Vou falar de uma mulher Nascida lá na Bahia Cidade de Salvador Nordeste de Amaralina
Vou falar de uma mulher
Nascida lá na Bahia
Cidade de Salvador
Nordeste de Amaralina
E que desde muito cedo
Deu início à sua ginga
Quando ainda era menina
Cleonice Damasceno Silva
Mas poderia ser chamada
"Dona do próprio destino”
"Menina-determinada”
"Senhora da sua sorte”
"Educadora-guerreira”
Ou então "Predestinada”
Falo de Mestra Preguiça
Que é mestra de capoeira
Capoeira é resistência
Luta e dança mandingueira
De africanas raízes,
Que como essa mulher,
É negra e é brasileira
A mestra quando menina
Fora desestimulada
De praticar a capoeira
Que era discriminada
Mas que na atualidade
Graças a muito trabalho
Como patrimônio é tombada
Falar sobre a capoeira
É falar em tradição
Falar de filosofia
De cultura e educação
Como uma missionária
A Mestra de quem eu falo
Dá sua contribuição
Com a sua atividade
Oferece inspiração
Independente de idade,
Gênero ou condição
Quem a observa aprende
Capoeira Regional,
Foco e dedicação
Forte e determinada
Constrói sua trajetória
E dentro da capoeira
Ela fez e faz história
Quem presenciou um dia
Sua presença numa roda
Não apaga da memória
Mãe de família, educadora,
Transformadora social
Preservadora do legado
Do Seu Bimba, imortal
Ela é mestra-charangueira
Primeira mulher lenço branco
Da Capoeira Regional
Essa Mestra tem escrito
Seu nome na capoeira
Essa arte genuína
Configurada em brincadeira
Que constrói identidade
Com base na educação
À sua própria maneira
Nossa arte e cultura
Por ela é protegida
Viva a Mestra Preguiça
Que é focada e aguerrida
Ela não abraça o medo
Luta pela capoeira
Dedicando a sua vida.
-
Mestra Preguiça é uma mulher
afetuosa, de força e determinação
incomuns e impressionantes. Quando
criança se encantou à
primeira vista pela capoeira, mas
não recebeu autorização da
família para praticá-la e passa a
ficar com outras crianças
observando de longe a movimentação
de praticantes para tentar
reproduzir enquanto brincava na rua.
Com o passar do tempo,
percebendo a persistência e
disposição da menina, a família
autoriza seu ingresso nas aulas
aos 11 anos de idade. Aos 17 já
ensinava capoeira em um projeto
social para crianças, o
CAPOERÊ; forma-se educadora em
Capoeira Regional aos 19,
torna-se a primeira mulher
especializada em Capoeira Regional aos
22, aos 29 faz a 2ª especialização
e aos 34 anos torna-se a
primeira mulher, até o momento a
única, a ser contemplada com o
Lenço Branco, honraria maior da
Capoeira Regional. Há mais de
três décadas integra e
conjuntamente constrói a Filhos de Bimba
Escola de Capoeira. Em
consequência de seus estudos, trabalho e
dedicação desenvolvidos no Brasil
e em outros países, como EUA e
diversos países europeus, é
consagrada, especialmente por seus
discípulos e discípulas, como
mestra de capoeira. No ano de 2022
realiza a formatura de sua 1ª
turma de educadores(as) em Capoeira
Regional. Tenho a alegria de
participar da construção de um
documentário que contará sua vida
e trajetória de mulher negra,
periférica, mãe de família,
educadora, transformadora social,
preservadora e grande referência
do legado da Capoeira Regional.
"... viva minha Mestra! Iê, viva
minha mestra, camará...!”
Cláudia Prestes
(A autora Cláudia Prestes, também
conhecida como Tropicana, é
capoeira, artista visual e da
dança, militante de movimentos sociais
com recortes de gênero e de raça.)