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 Bacharel em Ciências Biológicas, com doutorado e pós-doutorado na área de comportamento animal. É Professora Associada da Unesp de São José do Rio Preto. Participa como representante da Universidade no Conselho Municipal do Direito da Mulher de São José do Rio Preto e é integrante do coletivo "Mulheres na Política”.
Foto por: Eliane Gonçalves de Freitas
Bacharel em Ciências Biológicas, com doutorado e pós-doutorado na área de comportamento animal. É Professora Associada da Unesp de São José do Rio Preto. Participa como representante da Universidade no Conselho Municipal do Direito da Mulher de São José do Rio Preto e é integrante do coletivo "Mulheres na Política”.

O banheiro, o avião e a hipocrisia

Por: Eliane Gonçalves de Freitas
25/08/2022 às 10:54
Opinião

Um vídeo postado por uma cidadã de Bauru no ano passado chamou a atenção para a presença de banheiros com cabines individuais multigênero em uma loja do McDonald’s


No vídeo, a mulher reclama indignada e dizia que era coisa de comunista. A loja foi, então, autuada pela prefeitura e teve que mudar as cabines para exclusivamente feminino ou masculino. A partir desse evento, alguns vereadores de Rio Preto elaboraram um projeto de lei para proibir a instalação de banheiros e vestiários multigênero em estabelecimentos públicos e privados da cidade e, assim, evitar situação semelhante à de Bauru. O projeto foi aprovado quanto ao mérito e agora segue para análise do Prefeito. Se aprovado, impedirá a instalação de banheiros multigênero em escolas, bares, shoppings, hotéis, supermercados e em quase todos os tipos de ambientes públicos e privados do município, com previsão de multas e suspensão temporária de funcionamento para quem descumprir a determinação. De acordo com os jornais locais, o objetivo é inibir as tentativas de implantação de ideologia de gênero nas escolas e atender à maioria dos rio-pretenses que "são contra ideologia de gênero, linguagem neutra e banheiros neutros.”

Mas, afinal qual é o problema com esse banheiro? Como o próprio nome diz, esse é um sanitário que pode ser utilizado por qualquer sexo e gênero, incluindo as pessoas trans. Nas redes sociais, algumas pessoas comentaram que jamais entrarão em estabelecimentos com banheiros desse tipo. Então, essas pessoas (incluindo a maioria dos vereadores) nunca viajaram nem irão viajar de avião, onde os banheiros sempre foram multigênero. A mesma cabine é compartilhada por homens, mulheres, crianças e todos os outros gêneros que estiverem no local. É interessante notar que, em cada aeronave, há pelo menos duas cabines nos espaços sanitários, o que permitiria banheiros exclusivamente masculinos ou femininos. Porém, nunca soube de reclamações contra esses banheiros. Provavelmente, o que ocorre no avião não é coisa de comunista, porque é coisa de quem tem dinheiro. Minha gente. Quanta hipocrisia!

Enquanto isso, pessoas trans seguem sofrendo as consequências desse preconceito explícito. Se uma mulher trans entrar em banheiro masculino terá muita chance de apanhar. Um homem trans em banheiro masculino tem que urinar como homem, ou tem muita chance de apanhar. Nesse impasse, fica difícil frequentar bares, shoppings, supermercados etc. Há pessoas trans que passam todo o período escolar sem ir ao banheiro, por medo ou constrangimento. Algumas acabam abandonando os estudos, ou pior, tiram a própria vida. Não é o banheiro que causa o suicídio, mas situações cotidianas de rejeição e desrespeito. E não adianta ter banheiro específico para quem é trans, pois isso só reforça o preconceito. Assim, a rejeição começa no banheiro e termina no caixão.

Mudanças nos modelos de banheiros convencionais podem ser necessárias. Por exemplo, cabines que permitam privacidade (como as do McDonald’s de Bauru), ao invés de ter portas "vazadas”, e extinção dos "coxinhos” nos banheiros masculinos. Além disso, é preciso uma drástica mudança na postura do uso comum. Se o banheiro é comum, deve estar limpo e organizado, assim como os banheiros de nossas casas, pois conviver requer respeito ao próximo. Respeito que esperamos, também, daqueles que deveriam representar todos os cidadãos, inclusive as minorias.

 


 







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