Você já ouvir falar em veganismo? Acredito que grande parte das pessoas já tenham escutado essa palavra, no entanto, ela vem cheia de preconceitos, leituras erradas e desconhecimento.
O veganismo não consiste apenas em uma dieta, ainda que algumas
pessoas o utilizem dessa maneira, mas sim em um estilo de vida que engloba uma
visão ampla sobre tudo aquilo que se consome e como tais itens se relacionam
com a existência da vida animal. A questão deste estilo de vida é a compreensão
de que somos também animais, parte de todo um ecossistema e integrados à
natureza. Não há sentido no fato de que, em 2022, após a tomada histórica de
consciência de tantas opressões e explorações que vivenciamos, tais como o
racismo, machismo, homofobia, capacitismo entre outros, não olhemos também para
a exploração desenfreada de vidas animais não humanas.
Se o argumento para a exploração dos outros animais, não humanos,
é o fato de que estes não raciocinam, então este é um argumento raso. Ainda que
não possuam a mesma complexidade de pensamento como os dos seres humanos, os
animais são seres sencientes, ou seja, dotados de consciência de suas vidas, de
sensações sobre o que ocorrem ao seu entorno e de dor. A industrialização na
criação da vida dos animais impõe um cotidiano de prisão e tortura a estes, que
são submetidos a toda sorte de condicionamentos para servirem de alimento aos
seres humanos.
Outro ponto fundamental de minha defesa em torno do veganismo consiste
em um processo de reconexão dos indivíduos com uma cultura alimentar mais
saudável, barata, acessível e diversa. Caso você ainda não tenha parado para
pensar, na sociedade das massas -nossa sociedade que massifica todos os gostos
e modos, criando impeditivos na produção de uma subjetividade mais livre-, até
o que comemos, como valorizamos a comida e a que atribuímos sabor é parte de
uma cultura disseminada que fetichiza a comida, fazendo-nos acreditar que
determinados tipos de alimentos são mais nutritivos, saborosos e requintados,
nos prendendo num grupo de alimentos extremamente reduzido e profundamente
centrado na exploração animal. Em outras palavras, a constante propaganda das
carnes e queijos, por exemplo, como produtos intensamente suculentos e
saborosos, faz com que nossos desejos alimentares orbitem em volta dessas
ideias, fazendo-nos crer que é impossível produzir sabores tão intensos e
prazerosos apenas com alimentação vegetal.
Há uma faceta do veganismo, a mais conhecida na sociedade, que
gira em torno da substituição dos alimentos animais por alimentos vegetais que
simulem estes sabores, como carnes e queijos vegetais, ainda usando como
exemplo dos mesmos alimentos já citados. Estes alimentos vêm da grande
indústria e nada possuem de consciente em seu consumo, são apenas parte de
mercado que quer lucrar e ainda usam a bandeira vegana para cobrar mais caro. O
veganismo que defendo é um veganismo popular, que nos religa com os alimentos,
com seu manuseio e com a ampliação do olhar. Nós veganos comemos alimentos tão
sofisticados e saborosos como os não veganos. O uso de hortaliças e grãos de
maneiras mais variadas e distintas garante sabores e texturas profundos, mais
saudáveis e, acima de tudo, livres de crueldade e dor. Alimentos são aqueles
que se relacionam com a vida e não com a morte.
Considere o veganismo!
Bruna Giorjiani de Arruda, professora do ensino médio
na rede pública no ensino superior na rede privada. Militante do coletivo
feminista classista Ana Montenegro