A minha história começa com outra personagem: minha mãe.
Apesar
de eu passar por muitas dificuldades na educação infantil, parte da minha
infância em um hospital realizando exames e intervenções para restabelecimento
de minha saúde, além dos elevados riscos devido a vulnerabilidade social de
onde morava em Guarulhos, posso dizer que tive como inspiração minha mãe.
Mulher nascida em Monte Aprazível, interior de São Paulo, com mais 10 irmãos,
professora de crianças especiais, foi uma das únicas a chegar ao ensino
superior (se formou em Direito) e se tornou Investigadora de Polícia no DEIC em
São Paulo, em uma turma na qual 90% dos integrantes eram homens.
Na
Academia de Polícia, em 1975, diziam que "policial não tinha sexo”, pois não
tratavam com equidade e sim com uma suposta igualdade. Sofreu de dores
musculares recorrentes pelas aulas de defesa pessoal, sofreu muita
discriminação e preconceito.
Voltou
para sua terra natal de transferência e auxiliou a montar a Delegacia da
Mulher, depois de se aposentar tornou-se Conselheira Tutelar e até esse período
de pandemia trabalhou no seguimento de bar/restaurante. Quem a vê nem imagina,
e mesmo naquela época por ser baixinha e magra (pesava cerca de 40 kg), que
sempre foi uma mulher forte e cheia de energia, exercendo trabalho voluntário
aos necessitados, com uma vida espiritual, familiar e profissional com vigor.
Hoje, com 75 anos de idade apresenta a mesma força.
Estou
falando de uma mulher que me inspira diariamente e carrego em mim essa força.
Fiz psicologia, mestrado em São Paulo, trabalhei com crianças com necessidades
especiais por meio da equoterapia e comecei, há 17 anos, a dar aulas na
faculdade de Psicologia, Carreira e Inteligência emocional, além de Gestão de
Pessoas dando treinamento para liderança. Via no mundo corporativo muita
desigualdade: onde estão as mulheres que via na graduação, na pós-graduação,
nos treinamentos de liderança? Onde estão as mulheres nos cargos de liderança?
Quantas mulheres e meninas tiveram que desistir do seu sonho de concluir o
ensino superior por terem filhos, cuidarem de seus familiares e/ou por
desenvolverem alguma doença mental?
De
acordo com pesquisa realizada por Daniel Freeman, psicólogo da
Universidade de Oxford, no Reino Unido, as mulheres têm 40% mais chances do que
os homens de sofrer algum transtorno mental. O estudo foi feito a partir da
análise de 12 pesquisas epidemiológicas de larga escala realizadas na Europa,
Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. A pesquisa também concluiu que as
mulheres têm 75% mais chances de ter sofrido depressão em um período recente do
que os homens, e 60% maior para ansiedade. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) afirma que a saúde mental da mulher é afetada por seu contexto de vida e
por fatores externos socioculturais, econômicos, de infraestrutura ou
ambientais e a identificação e a transformação desses fatores pode ser uma
direção para prevenção primária. Foi o que fiz: percebi que para desenvolver a
empatia, relacionamentos sociais positivos e saudáveis, liderar uma equipe e
ter uma carreira realizadora e com sentido, é necessário, primeiramente, o
desenvolvimento do autoconhecimento, do autocontrole, além da automotivação. A preservação
da saúde mental é essencial para o enfrentamento das adversidades que a mulher
enfrenta diante de tantas incertezas e de sobrecarga de papéis. Sou uma mulher
que trabalho por e para mulheres e estou ao lado de outras torcendo e
"consertando a sua coroa sem dizer que está torta”.
Juliana
Ferrari (@julianaferraripsi) – Psicóloga, Docente, Educadora Corporativa em
Comportamento Humano, Carreira, Inteligência Emocional e Bem-Estar, esposa e
mãe de dois filhos.