Sabemos que historicamente as mulheres têm lutado e lutam em todos os lugares do mundo, por condições de igualdade e melhorias nas condições de vida, passando por guerras, tendo seus corpos violentados e, sendo mortas porque são apenas corpos, e, o que importa à dominação é exterminar a resistência.
O dia 08 de
março, foi a data escolhida para lembrar o Dia Internacional da Mulher, mas,
muito provavelmente nem todos sabem o motivo de tal decisão, posto que a luta
não apenas não acabou, como sofre embates a cada dia; haja vista a exaustiva
divulgação do revoltante áudio do brasileiro, representante de uma ação
humanitária na Ucrânia.
A realidade
daquelas mulheres refugiadas as torna vulneráveis em todos os aspectos que
compõem e determinam o que seria uma vida digna. Elas sofrem todo o tipo de
perdas, começando por suas casas, seus trabalhos, suas vidas. Essa é apenas uma
mostra do quão à vontade algumas pessoas estão para falarem o que pensam desde
de áudios até roteiros de viagens para turismo sexual, passando por agressões
físicas, espancamento e morte dos que não se parecem consigo mesmos. Já dizia o
poeta: narciso acha feio o que não é espelho.
O mês de
março, em especial o dia 08, tem sido dedicado para que mulheres tenham maior
visibilidade política, para que suas lutas sejam fortalecidas e para que não
sejam mortas ou silenciadas. No entanto, este dia também é modificado e
transformado em apelo comercial, são presenteadas com flores e parabenizadas
por terem nascido mulher, comportamento típico de sociedades machistas nas quais
o patriarcado é hegemônico.
Faço notar
que quando sujeitos se identificam com o discurso machista hegemônico têm a
ilusão de que não estão cometendo nenhum crime. E estão apenas exercendo sua
virilidade, como se tivessem uma espécie de salvo conduto para isso. Em nome do
patriarcado, o machismo impera assediando e violentando os direitos
conquistados a duras penas, acarretando retrocessos que inviabilizam a
democracia.
Não
produzimos sujeitos cuja mentalidade é infantilizada e primitiva, não aceitamos
que indivíduos pouco inteligentes, nos presenteiem e nos parabenizem por um dia
de luta incluindo no calendário comercial para aumentar as vendas. A ironia
contida no título deste artigo, não é uma provocação. Ao contrário, é um grito
de basta! É resistência! O machismo e o patriarcado são males que herdamos
estruturalmente, no entanto combatemos e resistimos ainda que nos custe a vida.
Nada a comemorar!
Alessandra
Moreno Maestrelli. Psicóloga e Psicanalista. Mestre e Doutora USP de Ribeirão
Preto, SP; Membro fundador do Território lacaniano; Membro da Comissão gestora
do CRP-Rio Preto; Membro do Coletivo Mulheres na Política e do Coletivo Lugar
de mulher, é onde ela quiser.