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A empresária Adriana Neves
Foto por: Divulgação
A empresária Adriana Neves

’O eleitor está buscando políticos que entreguem resultados, que tragam soluções’, diz a empresária Adriana Neves

Por: Maria Elena Covre
25/10/2020 às 10:47
Política

Defensora da política econômica do governo Bolsonaro, ela defende ainda que o Estado é laico, mas não é ateu. Mas considera inadequado e antiético o uso da religião e da Igreja como palanque eleitoral


A disposição em acumular e distribuir conhecimento na sua área é uma das características que explicam, muito provavelmente, o fato de a empresária Adriana Neves figurar em Rio Preto, hoje, como referência e liderança poderosa entre seus pares. 

Outra marca que a colona nesta posição vem da definição feita por um representante do setor sobre ela: é a "típica comerciante que vive do que vende, sem defender de políticos". Daí Adriana ser  vista como a porta-voz com liberdade de falar o que o grupo pensa. 

A notoriedade enquanto figura pública relevante na cidade veio com a presidência da Acirp (Associação Comercial e Industrial de Rio Preto),  que Adriana conduziu entre 2012 e 2016. Habilidosa politicamente e carismática, ela inaugurou na entidade - e o sucessor Paulo Sader consolidou -  um processo de renovação (e modernidade) sem grandes assombros, embates ou rupturas traumáticas com as alas mais tradicionais.  

Formada em administração de empresas e direito, pós-graduada em administração e marketing e com MBA Executivo pela Universidade Ambev e gestão empresarial pelo IBMEC/Insper, o currículo de Adriana mostra que ela não se acomodou no papel de herdeira. 

Atual diretora da Conebel, a empresária rio-pretense já presidiu também a Assorev (Associação Regional de Revendas Ambev) e foi diretora da Confenar, entidade nacional do setor. Como voluntária, integra os conselhos de várias entidades: Conselho Fiscal da Acirp, Conselho da Mulher Empresária da Facesp, Conselho do Núcleo de Rio Preto do Grupo Mulheres do Brasil, Conselho de Administração do Bispado de Rio Preto, Conselho da Alarme.

Nesta semana, a polivalente empresária encerrou um curso de gestão de dez módulos, no qual ministrou seis, para 25 entidades filantrópicas de Rio Preto. Em entrevista exclusiva ao DLNews, Adriana lança seu olhar para as eleições municipais, fala do momento político que o Brasil passa, avalia os impactos da crise sanitária na economia e expõe as expectativas do setor em relação ao governo Jair Bolsonaro. Confira...

DLNews: A senhora acredita que a onda de insatisfação generalizada, de direita e de extrema direita, que varreu veteranos da política local na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal em 2018, vai se repetir nas esferas municipais neste ano, especialmente em Rio Preto? 
Adriana Neves: Acredito que o eleitor está buscando políticos que entreguem resultados, que tragam soluções de emprego, renda, educação, saúde, segurança, ou seja, que sejam competentes na gestão pública. A permanência (ou não) de pessoas em cargos públicos reflete a satisfação (ou não) dos eleitores com o seu trabalho. Levando em consideração que a renovação faz parte da democracia com todos seus aspectos positivos, todos aqueles que fizeram um bom trabalho serão reconhecidos nas urnas pelo que fizeram, assim como entendo haver mudanças dentro do novo conceito de política de comprometimento com a ética e a verdade que o povo está fazendo valer nas urnas por todo Brasil. A democracia deve ser representativa e direta.

DLNews: De zero a dez, que nota a senhora dá aos governos Edinho (municipal), Doria (estadual) e Bolsonaro (federal) no combate à crise sanitária do novo coronavírus até aqui. Por quê?
Adriana Neves: Viver uma pandemia foi e está sendo um fato inédito, que trouxe muitas dúvidas e controvérsias. Entendo que todos agiram sob pressão, tentando acertar. E tudo deve ser tratado com muita cautela, sempre ouvindo os especialistas da saúde e da economia. Então, respondendo a pergunta de maneira simples, sem ser simplista, destaco dois pontos de vista, decisões que foram acertadas e equívocos ou decisões que poderiam ter sido melhores. O Presidente da República Jair Bolsonaro teve acertos importantes, tais como as Medidas Provisórias que desburocratizaram a economia, mantiveram o emprego e a renda, mas cometeu erros graves com seu comportamento e equívocos na comunicação no seu posicionamento negacionista em relação à doença. O Governador João Doria acertou quando fez investimentos na vacina e em organizar um Plano Estadual para acompanhamento e comunicação da evolução regional da doença. Mas contra todo seu programa liberal e de mercado, entendo ter sido um erro crasso quando, de maneira populista, antidemocrática, confiscou a produção de empresas privadas, fazendo um uso político da pandemia e sendo um péssimo exemplo, especialmente ele que sempre se intitulou um adepto da democracia, agindo totalmente contra o direito de propriedade. E ainda pretende aumentar impostos através da PL 529. O Prefeito Edinho Araújo acertou estimulando e induzindo investimentos no aumento de leitos para as UTIs, deu bom exemplo pessoal no cuidado com a doença e na forma ponderada de agir. E se equivocou ao se deixar levar pelos conselhos equivocados de assessores quanto às medidas restritivas na forma de horário no minilockdown, pois nestes casos o efeito foi o contrário ao que ele tencionava, que é o distanciamento, uma vez que a restrição de horário e oferta potencializa a aglomeração e o consumo. Neste caso, além de a demanda se manter, ainda gera uma ansiedade para estocagem, e a restrição da oportunidade potencializava a aglomeração por conta dos horários restritos. Ou seja, ele deveria ampliar os horários e a oferta para que as pessoas pudessem ao seu tempo ir de forma espaçada e com o distanciamento que a precaução exige. As notas eu fecharei após as ações de retomada!

DLNews: A senhora acha que a Acirp - entidade que já presidiu e onde figura como uma das principais lideranças -  foi ouvida de forma adequada na condução da crise da Covid-19?
Adriana Neves: A Acirp foi ouvida, assim como outras instituições. Foi atendida em alguns casos. Todos tentamos em conjunto fazer o nosso melhor, naturalmente poderíamos ter colaborado mais. E, como em toda democracia, tivemos pontos em comum e pontos que entendemos que poderíamos ter agido de forma mais assertiva, conforme respondi na pergunta anterior. Mas, de forma geral, o poder público buscou de forma ponderada a condução. E esperamos poder colaborar a partir do que aprendemos com as experiências passadas.

DLNews: Na opinião da senhora, quais seriam as três prioridades mais urgentes do próximo prefeito? Por que?
Adriana Neves: Emprego, educação e saúde. Para um pós-pandemia, o emprego se tornou prioridade, mas entendo que um é condicionante do outro.

DLNews: Qual a percepção da senhora sobre a retomada da economia?
Adriana Neves: A retomada da economia está se encaminhando, a sequência de acertos provenientes da equipe econômica de Paulo Guedes fez com que essa situação fosse adiantada, mas tenho ficado muito preocupada com sinais de inflação e desabastecimento de itens para produção, tais como milho, alumínio, aço, papelão para embalagens e outros. As empresas e o agronegócio no Brasil são literalmente terreno fértil, são a fonte geradora de emprego e renda da sociedade, logo é importante permitir que esses façam o seu trabalho diminuindo a burocracia e a carga tributária. E a economia será retomada. Muito faz quem não atrapalha.

DLNews: Uma cidade como Rio Preto precisa de políticos - deputados estaduais, federais e senadores - ou ela se vira sozinha?  Onde esses políticos podem ajudar a cidade?
Adriana Neves: Rio Preto é um polo econômico, social e de desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil. Aqui é lugar de gente que vence uma batalha por dia, de empresas de todos os tamanhos, empreendedores e profissionais liberais que geram emprego, renda, pagam impostos e que fazem a roda da economia girar. Forte em serviços, referência pela excelência na medicina, pelo comércio forte, indústrias de tecnologia e agronegócio. Estamos inseridos dentro de uma lógica político-econômica. Para que continuemos a crescer com sustentabilidade é necessário que haja representação da cidade em escala estadual e federal. Acredito no voto distrital, e enquanto essa modalidade está por vir com uma reforma política, é importante que a população escolha dentre nossas melhores lideranças forças políticas que nos representem. Precisamos de atuação para defender alguns pleitos importantes, só para citar alguns: redução da carga tributária, desburocratização e informatização em todas as esferas, melhoria da logística de carga regional, região metropolitana de São José do Rio Preto e outros.

DLNews: As restrições do setor público afugentam os empresários da vida política?
Adriana Neves: Em toda comunidade há pessoas sérias e bem-intencionadas. E outras tantas que não são, isso acontece no setor público e privado também. Então, mesmo assumindo que há gente séria na política, todo o histórico, desde a corrupção até a velha política feita de acordos pelo interesse próprio e não pelo bem comum, sempre afastou pessoas bem-intencionadas da política. Acredito que isso vem mudando, muitos perceberam e se encorajaram a enfrentar o desafio de mudar este cenário. Há também o aspecto tempo e dedicação necessários na vida política e também na empresarial. Vejo com entusiasmo empresários que conseguem conciliar ou entendem já ter cumprido sua missão com sua atividade e podem se lançar em missões sociais e política.

DLNews: São muito poucas PPP (parcerias público privadas) que saem dos discursos políticos. Por que existem tão poucas PPP?
Adriana Neves: Todo negócio só sai quando é bom para os dois lados. É necessário clareza de intenções, estabilidade das regras, para busca dos resultados para o setor público e privado. As PPP são uma realidade em todo o mundo, acredito que haverá um incremento onde o poder público poderá delegar para a iniciativa privada a gestão mais desburocratizada e ser atuante onde é necessária sua atuação!

DLNews:  No setor público, falta dinheiro ou falta gestão?
Adriana Neves: Em geral, no Brasil falta gestão, falta bom uso do dinheiro público, com controle, redução e priorização dos recursos. Precisamos de prestações de contas mais claras e transparentes. Com a "descomplicação” do sistema político de gastos seria muito mais fácil para que todos os cidadãos se tornassem mais ativos na "vigilância” dos políticos. Entendo ser necessário menos intervenção do Estado na economia, deixando sempre para uma política liberal a gestão menos burocratizada, e como consequência irá ser feita uma boa gestão dos recursos, ficando com o Estado o papel de fiscalização da execução das regras pactuadas e mediação onde se fizer necessário.

DLNews: A senhora se preocupa quando vê religião e política se confundindo como ocorre hoje no Brasil?
Adriana Neves: É importante lembrarmos que o Estado é laico, mas não é ateu. Não existe obrigação do distanciamento pessoal de cada político em relação às crenças religiosas, mas considero no mínimo inadequado e antiético usarem a religião e a Igreja como palanque e mecanismo de indução das pessoas, que num momento de fragilidade estão buscando força através da fé.

DLNews: O apoio do empresariado foi fundamental para o sucesso do presidente Jair Bolsonaro nas urnas. Quase dois anos depois, ele ainda conta com o mesmo crédito na opinião da senhora?
Adriana Neves: Apesar de boa parte do empresariado ter, sim, apoiado o presidente Bolsonaro, precisamos lembrar que o Brasil tem quase 150 milhões de eleitores e não 150 milhões de empresários. Ele teve o apoio de aproximadamente 57,8 milhões de votos, sendo a grande maioria na classe C e D. Isso aconteceu por conta de sua bandeira anticorrupção e liberal. Eu não acredito em super-heróis, e espero que o Brasil tenha uma agenda onde fortaleceremos as instituições de maneira que as leis sejam cumpridas ao invés de interpretadas ao sabor de cada julgador. Ainda temos 2 anos pela frente para saber se ele irá honrar os compromissos assumidos com todos aqueles que se dispuseram a acreditar em seus propósitos, por isso acredito que essa pergunta poderá ser melhor respondida em 2022.

DLNews: Parte do setor produtivo do Brasil se mostra conectado com a necessidade de práticas sustentáveis capazes de unir desenvolvimento econômico e defesa do meio ambiente. Como a senhora vê isso? Dá para ser capitalista sem ser "selvagem”?
Adriana Neves: Há muitos anos, falo em todas as oportunidades que tenho, que sustentabilidade empresarial se apoia em 4 pilares, que são: ética, lucro, responsabilidade social e ambiental. Uma depende da outra para se sustentar e se viabilizar, por isso eu sei que é necessário estarem todas interligadas. O primeiro pilar é o mais importante e direciona todos os outros, devemos ser intransigentes na defesa da ética e dos valores que garantem transparência das ações e da gestão das empresas, seja com funcionários, clientes e comunidade. Devemos zelar por todos os elos da cadeia produtiva, atualmente chamado de ecossistema e todos estamos inseridos. Os empresários dão show de responsabilidade social e ambiental e durante a pandemia isso ficou muito evidente pois foram os primeiros a se mobilizar doando álcool gel, máscaras, hospitais, etc. Tenho acompanhado, com um misto de orgulho e emoção, a evolução constante desse capitalismo liberal consciente através do aprimoramento dos valores das empresas, acompanhando as evoluções da sociedade. Exemplos: em 1950, respeito ao funcionário era operacionalizado por uma empresa registrando-os e pagando em dia, o que era considerado valor hoje é simples obrigação; em 2020, valores como respeito ao funcionário precisa ser operacionalizado através de transparência, equidade, diversidade, oportunidade de crescimento… Objetivamente, minha resposta é sim. É possível e necessário.







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