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Dona Isaura exibe peças de crochê produzidas por ela
Foto por: DLNews
Dona Isaura exibe peças de crochê produzidas por ela

"A vida é maravilhosa, só depende de como a gente vive", diz Zaíra, que chega a um século de vida

Por: Bruna Yamasaki
07/12/2019 às 13:02
Cidades

Preparar o café, tomar banho, se arrumar sozinha, fazer crochê e ganhar algumas partidas de tranca são atividades triviais para a maioria absoluta das pessoas. Mas não para quem está prestes a ganhar o terceiro dígito na idade. É o caso de Isaura Dias Gardiano, ou Zaíra, que completa 100 anos nesta segunda (9). Para ela, esse é seu jeito de manter o corpo e mente vivos.


Centenário

Nascida em 9 de dezembro de 1919, mas registrada apenas no dia 23, dona Zaíra, como é conhecida pela família e amigos, viveu momentos históricos e grandes transformações no mundo todo ao longo do último século.

Natural de São Simão, cidade no interior de São Paulo próxima a Ribeirão Preto, e criada em Mirassol, ela chegou em Rio Preto há 80 anos. Foi aqui que dona Zaíra escolheu para criar os seis filhos frutos de um casamento que durou cerca de 30 anos.

Hoje ela é a protagonista de uma grande família. Os seis filhos lhe trouxeram 13 netos que deram a ela 17 vezes o título de bisavó. Todos carregam um imenso carinho pela mãe, vó e bisavó que dona Isaura se tornou, desde o bisneto mais novo que reconhece a voz da bisavó por telefone, até a neta que mora no exterior e diariamente liga para a avó no caminho do trabalho.


Ao longo do século

Somente 31 anos depois do nascimento de Zaíra é que a televisão chegou ao Brasil. Além desse, muitos outros acontecimentos que para as pessoas da sua época pareciam impossíveis, hoje puderam ser comprovados por ela.

"No meu tempo de criança se falava que o homem ia voar, que coisa absurda, imagina! Onde já se viu... Se falava que umas pessoas iam andar por baixo e outras por cima, outro absurdo. Que a gente de uma cidade qualquer enxergaria a outra do outro lado do mundo, pelo amor de Deus, mais absurdo ainda”, contou.

No ano em que nasceu foi comprovada a teoria da relatividade de Eistein. De lá pra cá, guerras começaram e se encerraram, Brasília se tornou capital do Brasil, o voto feminino foi instaurado no país e muitos movimentos políticos aconteceram desde então. Nem a moeda era mais a mesma. O mundo inteiro mudou completamente.

"Coisa de outro mundo”, foi o que respondeu ao ser questionada sobre a viagem do homem à Lua. Apesar dos grandes "absurdos” terem, de fato, acontecido, dona Zaíra não se deixa amedrontar pela grandiosidade dos fenômenos e as mudanças que presenciou ao longo da vida.

De dona de casa a trabalhadora da roça, dona Isaura também se recorda da sua fábrica de balas, no tempo em que as máquinas ainda não tinham um cargo e a embalagem era um trabalho manual e concentrado que ela realizava.


"Não é todo dia, é o dia todo”

Até hoje, prestes a completar os 100 anos de vida, ela mantém uma rotina ativa e cheia de atribuições. Ao longo do dia usa o talento com as linhas e agulhas para produzir lindas peças de crochê. "A família inteira tem coisa bordada por ela, tudo personalizado, é um presente tradicional na família”, contou Vera Gardiano, uma das filhas.

"Você vai cruzar o braço e esperar a morte? Se a morte é descanso, eu prefiro viver cansada... o trabalho é uma benção”, diz Zaíra. Ela se orgulha em dizer que as atividades corriqueiras ela é capaz de realizar sozinha e não recusa de maneira alguma uma partida de tranca que, inclusive,não tem possibilidade de derrota.

Aos 88 anos dona Isaura foi atropelada por um caminhão e ficou em uma situação muito complicada. Devido ao acidente, as chances de ela ter uma das pernas amputadas era alta. Durante quatro meses ficou internada e passou por 14 cirurgias. Se recuperou e seguiu a vida sem nunca nem se questionar "Por que eu?”.

Para Vera, esse é um fator que ela acredita ser fundamental na longevidade da mãe. "Ela não se queixa e é muito grata”, falou Vera, que acredita que isso possa ser até um problema, pois a mãe não se queixa e aceita todas as situações de bom grado, como ela mesma diz.


Mundo moderno

Dona Isaura confessa não ser íntima da tecnologia, mas aproveita muito bem todos os benefícios que ela traz. Com familiares em vários locais do Brasil e do mundo, ela se comunica diariamente e se mantém sempre atualizada.

A moda é algo que não agrada, mas ela faz questão de expor todo o respeito e compreensão sobre as diferenças. Piercings, tatuagens, barbas, calças rasgadas são coisas que para ela não têm sentido algum e ela faz questão de expor o ponto de vista sem com seu bom humor e máximo respeito que a mente aberta a possibilita. "Eu aceito tudo, não gosto, mas eu aceito”, preferindo sempre não interferir na vida de ninguém.

Conversa sobre tudo, discute sobre tudo, tem a sua opinião definida e esclarecida, mas está sempre aberta para novas óticas, principalmente sobre o mundo atual.

Zaíra foi uma das mulheres pioneiras a usar calças. Por conta dos trabalhos que realizava, precisando subir e descer de caminhões e caminhonetes do marido, era a melhor opção. Não agradava muito o sogro, mas isso já fazia dela uma mulher à frente do seu tempo.


O Segredo

Sobre uma possível fórmula secreta para a vida longa, ela diz que não tem relação com isso. "É Deus que manda, eu vou saber porque que eu vivo ou porque que eu tenho a mente boa? O Pai que manda, não somos nós que vamos saber o porquê. Temos só que agradecer muito”, dispara.

Mesmo sem a fórmula completa, com certeza o respeito e gratidão que dona Isaura carrega são fundamentais para uma vida longa e leve. "Ela vibra com a vida”, disse a filha, que acredita ser o positivismo da mãe a razão da vida saudável que leva há tantos anos.

"Me dou bem com recém nascidos, com bem idosos como eu, me dou bem com todos. Nem andando de joelhos consigo agradecer o que eu recebo”, falou Zaíra.

Sempre cativando as pessoas próximas e cuidando de todos com muito carinho, ela não acredita que são as próprias pessoas que criam suas histórias, podendo, assim, ter controle sobre elas e escolhendo viver uma vida feliz. "A vida é maravilhosa, só depende de como a gente vive”.













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