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Mandato colaborativo leva vereador a ser o mais votado em cidade do interior de SP

Por: FOLHAPRESS - MARCELO TOLEDO
23/11/2020 às 15:00
Brasil e Mundo

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Um lugar em que predominam debates, cursos e um mandato colaborativo levou o sociólogo Eduardo Sallum (PT), 27, a ser o vereador ...


RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Um lugar em que predominam debates, cursos e um mandato colaborativo levou o sociólogo Eduardo Sallum (PT), 27, a ser o vereador mais votado na eleição deste ano em Tatuí (a 141 km de São Paulo).
A história que o levou ao ponto mais alto entre os postulantes ao Legislativo na cidade do interior paulista teve início há dez anos, quando iniciou as atividades num grupo de estudos que passou a promover protestos contra atos da administração local e do governo estadual.
O primeiro foi contra o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), que esteve na cidade para inaugurar uma maternidade, no qual o grupo cobrou a realização de promessas eleitorais. A ele se sucederam outros, como o que questionava a venda de um patrimônio público na cidadea, além dos atos de 2013.
Esse histórico fez o Movimento Popular Práxis, nome do grupo, concluir que alguém deveria entrar na política.
Sallum estudava na Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Araraquara e voltou a Tatuí para ser candidato. Foi, aos 23 anos, o mais jovem vereador da cidade, eleito com 682 votos, ou 1,17% dos válidos. Neste ano, chegou a 1.709, 3,17% dos votos válidos.
"Sabia que tinha um trabalho construído muito bem fundamentado, mas ser o mais votado foi uma surpresa muito grande, uma sinalização muito grande da população", disse.
O Práxis concentra laboratórios populares para discussões que resultam em sugestões de melhorias e projetos para serem apresentados nas sessões e que acabou se transformando num centro cultural do município.
Abre espaços para sindicatos que não têm sede própria e oferece cursos à população carente -pré-vestibular, idiomas e desenho, entre outras atividades.
Esse desempenho que atraiu políticos como o ex-ministro Carlos Gabas (Previdência), ex e atuais deputados e o vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT), figura constante no espaço. O exemplo de Tatuí foi um dos módulos de um curso que o PT deu neste ano.
O desafio inicial, segundo Sallum, era como vencer uma eleição sem ter uma família tradicional na política por trás ou uma empresa que bancasse custos de uma candidatura.
"A cidade é há 100 anos governada por três ramos econômicos, que são uma empreiteira, ceramistas e o mercado financeiro. O que trouxemos de novo foi a ideia do mandato compartilhado."
A lógica que o grupo adotou foi a de, em vez de um candidato contratar, por exemplo, 15 cabos eleitorais para que cada um "consiga" 100 votos, conseguir 150 participantes que multiplicassem seus votos por 10.
"Invertemos a lógica eleitoral. Assim, ninguém se afasta de seu trabalho para trabalhar em eleição como cabo eleitoral, não precisa investir em propaganda de massa e terá tempo para conversar olho a olho com as pessoas."
Nos quatro anos do atual mandato, o Práxis apresentou mais de 3.000 matérias entre requerimentos, indicações, emendas, substitutivos e projetos de lei, muitas dos quais Sallum discordava.
"Muitas vezes fui voto vencido. O mandato compartilhado é uma aprendizagem muito grande. Cada reunião aqui eu aprendo. Me sinto sendo preparado por todos para ir para a Câmara. Quem me ajudou não é cabo eleitoral, mas um vereador popular. Eu sou vereador, mas tem muitos trabalhando comigo na prática."
A casa utilizada pelo movimento, de 300 metros quadrados, é paga com a destinação de mais de 50% do salário como vereador. O vencimento líquido em setembro foi de R$ 5.799,76, segundo a Câmara.
É nela que o mandato popular é desenvolvido e as ações de voluntariado são criadas. O cursinho pré-vestibular gratuito aprovou mais de 50 alunos de baixa renda em vestibulares nos dois últimos anos, inclusive em medicina.
Também há uma escola de música e atendimento psicológico gratuito, além de coletivos -um feminista e um evangélico de esquerda. Seis sindicatos se reúnem na casa.
Em 2018, Sallum correu o risco de perder o mandato, depois de ter chamado o então presidente da Casa de frouxo.
"Ele cortou meu microfone, disse que ele não era ditador. Ele me mandou calar a boca e eu o chamei de frouxo. Não deveria ter falado, mas o parlamentar tem inviolabilidade de fala, basta ver o que o Bolsonaro fala e não acontece nada", disse.
Apenas um vereador era contrário à cassação, segundo ele, mas a movimentação de pessoas, entre elas líderes sindicais e deputados, contribuíram para que o requerimento que trataria da constituição de uma CP (Comissão Processante) para cuidar do tema fosse retirado da pauta -nunca mais voltou.
Relatos dos arquivos da Câmara mostram que, ao se pronunciar na tribuna em sessão anterior, o petista disse que não teve intenção de ofender ninguém e que respeita todos. Hoje ele é vice-presidente da Casa.
A cidade será governada por Maria José Gonzaga (PSDB), 74, reeleita com 58,29% dos votos válidos e que teve oito partidos em sua coligação.

Publicado em Mon, 23 Nov 2020 14:55:00 -0300







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