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Até que a morte os separe

Por: Aparecida Cury
07/03/2022 às 22:30
Artigos

A figura de inferioridade da mulher provém do início da civilização e mesmo em povos ditos mais civilizados da antiguidade, nos jogos de interesse e poder, a mulher era considerada um ser inferior aos homens, por isso era excluída das decisões políticas e sociais


Assim, a mulher era, e ainda é, em muitos aspectos, menosprezada, pois essa visão medíocre, ignorante e de prepotência do homem continua até os dias atuais, reforçando o conceito de inferioridade perpétua, que acarreta em atitudes violentas e até mesmo a morte.

Antigamente de forma mais explicita e hoje de forma um pouco mais velada a depender do grupo sócial, as mulheres eram educadas para dedicar-se aos maridos, e ficarem subordinadas às suas vontades.

 Toda ideia de supremacia masculina foi passada de geração em geração, e continua até os dias atuais. Apesar de a mulher ter conquistado muitos direitos, ainda existem homens que a veem como uma propriedade. Nesse sentido, o casamento, hoje entendido ou pelo menos buscado como espaço de relacionamento afetivo, já foi explicitamente considerado um contrato com o objetivo de organizar posses e propriedades – o que incluía a mulher em acordo com sua família – e a geração de descendentes e herdeiros.

Grande parte dos feminicídios são decorrentes de relacionamentos nos quais os homens têm um sentimento de posse sobre as mulheres. Parte da sociedade, desde os primórdios, mantém a visão da mulher como uma propriedade masculina, um objeto do qual se pode utilizar do jeito que convém.

O feminicídio não ocorre de uma hora para outra, é precedido por violências que podem ser psicológicas, verbais, físicas, sexuais, simbólicas ou patrimoniais. Como habitualmente ainda ensinamos as mulheres a manterem o silêncio, esse ciclo de violência pode resultar na morte, mas algumas mulheres conseguem se dar conta do relacionamento abusivo, e resolvem terminar o relacionamento, o que leva parte dos homens a não aceitar essa decisão, por vê-las como propriedade e o extremo dessa não aceitação pode chegar a morte. 

É preciso avançar na prevenção desses crimes, e o primeiro ponto precisa ser o reconhecimento, por parte de todos, de que vivemos em uma sociedade patriarcal, e que o machismo é estrutural e faz mal para todos. Nossa forma de pensar se dá a partir de estereótipos de gênero que devem ser eliminados.

Vale lembrar que o patriarcado está impregnado em nosso meio de forma tão arraigada que às vezes nem percebemos. Também é necessário reconhecer que é essa sociedade machista que coloca as mulheres como vulneráveis e sujeitas a todo tipo de violência, tanto em casa, como na rua ou nos ambientes de trabalho.

É preciso denunciarmos o machismo em nossas relações, tendo presente, além do recorte de gênero, o recorte de raça e de classe, para dar visibilidade ao conflito existente, mostrar a assimetria de poder que existe nas relações, e assim mudar a realidade, sempre com base em três principais eixos, a proteção das mulheres, a educação das crianças e o estímulo à reflexão nos homens.  Nesse sentido, a frase "até que a morte os separe”,- outrora comumente usada nos casamentos – deve ser a síntese dos votos e do esforço de construção de um amor duradouro e respeitoso e não a ameaça de que o que um dia possa ter sido amor, se transforme em uma relação abusiva e termine em um feminicídio.    







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