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Angélica Zignani

Diretora artística e de elenco da Cia dos Pés e ativista cultural


Filas

Por: Angélica Zignani
14/02/2020 às 08:31
Angélica Zignani

Tem cinco anos que sou mãe e estou nesse universo do maternar, profundamente, falo, penso, não durmo, sofro, busco palavras de alento e animação, sigo.
Uma coisa que esse universo tem e tem muito é fila e grupo de whatsApp. Do grupo eu falo outra hora.

Se você não é mãe, nem se aproxime de uma fila cujo objetivo seja matrículas ou coisas do tipo que envolvam filhos, pois você pode não entender e é preciso um certo grau de amadurecimento para poder entrar na conversa e tal. Fica de longe, observa e aprende.

É uma coisa "linda de se ver”.

Quando a fila envolve mães desconhecidas, aquela sensação de desconforto por ninguém se conhecer, dura uns minutos quando muito. Sempre falta um complemento na informação, mesmo que o papel de instrução esteja, absolutamente, claro. Não é de propósito não, mas esse pessoal, não pensa em tudo. Sempre tem um detalhezinho ou outro que eles esquecem e que causa uma dúvida cruel na multidão, pois do detalhe, que já virou a união de todas, vão se somando, opções de soluções e mais, e mais dúvidas, é uma bola de neve.

Portanto, mesmo que todas as brechas sejam aparadas, haverá uma que será aberta. 

Do desconhecimento às lágrimas, depois de uns 15 minutos a conversa passou de soluço a meningite. As mãos já se tocam, olho no olho, uma ternura.

Outra coisa que sempre brota dessas filas, são as dicas de punição, isso me deixa "nos nervos”, ô pessoal que gosta de dar umas palmadas. É sádico. 

"Mas dei uns tapas, por que saiu de perto de mim, achei que fosse morrer, a peste.”

Não sei. Francamente, essa postura eu não gosto, acho muito coronelismo para o meu gosto, um reflexo grande da submissão feminina.

Mas fora isso, as dicas rolam soltas. 

"Olha tem que ser assim”, "mas isso só funciona se fizer assim”, e os” a lá!!!” "ó, alá!” É um mantra perene. 

Se você passar por perto, certamente irá ouvir "a lá!” faz o teste!

Excluindo então as possibilidades de dramaturgias encontradas em uma fila de mães, sobra um aprendizado sem fim.

Todos os tipos de mulheres, envolvidas em um projeto para o filho, para a filha.

A certeza de que estão no caminho certo para trazer a felicidade, a partir daquele ato.

A bravura de estarem lutando por um lugar no mundo.

Muitas chegam muito cedo, tamanho são os obstáculos, outras que não conseguiram chegar cedo, chegam esbaforidas, de outra luta que tiveram que terminar ou deixar para outro momento.

Quando for preciso lutam, do jeito que encontrarem, para que o projeto a que se dedicaram não se desfaça.

Chegam na absoluta certeza de que aquele lugar na fila irá garantir o futuro da filha, do filho.

São minutos, horas e em algumas situações, dias.

Uma fila de mães é uma lição de vida.






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