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José Vitor Rack

Escritor e roteirista


A vida acontece hoje

Por: José Vitor Rack
28/01/2020 às 09:07
José Vitor Rack

Acordei cedo em pleno sábado, coisa rara de acontecer em finais de semana ordinários e preguiçosos como este.

Enquanto esquentava o forno escovei os dentes, lavei o rosto e prendi o cabelo.

Fiz um suco de maçã, Nada complexo. Maçã em cubos, sumo de meio limão e um pouco d’água. Liquidificador, coar, freezer.

Coloquei umas bisnaguinhas no forno. Sim, bisnaguinhas. Seven Boys. Não tenho grana pra brioches.

Numa frigideira mexi dois ovos. Um fio de azeite, nada de sal. Um pouco de orégano e pimenta do reino. Rasguei umas fatias de mortadela defumada e dei uma última mexida.

Nesse ponto as bisnaguinhas já estavam prontas. Duras por fora e moles por dentro, implorando por manteiga. Como eu sei que o ponto estava bom? Mordendo uma, ora bolas! Cada pergunta...

Ajeitei os pratos. De um lado o mexido, do outro o pão. Uma fatia de queijo branco. Num ramequim bem baixinho de porcelana coloquei um tantinho de manteiga e outro tantinho de geléia de figo. 

Aliás, paguei baratíssimo nessa geléia, coisa de três ou quatro mangos. Aprendam, jovens. Produtos perto do vencimento ficam muito baratos. E lhe dão uma perfeita desculpa para comer em quantidades industriais:

- Bora botar geléia nessa torrada que ela vence em sete dias!

Não tive paciência de passar café. Não sei passar café. Não gosto muito de café. Não digo que odeio café pois existe o capuccino, que me dá a licença poética de gostar. Mas o capitalismo nutriu de verbas a Nestlé que fabrica o maravilhoso Nescafé. Esquentei água e fiz uma xícara da fumegante bebida negra que meio mundo adora.

Servi o suco naqueles copos altos, esguios feito a Grazi Massafera. 

Levei café na cama pra minha mãe. Ela sorriu. Eu me senti o Jamie Oliver do operariado.

Minha bandeja eu levei pra sala e fiquei aqui na mesinha. Comendo, bebendo, vendo uns vídeos no YouTube.

Não gastei nada. Tudo o que consumi estava nos armários, na geladeira. Coisas que pago com meu salário e que seriam consumidas de uma forma ou de outra. Ou por nós ou pelos bigatos.

Perdi quanto tempo? Uns vinte minutos. Menos do que quase todos nós gastamos falando mal da vida alheia, maldizendo uns aos outros. 

Fiz duas pessoas felizes. As mantive alimentadas por algumas horas. Isso me rendeu esta crônica que você está lendo. Se você gostar vai ficar feliz também e provavelmente vai querer fazer um belo café da manhã em casa dia desses. Do seu jeito. Mais gordo, menos gordo, vegetariano, pra mais gente. Do seu jeito.

Valeu a pena.

A vida que vale a pena ser vivida é feita de momentos onde o banal tem luz.






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