Marcada para o dia 5 de agosto, a Marcha da Maconha Rio Preto avança e
divulga o trajeto. Os ativistas pela legalização e descriminalização da
cannabis sativa se concentrarão na Avenida Alberto Andaló (em frente a Prefeitura
Municipal), às 14h20 e sairão em marcha às 16h20, sentido Anfiteatro Nelson
Castro, onde serão recepcionados com atividades culturais.
Assuntos relacionados à maconha ainda são estigmas pela sociedade
brasileira. A Marcha da Maconha defende o direito ao uso terapêutico da planta,
tanto para finalidades medicinais como recreativas, já que não se faz mais
diferenciação, para a maioria dos defensores da legalização, todo e
qualquer uso da maconha é terapêutico.
"A ideia de promover a Marcha da Maconha em Rio Preto partiu da
necessidade de ampliar o dialogo a respeito da planta aqui na cidade e região.
O que estamos propondo é a quebra de um assunto ainda tabu na cidade, mostrando
diversos olhares, o social, terapêutico e medicinal.
A marcha da Maconha foi construída por diversas mãos, estamos todos
ansiosos para a chegada de sábado", disse Tiago Alves, organizador da
manifestação.
Programação da Marcha da Maconha Rio Preto
14h20 - Concentração
16h20 - Caminhada até o anfiteatro
17h20 - Intervenções artísticas com artistas locais
Para quê serve a maconha
Planta que vem sendo domesticada há milhares de anos para beneficiar e
atingir diversas necessidades humanas como:
● Estimular;
● Aplacar a dor;
● Anticonvulsivante;
Existem cerca de 3.000 variedades e 600 princípios ativos em diferentes
proporções entre eles. Hoje se conhece em torno de 170 fitocanabinoides, mas os
mais estudados são THC e CBD.
Uso
tradicional da maconha no mundo
● Fibra (tecido e papel)
● Sementes (azeite, alimento)
● Propriedades narcóticas
● Propriedades terapêuticas
Usos contemporâneos
da maconha
● Fumar
● Comer
● Vaporizar
● Óleo sub-lingual
● Uso tópico: cremes, pomada
Uso
terapêutico da maconha
Os sistema do corpo humano são:
● Sistema Circulatório: 1578
● Sistema linfático: 1622
● Sistema hormonal: 1905
● Sistema Neurotransmissores: 1921
● Sistema Endocanabinóide: 1988 - Dr. Raphael Mechoulam( Israel)
O sistema que regula todos os outros sistemas é o Endocanabinóide. Ele é o
sistema da homeostasia, processo de regulação pelo qual um organismo mantém constante
o seu equilíbrio. Este sistema é que regula o estado de equilíbrio das diversas
funções e composições químicas do corpo. O Sistema Endocanabinóide tem função
regente, produz ação orquestrada, moduladora ou controladora de diversos outros
sistemas do corpo, buscando o equilíbrio interno, o combate ao estresse, o
alívio da dor e o bem estar.
Principais
funções do sistema endocanabinóide
➔ Relaxar ➔ Proteger ➔ Dormir
➔
Alimentação ➔ Esquecer
Uso
terapêutico da maconha no transtorno do Espectro Autista (TEA)
Várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas e mostram os bons resultados no
tratamento. Observa-se melhora na interação social,, ansiedade e agitação
psicomotora. Terapia segura com efeitos colaterais leves( tontura, insônia,
cólica e ganho de peso), quando comparados aos efeitos colaterais dos
psicotrópicos usados no Transtorno do Espectro Autista.
Uso
terapêutico da maconha para alzheimer e parkinson
No Brasil temos mais de 200 mil pessoas com doença de Parkinson e
1.200 milhão com Alzheimer. Os efeitos terapêuticos da Cannabis Sativa
nestas doenças são:
● THC - reduz a agitação e agressividade;
● THC - melhora a depressão e fadiga;
● THC - Aumenta a fome;
● THC - Melhora a memória, ansiedade e sono;
● CBD - tem efeito anticonvulsivante;
● CBD e THC - diminuem a espasticidade e rigidez.
● THC - diminui o tremor.
Existem muitos estudos clínicos com respostas favoráveis ao tratamento, mas
muitas vezes os profissionais desconhecem e quando os familiares conhecem,
ficam constrangidos e não falam com os profissionais a respeito.
Uso da
maconha para a saúde mental
O medo e a ansiedade, quando em excesso ou de modo crônico, podem levar ao
desenvolvimento de transtornos mentais, como:
● Ansiedade generalizada(TAG)
● Transtorno de Ansiedade Social (TAS)
● Transtorno de Estresse Pós-traumático
Efeitos indesejados dos tratamentos farmacológicos são:
● Risco de dependência
● Síndrome de abstinência
● Disfunções sexuais
● Insônia
● Ganho de peso
Em estudos já realizados os canabinóides atuam na regulação emocional,
melhorando o humor, reduzindo a ansiedade e proporcionando relaxamento. Para a
população acima de 60 anos, existe uma contra indicação formal do uso dos
benzodiazepínicos (clonazepam/Rivotril). Muitos idosos usam aumentando o risco
de quedas, aumenta o prejuízo cognitivo. O tratamento com canabinóides é
bastante promissor para isto.
Cronologia
e o contexto em que a maconha foi inserida
A maconha é uma erva muito antiga, que ultrapassou gerações, sobreviveu aos
tabus e chega em 2023 sendo destaque, inclusive na 17ª Conferência Nacional de
Saúde, realizada entre 2 e 5 de julho deste ano, em Brasília (DF) e terá sua
legalização julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 2 de agosto. É
um ano decisivo para o avanço ou retrocesso da pauta no Brasil.
Para maior compreensão da história da maconha no Brasil e no mundo,
traçamos uma linha do tempo, acompanhe!
- A
maconha surgiu em pelo menos 2,5 mil anos a.C - É nativa da Ásia Central e
foi uma das primeiras plantas utilizada para fins diferentes da
alimentação, era usada na produção de tecidos, cânhamos e cordas
- Cabral
- Há indícios de que a maconha foi usada na fabricação das velas das
caravelas que trouxeram os portugueses até o Brasil, em 1.500.Cerca de 800
toneladas de cânhamos foram trazidas junto com Pedro Álvares Cabral e cia.
O fato é que,na Renascença, a maconha foi um dos principais produtos
agrícolas da Europa. No século XV, teve grande influência na mudança de
mentalidades, pois tanto os primeiros livros foram impressos em papel de
cânhamo quanto os gênios da arte pintavam sobre telas de suas fibras.
Canvas, palavra usada em várias línguas para designar "tela” é uma
corruptela holandesa do latim ‘cannabis’: diz-se ‘oil on canvas’ para as
pinturas feitas em ‘óleo sobre tela’;
- A
maconha foi utilizada pela burguesia inglesa até o século 19;
- No
século XIX a maconha era vendida livremente em farmácias (boticas)
brasileiras. Se prometia curar tosse, asma, rouquidão, insônia e outras
enfermidades;
- O
Brasil foi o primeiro país do mundo a proibir a maconha e não os EUA, como
ouvimos frequentemente;
- Se
de um lado a antropóloga Vera Rubim defende a tese de que maconha foi
trazida para o Brasil pelos portugueses, outros historiadores defendem que
a erva veio de países africanos, junto com as pessoas negras que foram
escravizadas no país, sendo assim, não há um consenso sobre isso;
- Ainda
no século XIX, no Brasil, a maconha foi dividida em dois usos:
medicinal e comercial (pelas elites) e para fumo (camadas populares,
negros e índios)
- Decretos
de 1656 e 1700, assinados pelo rei Dom João V , comprovam que houve
incentivo do estado para o cultivo da maconha em fazendas do Rio Grande do
Sul;
- Com
a proximidade da "revogação da escravidão ", começou a repressão aos
cultos e hábitos das pessoas negras que viviam no Brasil. Foi criada
a polícia de costumes (1866). Anos depois , em 1888, foi "extinta a
escravidão” no Brasil.
- A
polícia de costumes foi criada para reprimir festas com cachaça, músicas,
danças afro-brasileiras e a maconha, pois era necessário criar praticas
para combater a cultura negra quando a escravidão acabasse.
- Pito
de Pango, assim era chamada a maconha fumada em cachimbo pelas pessoas que
viviam em Palmares, no Pernambuco.
- No
começo do século XX, a maconha começou a ser estudada por médicos, alguns
deles chamados de racistas científicos. O principal deles: Rodrigues
Dória. Dória era adepto das teorias eugenistas de superioridade entre as
raças de Cesare Lombroso, também as aplicava às mulheres;
- A
saber, o italiano Lombroso disseminava a tese do "criminoso
nato", ela basicamente dizia que pela análise de determinadas
características somáticas seria possível antever aqueles indivíduos que se
voltariam para o crime. Em sua principal obra, "O Homem Delinquente”,
reafirma os princípios positivistas ao compor sua teoria com base nos
aspectos evolucionistas do ser humano. Segundo Rabuffetti (1999), Cesare
Lombroso afirmara que os criminosos possuíam características físicas,
biológicas e psíquicas em comum, podendo essas serem designadas a padrões
de delinquentes.
Lombroso concluiu que um indivíduo poderia ser considerado um criminoso
delinquente nato caso apresentasse diversas características físicas que,
segundo ele, seriam a assimetria craniana, a fronte fugida, as orelhas em
asa, zigomas salientes, crânios menores, arcada superciliar proeminente,
prognatismo maxilar, face ampla e larga, anomalias dos órgãos sexuais,
cabelos abundantes, estatura alta, braços excessivamente longos, mãos
grandes, insensibilidade física, a analgesia, o mancinismo (uso
preferencial da mão esquerda), o ambidestrismo (uso indiferente das mãos)
e a disvulnerabilidade, que é a recuperação rápida de traumas físicos
sofridos pelo indivíduo. Em relação às mulheres com potencial criminoso,
foram atribuídas características relacionadas a traços de masculinidade,
como cordas vocais grossas, excesso de pelos corporais e verrugas.
Apesar das teorias modernas a respeito do crime formadas pela Escola Alemã
da criminologia desconsiderarem os estudos eugênicos de Lombroso,
atribuindo a esses diversas críticas ao redor do continente europeu, foi
na América Latina que as ideias do "Homem Deliquente” receberam grande
número de adeptos, quando se iniciou no hemisfério sul os estudos
relacionados a criminologia. Sem levar em conta as críticas atribuídas às
ideias de um criminoso nato na Europa, estudiosos brasileiros como
Viveiros de Castro, João Vieira de Araújo e Dória divulgaram amplamente os
estudos de Lombroso, afirmando que esses seriam de ampla importância para
o entendimento dos delitos e dos delituosos.
- No
Brasil, Dória associava a planta a uma espécie de vingança dos
negros "selvagens” contra os brancos "civilizados” . Ele chamava a
maconha de "vingança dos vencidos” e defendia que as festas e comemorações
africanas deturpavam a sociedade branca. Informações do livro "Drogas: A
história do proibicionismo”, de Henrique Carneiro .
- Não
havia a intenção internacional de criminalizar a planta, apenas o ópio,
morfina, cocaína e derivados eram ilegais. Porém Dória decidiu levar os
seus estudos para Washington (EUA), no Congresso Científico Pan-Americano.
Na ocasião ele comparou os efeitos da maconha ao ópio. O estudo se
chamava "Os Fumadores de Maconha – Efeitos e Males do Vício”.
Segundo Dória a planta causava alucinações e vício degenerativo que resultava
em delírios agressivos, "onde indivíduos praticavam violências de
crimes indo da loucura transitória para a definitiva em pouco tempo”.
- Além
dos EUA gostarem da idéia de controle de massa, um aluno de Dória, o
delegado brasileiro Jarbas Pernambuco, defendeu a proibição da maconha na
Segunda Conferência Internacional do Ópio, em Genebra (Suíça). Segundo
Jarbas a cannabis era um "problema de violência” para o Brasil. Dois anos
se passaram e em 1932 a maconha passou a ser proibida no mundo inteiro.
Sim, por causa de um brasileiro!
- A
partir disso, o proibicionaismo passou a ser apenas uma das engrenagens
para o controle social e não questão de saúde pública. As mídias
brasileiras começaram a usar a palavra "maconheiros” de forma
pejorativa, veiculava frequentemente que aqueles que fumavam eram pessoas
imorais, "vagabundas e arruaceiras”;
- Em
1.936 a comissão nacional de entorpecentes foi criada. Nos anos 40, mesmo
ano de reconhecimento da umbanda como religião oficial, os terreiros
que insistiam em usar maconha foram perseguidos, alguns fechados;
- Durante
a ditadura militar, estudantes da classe média começaram a fumar maconha,
em 1976 políticos militares decidiram endurecer as Leis de Drogas, não
havia mais diferença entre substâncias ilícitas, todas foram colocadas no
mesmo bojo . Acabou a diferenciação entre usuários e traficantes , todo
mundo que portava maconha ia preso, o que culminou no encarceramento em
massa dos brasileiros e brasileiras, sobretudo, de pele negra;
- O
número de pessoas negras presas cresceu entre 2005 e 23019, saltando de
58,4% para 66,7% dos presos no país;
- Entre
janeiro de junho de 2022 o Brasil registrou que a maior população
carcerária através das Leis de drogas é a feminina, correspondendo a
58,85%, enquanto que a masculina é 27,68%, ou seja, mais mulheres são
presas por causa do proibicionismo em relação aos homens;
- A
atual situação do Brasil é que nas periferias brasileiras há mortes de
crianças, adultos e idosos por bala perdida, por causa da suposta "guerra
às drogas”, muitas pessoas são retiradas de suas casas, tomam batida
policial à toa, são confundidas com traficantes, agredidas e até
mortas.