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 O artesão Natalino José da Silva, 65 anos, mais conhecido por Nikinho
Foto por: Augusto Fiorin
O artesão Natalino José da Silva, 65 anos, mais conhecido por Nikinho

’Não está fácil viver da arte’, diz Nikinho, o mais antigo ambulante do Calçadão de Rio Preto

Por: Augusto Fiorin, especial para o DL News
08/12/2019 às 11:47
Bastidores

Há 42 anos ele ocupa o mesmo lugar na General Glicério


Um alicate, um pedaço de arame. Tesoura, um punhado de linha e uma placa surrada avisando: gravamos seu nome na hora. No mesmo ponto há mais de 42 anos, o artesão Natalino José da Silva, 65, o Nikinho, expressa seu talento, manifesta suas raízes e conta a sua história aos amigos conquistados ao longo do tempo no Calçadão da General, em São José do Rio Preto. 

Quem passa pela via lotada, com gente indo e vindo a todo instante, dificilmente deixa de notá-lo em frente a uma tradicional rede varejista brasileira. Autodidata,  incorporou o ofício ainda adolescente, em Catolés, onde nasceu. Confeccionava panela de barro e as vendia no comércio local. Mas a adversidade sem limites do sertão baiano levou Silva a tentar a sorte grande na capital paulista. Mais um enganado pelo "famoso” rio.  
   
Da Bahia a São Paulo, oito dias sobre a carroceria de um caminhão velho, protegido apenas por uma lona que tentava defendê-lo de ventos e intempéries. Na terra da garoa e sem dinheiro, viveu em um porão na companhia de catadores de reutilizáveis próximo à Rede Globo. Encontrou em uma caixa de engraxar o único meio de sobrevivência. "Me ferrei mesmo”, lembra.

Desiludido, decidiu parar na Praça da República. Foi quando conheceu muitos artesãos, reencontrando, assim, a profissão esquecida no estado de todos os santos. As mãos hábeis que confeccionavam panelas passavam a produzir lindos colares e anéis. 

Nikinho garante nunca ter se imaginado um legítimo artífice. No entanto, tornou-se um - e dos bons - sem grande esforço. "Acredito que todos temos dons adormecidos”, justifica-se.

Lutando apenas pela sobrevivência durante sete anos na maior cidade do País, o artesão decidiu, então, levar à risca o comportamento hippie tão presente à época e, simplesmente, partiu. De cabelos longos, jeans e batas coloridas, pegou a estrada até chegar a Fernandópolis, reconhecida pela sua exposição agropecuária. 

Em seguida conheceu Rio Preto, frequentou outros grandes centros, fez muitos novos amigos e entre chegadas e partidas fez morada na terra que o acolheu desde a primeira passagem. "A cidade me abraçou”, garante. Instalou-se no Calçadão em que ainda desenvolve sua arte, casou-se com Laila Maria da Silva, 60, e criou as duas filhas. "O tempo passou num piscar de olhos”, afirma.

Sobre o que mais lhe agrada no município, responde sem titubear: o respeito das pessoas. Mas a crise financeira que prejudica o bolso dos brasileiros deixa os dias de Nikinho ainda mais pesados. Segundo ele, mesmo com a generosidade rio-pretense, não está fácil sobreviver da arte. "As vendas caíram consideravelmente, mas não podemos desanimar”, declara. 

Das 8h às 18h, de segunda a sábado, faça chuva ou faça sol, lá está ele, lutando e sorrindo. "A rua é uma faculdade. Aprendemos a viver com o que temos”, explica. Entre as muitas lembranças da vida, abre um sorriso ao falar dos antigos festivais de rock and roll. "Rodamos de canto a canto. Mas sempre tivemos uma direção”, declara. 

Durante os 42 anos no Centro, o mais antigo dos ambulantes garante ter visto de tudo. Alegra-se com a solidariedade daqueles que estendem as mãos aos mais necessitados. E chora ao lembrar que muitos ainda buscam uma oportunidade sem encontrá-la. "Uma desigualdade sem fim”, lamenta. 

Entre um cliente e outro, palavras e silêncio, Nikinho segue seus dias resistindo bravamente. Antes de se despedir, apanha uma pulseira e com marteladas certeiras grava em uma pequena placa de metal a palavra que diz ter confiscado pra si: resiliência. Sim, é uma vida na ponta dos dedos. Paz e amor, "my brother”!







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