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Juíza de Direito Aposentada, Presidenta do Conselho dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto
Foto por: Arquivo Pessoal
Juíza de Direito Aposentada, Presidenta do Conselho dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto

Violência contra a Mulher e Etarismo

Por: Maria Aparecida Cury
02/12/2021 às 10:52
Artigos

O etarismo, como uma das formas menos visíveis de intolerância pelo comportamento discriminatório que impõe exclusões etárias nos relacionamentos, tem sido presente como viés da violência contra a mulher.


Em um mundo no qual a juventude eterna parece um elixir que diluímos na água que bebemos, envelhecer soa como uma falha humana, principalmente para as mulheres, tornando-se um imperativo social que faz com que a pessoa precise se manter jovem, e se apresentar assim em qualquer idade.

E nesse modelo imposto, a mulher se torna socialmente mais velha muito cedo, bem antes que o homem.   

Para alcançar destaque no mercado de trabalho as mulheres não precisam apenas serem  eficientes, inteligentes e comprometidas, elas precisam buscar o superlativo desses adjetivos, mesmo pagando um preço alto na vida pessoal e familiar, e ainda assim não há garantia de que estarão livres do preconceito, do machismo e da misoginia.

E o etarismo leva as mulheres a se tornarem vítimas diárias de comentários ofensivos em todos os campos de sua vida, refletindo o cotidiano vivenciado por elas.

Fechar os olhos para isso é contribuir para inúmeras violências cotidianas que as mulheres  sofrem, como interrupções e falta de atenção em suas falas, especialmente nos ambientes de trabalho. Necessário por isso, que a interseccionalidade seja observada, considerando a questão da idade associada ao gênero.

Pouca gente quer conhecer e valorizar a trajetória de vida das mulheres, que sofrem cotidianamente com o preconceito relativo à idade, mesmo assumindo posições semelhantes às dos homens. Quando jovens são muito "meninas” demais e quando têm mais idade e experiência, são "velhas” demais.

Triste a constatação de que a idade para o homem e a mulher são vistos na sociedade de forma tão diferente, tanto que a andropausa é uma realidade na vida dos homens escondida em inúmeras capas, mostrando que há discriminação no inconsciente coletivo.

Inúmeras frases demonstram o etarismo presente no cotidiano, ditas naturalmente sem que ninguém se dê conta, como: "Ahh, jura que você tem essa idade?”; "Qual o segredo para você estar tão conservada?”; "Que bonita, não entrega a idade.”; "É uma ‘coroa’ enxuta para a idade dela.”; "Como tem coragem de sair com aquela roupa?”

Novos comportamentos precisam ser desenvolvidos com ações educativas e afirmativas para a desconstrução de uma naturalização que vitimiza mulheres atingidas por inúmeras e variadas formas de violência e desigualdade, permeados pelo diálogo, respeito e democracia, buscando mitigar violências de gênero transpassadas pelo etarismo que observamos em nossa realidade.  

 

 

 

Maria Aparecida Cury

Juíza de Direito Aposentada, Presidenta do Conselho dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto, Membra do Coletivo Mulheres na Política –  21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.

    

    

  







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