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Do glamour da fantasia ao popular abadá, Elcio ’encarna’ as mudanças no Carnaval

Por: Augusto Fiorin, especial para o DL News
23/02/2020 às 09:41
Cidades

Fundador do atelier Fantasi-e, ainda se emociona ao lembrar da gargalhada estridente do ex-companheiro Celso Caran, uma das personalidades mais conhecidas do meio cultural rio-pretense.


O corpo arrepia, o coração pulsa mais forte e as lágrimas da saudade desfilam pretensiosamente pela face foliã. Aos 55 anos, Elcio Luiz Soares, fundador do atelier Fantasi-e, ainda se emociona ao lembrar da gargalhada estridente do ex-companheiro Celso Caran, uma das personalidades mais conhecidas do meio cultural rio-pretense.

Ao lado do amigo e sócio, morto em 2004, Soares impulsionou os concursos de Rei Momo e Rainha na cidade, espetáculo que se repetia ano a ano no Carnaval. Mas, com o tempo, muita coisa mudou na vida do produtor artístico.

O estúdio abriga apenas algumas das milhares de fantasias que abrilhantavam a Folia de Momo pregressa, a Corte Real deixou de ser eleita e as escolas de samba sofrem a duras penas com o falta de incentivo do poder público.

Sentado ao lado de um baú com intensas memórias da festa popular, Elcio acredita fervoroso em dias melhores. "Não tenho dúvidas”. Para ele, o surgimento de novas escolas de samba e o renascimento de outras muito tradicionais trarão de volta a Rio Preto a semente da folia. "Existe tradição e desejo. Vamos resgatar os antigos carnavais e oferecer à população o show que ela sempre aplaudiu”, declara.

Ao lado do marido Rogério Broncato, 44, com quem divide lutas e glórias há 24 anos, o hoje funcionário terceirizado da Secretaria de Educação se reinventa com a customização de abadás, tudo pra se manter mais próximo à grande paixão: as cores carnavalescas.

Até 2019, mais que acompanhar a Realeza nos clubes e sambódromos da região, Soares era o responsável por tudo, desde o concurso, os figurinos e coreografias até alimentação e transporte dos representantes reais.

Foi também carnavalesco de duas agremiações, a Tigre Dourado e Acadêmicos de Rio Preto, com quem sagrou-se campeão com enredo que homenageava Paulo Moura, em 2011. E o amor ao Carnaval atravessou o Atlântico. 

Anualmente realizava turnês na Itália, principalmente nos hotéis da rede Villagio Holiday, com o intuito de levar alegria e brasilidade ao povo daquele país. "Selecionávamos os artistas e por lá permanecíamos durante todo o verão.

Organizávamos apresentações fantásticas, fazendo com que o já festeiro povo italiano ficasse ainda mais feliz”, lembra. Mas a última viagem ao lado do amigo inseparável foi dramática. Acompanhou de pertinho a agonia de Caran, que sofria com problemas cardíacos há mais de 10 anos.

Permaneceu ao seu lado desde o embarque em solo europeu até a chegada no Aeroporto Internacional de Guarulhos, de onde foi levado às pressas a um hospital.  Generoso com as pessoas e de muito caráter. Um irmão inesquecível”, ressalta, emocionado.

Antes de virar estrela reluzente, o carnavalesco rio-pretense teria feito um último pedido a Elcio: jamais interromper as atividades do Fantasi-e. "Foi um projeto inovador. Hoje, são 30 anos superando as tempestades e sobrevivendo”, declara.

Além de personalizar abadás, o estúdio aluga fantasias e participa de eventos em todos os cantos ao longo do ano. Nestes dias de Momo, especificamente, Elcio e Rogério vestem os integrantes da escola Samba Arena, de Olímpia. Devem, ainda, conferir o Carnaval de Bauru, o mais tradicional do Centro-oeste paulista. Sobre Rio Preto, credita os reveses carnavalescos a decisões equivocadas do Poder Público. 

A principal delas, em sua opinião, diz respeito à escolha das avenidas utilizadas nas apresentações passadas. Para ele, a festa é a mais democrática do País e, por isso, deveria estar mais próxima do povo. "No Centro, facilitando o acesso e mantendo as tradições”, sugere.

Respeita, mas faz duras críticas a muitos carnavais de sucesso na região. Pede para que os organizadores desses eventos entendam de uma vez por todas de que Carnaval é simplesmente Carnaval. "Toquem marchinhas e samba-enredo, alentem as fantasias, o confete, a serpentina, os blocos. Não é gosto, é legado”.

Antes de se despedir, Elcio Luiz oculta a grande caixa de lembranças, apanha uma fantasia multicolorida e cantarola baixinho: "sonhar não custa nada...”. Sorri sutilmente e parte dançando em silêncio.







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