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Assistente Social, especialista em serviço social na saúde, militante do Movimento Mulheres em Luta - MML e integrante do Comitê de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo e conselheira do CRESS seccional Rio Preto.
Foto por: Arquivo Pessoal
Assistente Social, especialista em serviço social na saúde, militante do Movimento Mulheres em Luta - MML e integrante do Comitê de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo e conselheira do CRESS seccional Rio Preto.

Eu sou porque nós somos

Por: Sirlane de Souza Santana
08/03/2022 às 14:30
Artigos

Em uma sociedade extremamente desigual, somos colocados na posição de competição com os outros, onde "ganha” a corrida quem pode mais, crescemos ouvindo que precisamos estudar para sermos "alguém” na vida, mas sabemos que o sol nasce para todes, porém as oportunidades, não.


De três gerações da família, fui a primeira a conquistar o tão sonhado ensino superior, cursei Serviço Social numa faculdade particular, onde careci de programa estudantil para concluir o ensino, e a partir de então muitos desafios, aprendizados, muitas frustrações, sonhos e transformações.

Neste período tive contato com movimentos estudantis, movimentos de mulheres (MML), partidos políticos e movimentos negros das mais diversas siglas, aos poucos fui percebendo que desconhecia meus antepassados e passei a compreender os motivos de até então não haver nenhum de nós "formado”. Foi nesse processo de aprendizado que passei a enxergar o quanto negava minhas raízes e origens, até meu cabelo era alisado, tentando seguir um padrão que há muito tempo estava imposto na sociedade como o mais "aceito”.

Em minha trajetória de formação, comecei a me enxergar, e a partir daí meu processo de aceitação e transição capilar. O processo de transição impactou tanto que inspirou outras mulheres da família, que assim como eu, são negras. Enfim, nos livramos do alisamento químico que tão mal faz a nossa saúde e ao nosso fio, para dar espaço a nossa beleza natural. Percebemos que para além da estética, seguíamos o padrão que a sociedade queria.

Além deste processo, pude compreender como a educação liberta e transforma vidas e o quanto sofremos nesta sociedade apenas por ser mulher, e sendo negra, o sofrimento é dobrado, pois lidamos com o machismo e o racismo estrutural diariamente. Infelizmente as mulheres negras ainda são as que menos se formam ou concluem o ensino superior, são as que estão nos piores postos de trabalho, estão na vala do desemprego, e as que mais morrem em decorrência de violência doméstica, segundo o mapa da violência. Carregamos o peso do machismo e do racismo sofrido por nós nos espaços, que ainda estão arraigados nesta estrutura patriarcal de poucas oportunidades.

Batalhamos para que o conhecimento e a justiça social cheguem a todas as mulheres, mas para isso ainda há muito caminho para percorrer, é preciso lembrar que no passado  mulheres corajosas lutaram e tiveram conquistas importantes e que é preciso ir além,  por um mundo onde sejamos totalmente livres, de qualquer forma de opressão, que não nos permite ser o que queremos, que sejamos livres do machismo, do racismo, da LGBTQIA+fobia, da transfobia e todas as formas de opressão ao corpo feminino.

Lutamos pelo fim de qualquer padrão, pelo fim da violência contra as mulheres e dos feminicídios, por mais emprego, salário e direitos, bem como igualdade de oportunidade, salário igual para trabalho igual, por uma educação que transforme e que seja pública e gratuita para acesso da classe trabalhadora, porque só assim conseguiremos enxergar uma possibilidade de mudança societária que nos libertem das correntes da opressão. Certamente se eu sou, porque nós somos, vale dizer que eu serei quando todas nós conseguirmos ser também.

Sirlane de Souza Santana, Assistente Social, especialista em serviço social na saúde, militante do Movimento Mulheres em Luta - MML e integrante do Comitê de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo e conselheira do CRESS seccional Rio Preto.







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