A jornalista Joseane Teixeira

OPINIÃO: Cores e valores: negritude rio-pretense sabatina candidatos

Por: Joseane Teixeira
23/10/2020 às 21:21
Opinião

A pauta racial está longe de ser prioridade entre as propostas dos prefeituráveis de Rio Preto para uma cidade ideal


Segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios do IBGE, os negros representam 55% do total da população brasileira, sendo 47% autodeclarados pardos e 8 %, pretos.

A "autodeclaração” significa o reconhecimento do que se é. Por isso não é exagero dizer que esse percentual poderia ser muito maior, não fosse o peso e a conseqüência de se assumir negro em um país racista.

Nesse contexto, eu te convido à reflexão. Não é controverso, diante da predominância da raça preta e parda, se referir aos negros como minoria?

O professor Thiago Vinícius, membro do Conselho Afro de Rio Preto, explica que não. "O termo não faz referência à condição do que é numericamente inferior, mas a grupos historicamente excluídos das políticas sociais e de garantias de direitos.”

Trazendo a discussão para o cenário local, é possível afirmar, com base no estudo dos planos de governo dos candidatos a prefeito, que a pauta racial está longe de ser prioridade entre as propostas para uma cidade ideal.

Dos 10 concorrentes, apenas quatro (Carlos Arnaldo, Coronel Helena, Edinho Araújo e Marco Rillo) dedicaram espaço específico no documento para apresentar estratégias de promoção e inclusão da comunidade negra rio-pretense nas políticas de educação, saúde e assistência social. 

Dois, Carlos Alexandre e Celi Regina, mencionaram em tópicos compromissos no combate à discriminação e racismo, enquanto outros quatro (Casale, Marchesoni, Paulo Bassan e Rogério Vinícius), sequer mencionaram a palavra negro no plano de governo.

É com base nessa análise que posso dizer que nenhuma iniciativa apresentada nesse período eleitoral me entusiasma mais do que a sabatina proposta pelo Conselho Afro de Rio Preto e a organização Unegro com os 10 candidatos à Prefeitura da cidade. Agendada para os dias 26 e 27 de outubro, será transmitida ao vivo pelas redes sociais.

A ideia é pioneira e necessária. Visa dialogar com os candidatos questões relacionadas à base curricular, emprego, renda e acesso a equipamentos públicos. Uma das pautas a serem abordadas na sabatina será justamente o compromisso com a lei federal 12.990/14, que reserva 20% das vagas em concursos públicos para pretos e pardos, e que em Rio Preto nunca teve adesão pelos governantes.

No âmbito da educação, a comunidade negra quer saber a opinião  dos candidatos a respeito do ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira, preconizada na lei federal 10639/2003. Tema espinhoso, porque inclui a transmissão de conhecimento sobre religiões de matriz africana, intrinsecamente atreladas à história do povo negro escravizado, e alvo constante de ataques intolerantes.

É preciso mais autonomia do Departamento de Igualdade Racial, hoje vinculado à Secretaria da Mulher, que não dispõe de recursos, nem orçamento. Embora relevante no papel, hoje não passa de um departamento de fachada com pouco poder de transformação.

O número ínfimo de pessoas que se autodeclaram negras em Rio Preto – apenas 22% - reforça a importância de ações que despertem o orgulho em assumir a própria identidade, através do reconhecimento de sua ancestralidade, da trajetória de luta e de conquistas e da contribuição do povo negro na construção do país. 

Assumir-se negro é tomar para si relevância histórica e reivindicar sua parcela de direitos na sociedade, a fim de multiplicar a militância local de 200 para 200 mil integrantes.

É urgente educar, conscientizar e engajar a comunidade do século XXI no combate ao sistema que, 132 anos após a abolição da escravatura, ainda subestima, exclui, encarcera e mata nossa gente preta, parda e pobre.

Eu, mulher branca, reproduzo aqui um pensamento da artista e ativista negra rio-pretense, Anna Cláudia Magalhães: "Não me posiciono sobre causas só porque sofro individualmente, minha condição não define quem eu sou. Minhas posições podem me atravessar, mas isso só acontece porque penso sobre os problemas do mundo”.

Ainda está em análise se as questões a serem discutidas na sabatina serão adiantadas aos prefeituráveis. Se por um lado, o fator surpresa pode expor a completa desinformação dos candidatos sobre políticas raciais, por outro, o prévio conhecimento das temáticas pode transformar a intenção de um bate-papo espontâneo em apresentação de discursos decorados e eleitoreiros. 

Em qualquer uma das hipóteses, o eleitor branco, amarelo, preto e pardo terá parâmetros para identificar o candidato mais humanizado, e a comunidade negra, condições de cobrar os compromissos firmados.

Cada um dos 10 candidatos terá 20 minutos para nos convencer de quer fazer desta Rio Preto multicolorida uma cidade de todos.

Joseane Teixeira, 33 anos, é formada em Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Atua há 7 anos como repórter nas editorias de Polícia e Justiça, sendo dois anos pelo Diário da Região e cinco pela rádio CBN Grandes Lagos, onde trabalha atualmente







Anunciar no Portal DLNews

Seu contato é muito importante para nós! Assim que recebemos seus dados cadastrais entraremos em contato o mais rápido possível!