Cenas de ação sustentam o que poderia ser mais uma medíocre execução
Sempre
quando a Marvel anuncia e executa um filme de origem tenho em mente que ele
será no mínimo disciplinado, e de fato, ‘Shang-Chi’ é. Entretanto, também tenho
em mente que o mesmo não trará surpresa alguma, isso, necessariamente no
roteiro. Ao terminar de conferir o longa percebi que sou ser humano e falho
diversas vezes, mas não desta vez, porque foi a mesma coisa.
Pegando
o pequeno gancho que disse sobre o roteiro, é interessante porque como se trata
de um protagonista cuja cultura e fisionomia são chinesas, o filme consegue
desfrutar de uma proposta convincente neste quesito. Similar a produções
orientais com seus epílogos narrativos e até mesmo com as diversas criaturas
fantasiosas, é prazeroso perceber que existe uma forte fidelidade a origem do
personagem e até mesmo ao estilo cinematográfico; é como imergir em uma fábula
oriental, no qual é um belo acerto. Ainda há, em seu ato final, uma pequena
montagem retornando ao passado de Shang (Simu Liu) como forma de inspiração
para o mesmo. Este estilo é extremamente comum em animes, ou seja, mais uma inspiração
asiática.
Ainda
mais, impossível não notar as falas chinesas dos atores, que mostram
competentes escolhas no elenco. Simu Liu demonstra talento e dedicação nas
coreografias, contudo, é clara a inexperiência e inexpressão em momentos mais
dramáticos. Katy (Nora Lun) é a melhor das performances, contendo um carisma de
dar gosto, além de desfrutar de um timing cômico inteligente e nada irritante –
destaque também para Ben Kingsley (TrevorSlaterry) e seu sotaque britânico
engraçadíssimo.
Mas
dentre os inúmeros personagens, o vilão de Tony Leung apresenta um peso intrigante.
Ao ser encarado como o "do mal” há momentos em que surge certa dúvida de sua vilania, isto pela paternidade dócil, além do imenso
amor pela falecida esposa. O conflito mental que Mandarim enfrenta é nítido em
sua expressão, que por mais que simples, dispõe de uma dor convincente.
Existe,
contudo, uma linguagem fílmica competente, mas ao mesmo tempo confusa. A
movimentação orgânica e bem executada de câmera consegue fluir a ação de uma
forma gostosa e leve. Com as belas coreografias, ótimos cenários e poucos
cortes, ‘Shang-Chi’ só pode receber elogios quando falado deste quesito – devo
destacar a cena dos bambus ao lado de fora do prédio que é sensacional. Ao
mobilizar a câmera juntamente às lutas, a sensação se torna ainda melhor, é
como se o espectador estivesse participando da cena; em contrapartida, Destin
Cretton (diretor) mescla esta brilhante idéia com a péssima de pequenas câmeras
lentas que consequêntemente quebram o frenético ritmo apresentado, além de
confundir no sentido de: que raios este diretor quis dizer com isso?
Paralelamente,
a estética do longa consegue ser tosca no nível de discernir o que é fundo
verde e o que não é. A fotografia, ao desfocar o fundo dos personagens, tenta
amenizar estes efeitos, mas só evidencia mais. Além disso, esta plástica –
carregada de muita computação gráfica em sua maioria – torna a imersão
ineficaz, já que tira o espectador da realidade fílmica.
Em
resumo, ‘Shang-Chi’ não é brilhante – já sabíamos disso, né? –, mas ao mesmo tempo
dispõe de uma essência particular no meio de várias outras produções. É como se
no meio de uma belíssima porção de batata frita com cheddar e bacon, uma se
destacasse pelo bacon a mais.
Mas
cuidado, muita batata frita, cheddar e bacon faz mal.
Nota: 3/5 (BOM)