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Carlos Alberto Gomes

Professor, escritor. Autor dos romances Ainda Resta uma Luz e Tramas do Destino publicados pela Editora Scortecci.


UM BOM EXAME DE CONSCIÊNCIA

Por: Carlos Alberto Gomes
16/04/2021 às 11:31
Carlos Alberto Gomes

Trabalhar é preciso. Porém, quando atingimos determinado e satisfatório grau de maturidade, adotamos a fase dos questionamentos.  

Passamos então a indagar sobre nossas atitudes, não só do presente como voltamos nossos pensamentos às atitudes tomadas em nosso passado mais remoto.  Percebemos então que muita coisa que negligenciamos no passado ou que relegamos a um segundo plano, fossem talvez mais importantes do que nos parecia naquele momento.  Na verdade, nossa tabela de valores era diferente da que provavelmente adotamos com o passar do tempo.

         Naquela oportunidade, nossa atenção era voltada ao sustento da família e à responsabilidade de ampará-la e trazer-lhe tranquilidade em razão da necessidade de manter um status social do mais alto grau que poderíamos conseguir.  Mas será que se houvéssemos em vez disto nos dedicado um "tiquinho” mais à nossa família, notadamente aos nossos filhos, teríamos um resultado aquém daquilo que conseguimos e estaríamos a um patamar superior que atingimos até hoje?

         Provavelmente, sim.  Hoje, aos oitenta anos de idade, vemos tudo com maiores detalhes e se levarmos em conta a totalidade dos fatores que contribuem para o êxito de nossas empreitadas e considerando ainda o fator afetivo, cuja influência é por nós reconhecida, podemos até compará-la com a máxima de John Nash que nos diz que "é somente nas misteriosas equações do amor que qualquer lógica ou razão poderão ser encontradas”.  Isto me levou a concordar que através do casuísmo muitas vezes satisfazemos nosso ego, realizando muitas de nossas pretensões.  Surpreendentemente, concluímos que na verdade provavelmente teria sido muito superior ao que logramos alcançar com o descaso ao convívio com nossos entes mais queridos.  Ah! Hoje você poderá conseguir estes resultados através de seus netos.  Sim, poderia.  Só que poderíamos atentar para outro ditado ou máxima, que nos diz: "Águas passadas não movem moinhos e jamais retornam pelo mesmo caminho”.

         Hoje nossos filhos, já adultos, são os pais de agora o que nos leva a certeza de que conseguimos mantê-los unidos a nós.  Mostram-nos diariamente que nos amam e que se tornaram até melhores do que poderíamos esperar e sem ufanismo ou comiseração achar que não merecemos.  Percebo neles que se dedicam mais aos filhos do que o fiz em minha vida.  Discordo deles quando afirmam que suas atitudes são nada mais, nada menos, do que aprenderam com nosso exemplo.  São eles na verdade, o exemplo que hoje nos dão, com sua total dedicação aos meus netos, seus filhos.

         Este relato é fruto de um diálogo entre eu e minha esposa no qual eu falava sobre uma pescaria que, juntamente com um primo e dois sobrinhos, fizemos às margens de um rio, isto na década de cinquenta.  A ideia de fazermos esse piquenique surgiu de forma totalmente espontânea e informal.

         Justamente foi aí que a consciência que nos fustiga e é causa de nossos conflitos, entrou em ação, pois jamais o fiz e se o fiz foi tão esporádico que sequer me ocorre à memória, ter um dia, espontaneamente e sem planejamento, levado meus dois filhos para um piquenique semelhante à beira de um rio, onde o pensamento se liberta e vaga solto por sobre a amplidão erma e isolada do convívio com os demais seres com os quais convivemos.

         Só poderíamos imaginar o que aconteceria nesses momentos se houvéssemos vivido tais momentos.  Mas infelizmente não os houve na ocasião e não tomamos consciência deles o que talvez, nos privou de momentos de muito êxtase.  Disto temos absoluta certeza, pois ficou em nós aquele gostinho que apenas existiu em pequenas doses de saudade do que sequer existiu na realidade. Parece difícil de entendermos, mas talvez o encontrássemos neste pequeno verso que compus, talvez na vã tentativa de explicar o inexeplicável.

Saudade se não existisses

O que seria da gente?

Pois, faze-nos sentir o passado,

Como se ainda fosse presente!






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