A impermanência
Por: José Vitor Rack
02/03/2020 às 08:33
José Vitor Rack
Hoje temos um emprego, um círculo de amigos, uma casa, um relacionamento amoroso, um gato, nossos pais, uma vida estruturada em bases sólidas. Amanhã o vento muda.
Seu emprego é engolido pela crise. Os amigos não vêem mais tanta graça na sua geladeira sem a cerveja de sempre. A casa precisa de reformas. O amor se desgasta, vira outra coisa. O gato não tem sete vidas. Pais também não.
Base sólida não existe. Nada neste planeta é permanente. Absolutamente nada.
A importância de se viver intensamente o momento presente não é levada a sério como deveria. Os bons momentos se solidificam na memória e te acompanham para sempre. E é ali e só ali que eles resistirão.
Somos seres individuais, únicos, diferentes demais uns dos outros. Temos um jeito muito próprio de evolução, de caminhar no mundo. Seu amor, seu parceiro, seu amigo, seu cãozinho, seus familiares, nenhum deles tem um cinto de segurança que lhe prende junto a eles. Uma hora o vínculo se dissipa e é cada um pro seu lado.
Isso é uma lei.
Soa inaceitável muitas vezes. Mas desafio você a me apresentar uma teoria alternativa.
Quem crê na vida eterna e na vida após a vida pode dizer que lá as coisas continuam. Sim, continuam. Mas em outras bases. Seres espirituais também mudam, evoluem e continuam sendo individuais. Não tem outro jeito. Aceita.
Mais importante que ter noções de álgebra, geometria ou física, seria termos no colégio lições de desapego. Do primeiro fundamental até o final do curso superior.
Isso não é papo de guru, não é algo baseado em Kardec, Buda, Cristo, Maomé, nada disso. Isso é científico. A vida é um ciclo. Nascer, crescer e morrer.
A mudança é a única certeza.
O mais sensato é aproveitar até às últimas consequências os abraços, os beijos, os sorrisos, o carinho, o afeto, a sombra fresca da figueira. O sensato é ser intenso. Não deixar pra amanhã o que pode ser gozado agora.
O que é o amanhã?
Você tem certeza de que verá o amanhã com os mesmos olhos de hoje?