Inspirar literalmente refere-se à respiração, que é o ato de inspirar e expirar. Inspirar é se encher de ar, introduzir ar nos pulmões. No sentido figurado, o dicionário diz que é estimular ou infundir pensamentos e sentimentos em outras pessoas
Habitualmente
consideramos pessoas que nos inspiram aquelas que exercem em nós influências
animadoras, mas podem ser também aquelas que de certa maneira nos colocam para
dentro de si mesmas, como inspiram o ar, nos inspiram e o sentido literal passa
a ser figurado, porque inspiradas por elas de alguma maneira, nos sentimos como
se fizéssemos parte delas. Pessoas que
nos inspiram nos permitem pertencer a elas mesmas, a fazer parte de suas lutas,
de seus amores, das experiências de seu corpo e de sua jornada. Sua inspiração
nos une a outras pessoas que de diferentes formas as admiram ou se reconhecem
nelas e podem – como o ar – se misturar
também. As fontes de inspiração nos colocam juntas e permitem um sentimento de
pertencimento.
Quem já teve por perto
alguma pessoa com problemas respiratórios sabe como é angustiante ter
dificuldade para respirar e até mesmo ver alguém que esteja com essa
dificuldade. De certa forma, assim como a comida, o ar é alimento básico.
Respirar exige esforço, que quando tudo está bem não percebemos, só nos damos
conta de sua importância quando os problemas surgem e percebemos o quanto são
bons os atos simples de inspirar e expirar. Inspirar é bom. Ser inspirada por
alguém também. Expirar também é bom. Expirar é soltar, deixar o ar ir, para que
outros novos ares possam entrar. Sem
expirar é impossível inspirar. Só inspira quem expira.
Não vemos o ar que
respiramos e às vezes a inspiração que nos anima também não é explícita. O
exercício aqui, nos próximos dias, será o de mostrar mulheres negras que tem
nos inspirado, mulheres que, sem saber, permitiram que façamos das suas
histórias um pouquinho das nossas e nesse sentido nos sintamos como um grupo
também. Mulheres negras são mulheres que, mais propositalmente do que
acidentalmente, tiveram suas histórias apagadas. Invisíveis, são como o ar, que não é porque
não o vemos que ele não existe, não é porque não conhecemos sua estrutura que
ele não nos alimenta. Nossa cultura e nossa história foram e têm sido
alimentadas e constituídas de histórias e ações de mulheres negras e no mês que
se inicia – novembro, mês da consciência
negra – nossa contribuição, nessa nova série de textos escritos por mulheres, é
no sentido que possamos, em um movimento inverso ao apagamento, iluminar,
colocar no centro as mulheres negras que já tem nos inspirado e podem nos
inspirar ainda mais.