Gravado por uma agente ambiental paulistana - isso mesmo, agente ambiental sim, não uma catadora de lixo - um vÃdeo que circula no WhatsApp e que pode ser visto no fim deste texto contém lições fantásticas e ao mesmo tempo sublimes. São lições dos heróis da reciclagem, que de tão ignorados e subestimados nas ruas, até parece que são invisÃveis.
No vÃdeo, a moça diz que ao sair para a rua, já sai preparada para ser humilhada e xingada, mas mantém a força, o foco e a fé. Ao ver a mensagem que ela passa, quem pensa que o comprometimento fica restrito à s famÃlias das pessoas que, direta e indiretamente, dependem da manutenção e do aprimoramento das suas atividades, descobre um tremendo engano proporcionado pelo modo raso de enxergar o mundo.
Além de desempenhar um papel de notória relevância ambiental, associações de reciclagem têm sob sua guarda uma nobre missão social que merece e precisa ser incentivada, ainda mais nas circunstâncias de crise econômica, que já vinha assolando o PaÃs nos últimos anos, e na calamidade sanitária em decorrência da pandemia do coronavÃrus. Toda iniciativa direcionada para incentivar trabalhos de reciclagem deve ser divulgada e estimulada, de uma forma que possa mobilizar a sociedade.
É evidente que eles devem se orgulhar de serem identificados pela tarefa que desempenham: são catadores de papel, papelão e muitos outros materiais recicláveis. Porém, são mais do que catadores. São verdadeiros agentes ambientais na medida em que suas ações contribuem para o reaproveitamento de recursos e, ao mesmo tempo, para evitar que toneladas de material reciclável sejam danosamente descartadas em terrenos baldios, nas praças, ruas, bueiros, rios e lençóis freáticos. São pessoas com sensibilidade apurada para entender que muito do que parece lixo é, na verdade, um tesouro.
Desde sempre, pela necessidade e pelo conhecimento do que fazem, os ambientalistas da reciclagem têm consciência do valor desse tesouro, que não se esgota no conceito monetário do vil metal. Fariam muito bem as autoridades públicas se passassem a olhar com mais atenção para projetos assim, e refletissem sobre a importância de implantar, em larga escala, processos de coleta seletiva nas cidades. Fortalecidas, essas associações funcionariam como peça fundamental de uma grande engrenagem.
Como funciona em Rio Preto
A coleta seletiva de materiais recicláveis em Rio Preto encontra na Cooperlagos (Cooperativa Social de Coleta Seletiva Beneficiamento e Transformação de Materiais Recicláveis) pequenos exemplos como o mostrado pela mulher paulistana do vÃdeo. Em quatro meses 56 toneladas do que seria lixo deixou de ir para o aterro sanitário e foi processado e comercializado na cadeia de reciclagem, que aumenta o ciclo de vida dos materiais, reduz os impactos no meio ambiente e gera trabalho e renda.
Sete coletores percorrem as ruas desses bairros em dias determinados da semana e, casa a casa, recolhem papel, papelão, vidro, plástico, metal, isopor e eletrônicos. O material recolhido nas rotas é levado de caminhão até os Pontos de Apoio do Jardim Gabriela/Anna Angélica e Jardim Atlântica, onde são triados e encaminhado à cooperativa de reciclagem.
A Cooperlagos processou, em 2020, mais de 1.412 toneladas de produtos descartados em Rio Preto. O crescimento do trabalho vem permitindo a ampliação do quadro de cooperados, que no inÃcio do ano passado contava com 50 catadores e hoje chega a até 63. Do mesmo modo, a renda por eles gerada cresceu de R$ 1.211,27, em 2017 no inÃcio da cooperação com a Secretaria do Trabalho, para R$ 2.433,78, em dezembro de 2020.
Segundo a Secretaria de Comunicação, a Ares (Associação Riopretense de Educação e Saúde) também colabora com a coleta seletiva no municÃpio, tendo processado e comercializados mais 271 toneladas de materiais recicláveis no ano passado. A associação é focada na capacitação de profissionais por meio da Educação Ambiental. Os participantes dividem o tempo entre aulas teóricas e presenciais (reorganizadas para cumprir os protocolos de enfrentamento ao coronavÃrus) e a coleta de materiais em condomÃnios de luxo.
Neste ano, a Prefeitura de Rio Preto repassará R$ 578.240,00 à Cooperlagos e R$ 111.292,80 à Ares distribuÃdos em repasses mensais para manutenção do programa de geração de renda e educação para o trabalho por meio de coleta seletiva.