Depois de muito pensar sobre os anos de minha existência, ainda que pareça clichê chego à conclusão de que não tenho como falar de minha vida sem falar daquelas que vieram antes de mim, das mulheres que formam o ser que sou.
Dona Bela e Dona Maria, minha avós guerreiras, firmes, verdadeiras
leoas da família, que deixaram o exemplo de garra e proteção. Com Dona Augusta,
minha mãe, rainha, mulher incrível que abdicou de seus sonhos em nome da
família , aprendi o que é amor incondicional.
Minha irmã a "Princesa Erika”, essa me ensina que apesar das dores
da vida é preciso manter a alegria e não guardar magoas no coração. As
vivências delas, me deram suporte para poder viver as minhas próprias.
Eu não sou mãe ou esposa, mas sou filha, sou irmã, sou sobrinha,
sou neta, sou amiga, eu sou e olho para estas mulheres que estiveram e estão em
minha vida com a certeza de que ultrapassar todos os obstáculos diários que nos
são impostos pelo simples fato de sermos mulheres ainda vale a pena, vale a
pena seguir lutando para seguir viva e ouvida, conquistando cada vez mais
espaço principalmente como mulher negra que sou.
São enormes os desafios enfrentados na vida profissional, quebrar
barreiras em um ambiente ainda majoritariamente masculino nos exige fibra e
muitas das vezes uma força enorme, isso porque muitas das vezes não são as
nossas habilidades que são questionadas, mas sim o nosso gênero ou ainda como
no meu caso a pouca idade que aparento ter, apesar de já ter passado da casa
dos 40 anos, e contar com 16 anos de prática profissional, parece maravilhoso
parecer mais jovem, mas isso acaba quando usam desse argumento para de alguma
forma te desqualificar.
Sinto na pele os dados mostram como o exemplo de mulheres negras
que apresentam, rendimentos 71,31% menores do que os homens brancos, e assim os
desafios se potencializam, sempre farão questão de nos mostrar que aquele
espaço não nos pertence, "a negra no escritório não pode ser a advogada. Quando
a negra atende o portão pedem para chamar os donos da casa, chamar a patroa,
como pode uma mulher negra viver nesse bairro.”
Muitos ainda acreditam que essas agressões, estes relatos são
pouca coisa, "mimimi”, mas, esses acontecimentos acabam, muitas das vezes,
destruindo nossa autoestima. Por isso prego a importância de uma rede de
acolhimento para nos manter de pé, acreditando na vida.
A minha rede foi formada pelas mulheres que citei e por muitas
outras que passam pela minha vida e certamente me trazem ensinamentos
grandiosos. Confesso que não sou fã de termos como mulher guerreira, supermãe,
mulher maravilha já que nós mulheres, seres humanos que somos também erramos,
temos defeitos, medos por isso é preciso construir um olhar, mais acolhedor,
uma rede do bem e de proteção a nós mulheres.
Tenho buscado diariamente fortalecer esse olhar em mim porque a
vida não é só luta, choro e desespero, há também alegrias como se dedicar ao
processo de autoconhecimento e reforma intima que trouxeram para a minha vida
autonomia, coragem e uma profunda vontade de me doar e fazer o bem, tudo isso
com o apoio de uma rede que me orientou e me acolheu.
Hoje divido meu tempo principalmente participando do crescimento
dos meus sobrinhos, Lucas e Valentina, me conforta vê-los se tornando seres
inteligentes, carinhosos e dedicados. Além disso me dedico a projetos
voluntários das casas de oração que frequento e ver as pessoas readquirindo a
vontade de viver, tomando as rédeas de suas vidas mesmo em um processo longo e
árduo, me faz sentir profundamente agradecida.
Por fim, nesse dia 08 de março, data em que celebramos o Dia
Internacional da Mulher, eu desejo a todas mais amor, afeto e acolhimento para
todas nós, para que possamos ser sempre apoio a nós mesmas e a outras e outras
e seguir vivendo seguras, felizes e vivas física e mentalmente, que nossa rede
só cresça.