O mês de março chegou e, com ele, estamos novamente celebrando a história de mulheres importantes na luta pela igualdade de gênero no Brasil e no mundo
Nesse contexto, homenageamos muitas mulheres cujas vozes e ações
trouxeram mudanças e inspiração. Uma dessas histórias é a da Bióloga Bertha
Maria Júlia Lutz. Nasceu em São Paulo, em 2 de agosto de 1894. Viveu, portanto,
numa época na qual era muito mais difícil defender qualquer direito para as
mulheres. Bertha estudou Biologia na Universidade de Sorbonne, na França. Em
1919, foi contratada no Museu Nacional do Rio de Janeiro como pesquisadora. Foi
a primeira colocada num concurso geralmente disputado apenas por homens.
Mais tarde, ocupou o cargo de chefe do departamento de Botânica do Museu, até
sua aposentadoria em 1964.
Bertha brilhou como cientista e como feminista. Em 1922, junto com
outras mulheres, ajudou a fundar A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino
(FBPF), que tinha o objetivo de coordenar e orientar os trabalhos de
qualificação da mulher para que pudessem participar da vida social mais
ativamente. As metas destacavam a promoção da educação; a proteção de mães e
crianças; conquista de direitos trabalhistas e orientações na escolha de uma
profissão; além do voto feminino universal conquistado em 1932. Elegeu-se
Deputada Federal em 1936, sendo a segunda mulher nesse campo político no
Brasil.
Uma importante atuação da vida política de Bertha foi sua integração
junto à delegação brasileira na conferência de São Francisco, em 1945, para a
redação final da Carta das Nações Unidas. Participando como delegada
plenipotenciária, tinha plenos direitos, inclusive o de assinar a carta da
ONU. Nesse período, Bertha lutou para que a igualdade de gênero fosse
incluída no documento. Entretanto, sofreu retaliação das delegadas dos Estados
Unidos e do Reino Unido. A carta foi assinada por 160 homens e 4 mulheres,
sendo apenas duas a favor dos textos de igualdade, Bertha e Minerva Bernardino
da República Dominicana.
Bertha teve homens como aliados de suas ideias e mulheres que,
infelizmente, não lutaram pelo mesmo fim. Porém, o resultado foi positivo. No
preâmbulo da carta da ONU encontram-se os dizeres "igualdade de direitos
entre homens e mulheres". Em outros artigos, há a frase "sem distinção de
raça, sexo, idioma ou religião”. Bertha teve coragem, iniciativa e empenho de
uma vida para a melhoria das condições das mulheres na sociedade. Por isso, é
considerada uma das maiores feministas do século XX.
Eliane
Gonçalves de Freitas é Bacharel em Ciências Biológicas. É Professora Associada
da Unesp de São José do Rio Preto. Integra o coletivo "Mulheres na
Política”.