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 Cartazes e faixas para a Marcha da maconha Rio Preto já foram produzidos.
Foto por: Divulgação
Cartazes e faixas para a Marcha da maconha Rio Preto já foram produzidos.

Marcha da Maconha Rio Preto divulga trajeto

Por: Elis Bohrer
02/08/2023 às 16:01
Cidades

Os ativistas pela legalização e descriminalização da cannabis sativa se concentrarão na Avenida Alberto Andaló (em frente a Prefeitura Municipal), às 14h20 e sairão em marcha às 16h20, sentido Anfiteatro Nelson Castro, onde serão recepcionados com atividades culturais


Marcada para o dia 5 de agosto, a Marcha da Maconha Rio Preto avança e divulga o trajeto. Os ativistas pela legalização e descriminalização da cannabis sativa se concentrarão na Avenida Alberto Andaló (em frente a Prefeitura Municipal), às 14h20 e sairão em marcha às 16h20, sentido Anfiteatro Nelson Castro, onde serão recepcionados com atividades culturais. 

 

Assuntos relacionados à maconha ainda são estigmas pela sociedade brasileira. A Marcha da Maconha defende o direito ao uso terapêutico da planta, tanto para finalidades medicinais como recreativas, já que não se faz mais diferenciação, para  a maioria dos defensores da legalização, todo e qualquer uso da maconha é terapêutico.

"A ideia de promover a Marcha da Maconha em Rio Preto partiu da necessidade de ampliar o dialogo a respeito da planta aqui na cidade e região. O que estamos propondo é a quebra de um assunto ainda tabu na cidade, mostrando diversos olhares, o social, terapêutico e medicinal. 

 

A marcha da Maconha foi construída por diversas mãos, estamos todos ansiosos para a chegada de sábado", disse Tiago Alves, organizador da manifestação.

 

Programação da Marcha da Maconha Rio Preto 

14h20 - Concentração

16h20 - Caminhada até o anfiteatro 

17h20 - Intervenções artísticas com artistas locais

 

Para quê serve a maconha

Planta que vem sendo domesticada há milhares de anos para beneficiar e atingir diversas necessidades humanas como:

● Estimular;
● Aplacar a dor;
● Anticonvulsivante;

Existem cerca de 3.000 variedades e 600 princípios ativos em diferentes proporções entre eles. Hoje se conhece em torno de 170 fitocanabinoides, mas os mais estudados são THC e CBD.

Uso tradicional da maconha no mundo 

 

● Fibra (tecido e papel)
● Sementes (azeite, alimento)
● Propriedades narcóticas
● Propriedades terapêuticas 

Usos contemporâneos da maconha 

 

● Fumar
● Comer
 ● Vaporizar
● Óleo sub-lingual
● Uso tópico: cremes, pomada

 

Uso terapêutico da maconha 

 

Os sistema do corpo humano são:

● Sistema Circulatório: 1578
● Sistema linfático: 1622
● Sistema hormonal: 1905
● Sistema Neurotransmissores: 1921
● Sistema Endocanabinóide: 1988 - Dr. Raphael Mechoulam( Israel)

O sistema que regula todos os outros sistemas é o Endocanabinóide. Ele é o sistema da homeostasia, processo de regulação pelo qual um organismo mantém constante o seu equilíbrio. Este sistema é que regula o estado de equilíbrio das diversas funções e composições químicas do corpo. O Sistema Endocanabinóide tem função regente, produz ação orquestrada, moduladora ou controladora de diversos outros sistemas do corpo, buscando o equilíbrio interno, o combate ao estresse, o alívio da dor e o bem estar.

Principais funções do sistema endocanabinóide 

 

Relaxar Proteger Dormir Alimentação Esquecer

 

Uso terapêutico da maconha no transtorno do Espectro Autista (TEA)

 

Várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas e mostram os bons resultados no tratamento. Observa-se melhora na interação social,, ansiedade e agitação psicomotora. Terapia segura com efeitos colaterais leves( tontura, insônia, cólica e ganho de peso), quando comparados aos efeitos colaterais dos psicotrópicos usados no Transtorno do Espectro Autista.

 

Uso terapêutico da maconha para alzheimer e parkinson 

 

No Brasil temos mais de 200 mil pessoas com doença de Parkinson e 1.200  milhão com Alzheimer. Os efeitos terapêuticos da Cannabis Sativa nestas doenças são:

● THC - reduz a agitação e agressividade;
● THC - melhora a depressão e fadiga;
● THC - Aumenta a fome;
● THC - Melhora a memória, ansiedade e sono;
● CBD - tem efeito anticonvulsivante;
● CBD e THC - diminuem a espasticidade e rigidez.
● THC - diminui o tremor.

Existem muitos estudos clínicos com respostas favoráveis ao tratamento, mas muitas vezes os profissionais desconhecem e quando os familiares conhecem, ficam constrangidos e não falam com os profissionais a respeito.  

Uso da maconha para a saúde mental 


O medo e a ansiedade, quando em excesso ou de modo crônico, podem levar ao desenvolvimento de transtornos mentais, como:

● Ansiedade generalizada(TAG)
● Transtorno de Ansiedade Social (TAS)
● Transtorno de Estresse Pós-traumático 

 

Efeitos indesejados dos tratamentos farmacológicos são:

● Risco de dependência
● Síndrome de abstinência
● Disfunções sexuais
● Insônia
● Ganho de peso 

 

Em estudos já realizados os canabinóides atuam na regulação emocional, melhorando o humor, reduzindo a ansiedade e proporcionando relaxamento. Para a população acima de 60 anos, existe uma contra indicação formal do uso dos benzodiazepínicos (clonazepam/Rivotril). Muitos idosos usam aumentando o risco de quedas, aumenta o prejuízo cognitivo. O tratamento com canabinóides é bastante promissor para isto. 

Cronologia e o contexto em que a maconha foi inserida

A maconha é uma erva muito antiga, que ultrapassou gerações, sobreviveu aos tabus e chega em 2023 sendo destaque, inclusive na 17ª Conferência Nacional de Saúde, realizada entre 2 e 5 de julho deste ano, em Brasília (DF) e terá sua legalização julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 2 de agosto. É um ano decisivo para o avanço ou retrocesso da pauta no Brasil. 

 

Para maior compreensão da história da maconha no Brasil e no mundo, traçamos uma linha do tempo, acompanhe! 

  • A maconha surgiu em pelo menos 2,5 mil anos a.C - É nativa da Ásia Central e foi uma das primeiras plantas utilizada para fins diferentes da alimentação, era usada na produção de tecidos, cânhamos e cordas



  • Cabral - Há indícios de que a maconha foi usada na fabricação das velas das caravelas que trouxeram os portugueses até o Brasil, em 1.500.Cerca de 800 toneladas de cânhamos foram trazidas junto com Pedro Álvares Cabral e cia.
    O fato é que,na Renascença, a maconha foi um dos principais produtos agrícolas da Europa. No século XV, teve grande influência na mudança de mentalidades, pois tanto os primeiros livros foram impressos em papel de cânhamo quanto os gênios da arte pintavam sobre telas de suas fibras. Canvas, palavra usada em várias línguas para designar "tela” é uma corruptela holandesa do latim ‘cannabis’: diz-se ‘oil on canvas’ para as pinturas feitas em ‘óleo sobre tela’;

  • A maconha foi utilizada pela burguesia inglesa até o século 19;

  • No século XIX a maconha era vendida livremente em farmácias (boticas) brasileiras. Se prometia curar tosse, asma, rouquidão, insônia e outras enfermidades;

  • O Brasil foi o primeiro país do mundo a proibir a maconha e não os EUA, como ouvimos frequentemente;

  • Se de um lado a antropóloga Vera Rubim defende a tese de que maconha foi trazida para o Brasil pelos portugueses, outros historiadores defendem que a erva veio de países africanos, junto com as pessoas negras que foram escravizadas no país, sendo assim, não há um consenso sobre isso;

  • Ainda no século XIX, no Brasil,  a maconha foi dividida em dois usos: medicinal e comercial (pelas elites) e para fumo (camadas populares, negros e índios)

  • Decretos de 1656 e 1700, assinados pelo rei  Dom João V , comprovam que houve incentivo do estado para o cultivo da maconha em fazendas do Rio Grande do Sul;

  • Com a proximidade da  "revogação da escravidão ", começou a repressão aos cultos e hábitos das pessoas negras que viviam no Brasil.  Foi criada a polícia de costumes (1866). Anos depois , em 1888, foi  "extinta a escravidão” no Brasil.

  • A polícia de costumes foi criada para reprimir festas com cachaça, músicas, danças afro-brasileiras e a maconha, pois era necessário criar praticas para combater a cultura negra quando a escravidão acabasse.

  • Pito de Pango, assim era chamada a maconha fumada em cachimbo pelas pessoas que viviam em Palmares,  no Pernambuco.

  • No começo do século XX, a maconha começou a ser estudada por médicos, alguns deles chamados de racistas científicos. O principal deles: Rodrigues Dória. Dória era adepto das teorias eugenistas de superioridade entre as raças de Cesare Lombroso, também as aplicava às mulheres;

  • A saber, o italiano Lombroso disseminava a tese do "criminoso nato", ela basicamente dizia que pela análise de determinadas características somáticas seria possível antever aqueles indivíduos que se voltariam para o crime. Em sua principal obra, "O Homem Delinquente”, reafirma os princípios positivistas ao compor sua teoria com base nos aspectos evolucionistas do ser humano. Segundo Rabuffetti (1999), Cesare Lombroso afirmara que os criminosos possuíam características físicas, biológicas e psíquicas em comum, podendo essas serem designadas a padrões de delinquentes.

    Lombroso concluiu que um indivíduo poderia ser considerado um criminoso delinquente nato caso apresentasse diversas características físicas que, segundo ele, seriam a assimetria craniana, a fronte fugida, as orelhas em asa, zigomas salientes, crânios menores, arcada superciliar proeminente, prognatismo maxilar, face ampla e larga, anomalias dos órgãos sexuais, cabelos abundantes, estatura alta, braços excessivamente longos, mãos grandes, insensibilidade física, a analgesia, o mancinismo (uso preferencial da mão esquerda), o ambidestrismo (uso indiferente das mãos) e a disvulnerabilidade, que é a recuperação rápida de traumas físicos sofridos pelo indivíduo. Em relação às mulheres com potencial criminoso, foram atribuídas características relacionadas a traços de masculinidade, como cordas vocais grossas, excesso de pelos corporais e verrugas.

    Apesar das teorias modernas a respeito do crime formadas pela Escola Alemã da criminologia desconsiderarem os estudos eugênicos de Lombroso, atribuindo a esses diversas críticas ao redor do continente europeu, foi na América Latina que as ideias do "Homem Deliquente” receberam grande número de adeptos, quando se iniciou no hemisfério sul os estudos relacionados a criminologia. Sem levar em conta as críticas atribuídas às ideias de um criminoso nato na Europa, estudiosos brasileiros como Viveiros de Castro, João Vieira de Araújo e Dória divulgaram amplamente os estudos de Lombroso, afirmando que esses seriam de ampla importância para o entendimento dos delitos e dos delituosos.

 

  • No Brasil, Dória associava a planta  a uma espécie de vingança dos negros "selvagens” contra os brancos  "civilizados” . Ele chamava a maconha de "vingança dos vencidos” e defendia que as festas e comemorações africanas deturpavam a sociedade branca. Informações do livro "Drogas: A história do proibicionismo”, de Henrique Carneiro .

  • Não havia a intenção internacional de criminalizar a planta, apenas o ópio, morfina, cocaína e derivados eram ilegais. Porém Dória decidiu levar os seus estudos para Washington (EUA), no Congresso Científico Pan-Americano. Na ocasião ele comparou os efeitos da maconha ao ópio.  O estudo se chamava "Os Fumadores de Maconha – Efeitos e Males do Vício”.  Segundo Dória a planta causava alucinações e vício degenerativo que resultava em delírios agressivos, "onde indivíduos praticavam violências  de crimes indo da loucura transitória para a definitiva em pouco tempo”.


  • Além dos EUA gostarem da idéia de controle de massa, um aluno de Dória, o delegado brasileiro Jarbas Pernambuco, defendeu a proibição da maconha na Segunda Conferência Internacional do Ópio, em Genebra (Suíça). Segundo Jarbas a cannabis era um "problema de violência” para o Brasil. Dois anos se passaram e em 1932 a maconha passou a ser proibida no mundo inteiro. Sim, por causa de um brasileiro!


  • A partir disso, o proibicionaismo passou a ser apenas uma das engrenagens para o controle social  e não questão de saúde pública. As mídias brasileiras começaram a usar a palavra "maconheiros”  de forma pejorativa, veiculava frequentemente que aqueles que fumavam eram pessoas imorais, "vagabundas e arruaceiras”;


  • Em 1.936 a comissão nacional de entorpecentes foi criada. Nos anos 40, mesmo ano de reconhecimento da umbanda como religião  oficial, os terreiros que insistiam em usar maconha foram perseguidos, alguns fechados;


  • Durante a ditadura militar, estudantes da classe média começaram a fumar maconha, em 1976 políticos militares decidiram endurecer as Leis de Drogas, não havia mais diferença entre substâncias ilícitas, todas foram colocadas no mesmo bojo . Acabou a diferenciação entre usuários e traficantes , todo mundo que portava maconha ia preso, o que culminou no encarceramento em massa dos brasileiros e brasileiras, sobretudo, de pele negra;


  • O número de pessoas negras presas cresceu entre 2005 e 23019, saltando de 58,4% para 66,7% dos presos no país;


  • Entre janeiro de junho de 2022 o Brasil registrou que a maior população carcerária através das Leis de drogas é a feminina, correspondendo a 58,85%, enquanto que a masculina é 27,68%, ou seja, mais mulheres são presas por causa do proibicionismo em relação aos homens;


  • A atual situação do Brasil é que nas periferias brasileiras há mortes de crianças, adultos e idosos por bala perdida, por causa da suposta "guerra às drogas”, muitas pessoas são retiradas de suas casas, tomam batida policial à toa, são confundidas com traficantes, agredidas e até mortas. 







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