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Alexandre Gama

Vencedor do Prêmio Esso 2003, categoria Interior. Trabalhou no Correio Popular, Diário da Região e CBN Grandes Lagos. Atualmente é jornalista concursado da Câmara de Rio Preto


Acorda, Brasil

Por: Alexandre Gama
04/09/2019 às 11:11
Alexandre Gama

Em recente debate promovido pela TV Câmara Rio Preto sobre o golpe militar de 1964, entre um promotor de Justiça e um professor de filosofia, os rio-pretenses foram brindados com um festival de horrores disparado por um dos debatedores, que chegou a defender tortura, torturador, fuzilamento, censura e ditadura. 

O nível de alguns argumentos foi tão grotesco que telespectador deixou o seguinte comentário nas redes sociais da emissora: "assistimos ao canto de um filósofo contra os grunhidos de um gorila". Para quem quiser testar o estômago, aqui o link da entrevista - https://youtu.be/23OFrD526cY

Grunhidos de gorila - ou algo parecido – foi verificado também na última edição do Roda Viva, programa de entrevistas de Cultura, com o jornalista Glenn Greenwald, cofundador do site The Intercept e que está expondo ao País as vísceras da operação Lava-Jato com seus desmandos e abusos. Cercado de jornalistas em tese experimentados, de tradicionais veículos de comunicação, o que se viu foi uma completa e ilógica inversão de valores, em que jornalistas tentaram acuar um jornalista por fazer jornalismo.

Colocações infelizes povoaram as quase duas horas do programa: "Não é melhor demitir jornalistas e contratar meia dúzia de hackers?" "Você pagou por informações?" "O que diferencia os vazamentos do Sérgio Moro que você diz serem ilegais dos vazamento promovidos por você de documentos, obtidos por meios criminosos?" foram algumas das perguntas e colocações que, da boca de neófitos, já soariam estranhas. Mas partiram de profissionais que atuam em grandes veículos de comunicação.

Em vez de debaterem e questionarem o conteúdo e relevância das informações divulgadas por Glenn, que já mostrou uma espécie de conluio entre o ex-juiz Moro e os procuradores da República de Curitiba, os jornalistas optaram por se unir e tentar criminalizar as reportagens do Intercept, questionando os métodos jornalísticos e editoriais de Glenn e o instigando a falar sobre sua fonte (qualquer estudante de primeiro ano de jornalismo sabe que o sigilo da fonte é a mais importante ferramenta de um jornalista, ao lado da liberdade de expressão). Já ouviram falar da vergonha alheia? Pois é.

Vergonha que só não foi maior dado o extremo preparo profissional e intelectual de Glenn, que explicou didaticamente aos entrevistadores o que considera ser o papel do jornalismo. Lembrou o óbvio, que jornalista não tem dever de preservar o sigilo de nada. Pelo contrário. Que jornalistas de verdade, ao ter acesso a documentos ou informações de interesse público, têm o dever de checar sua veracidade. E sendo de interesse público, não têm outra alternativa a não ser publicar, expor aquilo que certos indivíduos não querem que seja divulgado. O resto é armazém de secos e molhados.

O Brasil, cedo ou tarde, vai acordar deste estado de torpor moral e intelectual em que nos metemos em alguma esquina da história.






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