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Simone de Beauvoir
Foto por: Divulgação
Simone de Beauvoir

O Segundo Sexo

Por: Ingrid Zanata Riguetto
27/03/2024 às 17:47
Artigos

O ser mulher foi construído culturalmente como um outro do que é o ser homem, argumenta Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, obra dedicada à compreensão das origens da exploração da mulher pelo patriarcado. Sendo o outro o que é oposto (o que separa, divide e diferencia), e determinado por um mundo nomeado por homens e para homens, a mulher tornou-se o resto, o errado


Prossegue: a posse da propriedade privada da terra seria o marco dessa supremacia. Quando os seres humanos deixam de ser coletores, modo em que o uso da terra é coletivo e a geração de outros seres humanos não é necessária para a sustentação da economia; quando há a apropriação da terra para a produção agrícola, em que passou-se a existir um dono, estendeu-se esse domínio aos filhos e às fêmeas, como processo necessário para a sustentação de um patrimônio. A partir de então seria fundamental alguém para cuidar da casa, e mão-de-obra para os campos. Ter filhos, portanto, tornara-se prudente, era importante criar herdeiros para as propriedades. 

Nesse sentido, na medida em que a ideia de propriedade privada foi criada, esse conceito foi também guiado a tudo o mais que circundava o macho. Quando a força física se torna importante na administração do trabalho e no controle das posses, as mulheres também foram dominadas. 

É assim que a mulher é escravizada. Tornou-se o segundo sexo. E o segundo só é depois de um primeiro. É o que é deixado para traz. É o outro de uma visão binária de mundo, portanto é último. É o que não é visto. É o que não é percebido. É o que não é. 

Acreditava-se que essa opressão terminaria quando, com as revoluções industriais, a força para o trabalho já não seria mais tão fundamental, e assim, se criaria condições iguais. No entanto, não foi isso o que aconteceu, escreve a filósofa. O que é notável, com o advento do Capitalismo, foi a elaboração de novas formas de exploração criadas e apensadas a de gênero. 

A obra de Simone de Beauvoir, publicada em 1949, foi considerada de extrema importância para se pensar a condição da mulher, e um escândalo por escancarar a lógica do sistema patriarcal, sendo proibida de ser traduzida em muitos países. O fato é que a palavra da mulher continua diabólica e as bruxas ainda são más. O que faz concluir que há uma resistência persistente a tudo o que é próprio da mulher e haverá sempre uma limitação à liberdade feminina enquanto a cultura ainda for dominada apenas por homens. E não esperemos que sejam abertas as portas dessa revolução.


Ingrid Zanata Riguetto é doutora em Teoria Literária pela Universidade Estadual Paulista, escritora, historiadora, professora e participante do coletivo Mulheres na Política

 

 

Capa Livro
Foto por: Divulgação
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