O relato que gostaria de compartilhar hoje não é extraordinário, nem fantástico, é um relato simples, sobre um dos muitos aspectos da minha vida, algo contribuiu e contribui a cada dia para a construção da minha identidade.
Vou
falar do meu lugar de Professora um lugar em que me vejo me entendo e que me
ajuda a significar e reafirmar minha posição de mulher negra feminista frente a
mim mesma e ao mundo. Sou Luana Silva de Souza Flor, professora de sociologia
do ensino médio da rede de ensino público do Estado de São Paulo, tenho 38
anos, um relacionamento de doze anos e uma Filha-Flor, a Iana. Decidi
compartilhar esse aspecto da minha vida porque há alguns dias tive a grata
notícia de que duas estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola em que
leciono tiveram êxito (conseguiram chegar lá!). Uma das estudantes foi aprovada
na Universidade Estadual Paulista, e outra teve uma nota acima da média na
redação do ENEM e por isso poderá ingressar em um curso que deseja em uma
Universidade Federal. Para quem não é professor de Escola Pública pode parecer
pouco em um universo de mais de 50 jovens que se formaram, mas para aqueles que
são ou que se interessam pela situação do ensino básico na rede pública
entendem o tamanho do feito, o tamanho da vitória que isso representa, primeiramente
para as estudantes, mas também para todos nós envolvidos.
Não
acredito que professores sejam "iluminados ou a quintessência” de todas as
profissões. Acredito que assim como em todas as profissões existem aqueles que
são bons, aqueles que são ruins ou péssimos, mas existem os excelentes. Penso
que em um país em que a Educação não é valorizada professores bons se tornam
ruins, desestimulados desinteressados, não pela falta de capacidade, mas pela
falta de estrutura, de formação de qualidade, de reconhecimento e todas as
"faltas” que sempre apontamos e, que bons professores muitas vezes se
martirizem em prol da causa fato esse que faz com que nós professores sejamos
vistos como "heróis, excepcionais” quando na verdade somos apenas humanos. O
que posso dizer com toda a certeza é que ser professora é estar em um lugar
privilegiado.
A
Escola é um microcosmo uma instituição que reflete e reverbera todas as
estruturas e ideias vigentes por isso temos a chance de todos os dias agir, e
tentar produzir um mundo melhor. Dar aula é uma das melhores coisas que
existe mesmo em meio a tanta burocracia que muitas vezes a gente percebe
inútil, mesmo com todo o cansaço entrar em sala de aula, ter contato com os
estudantes ainda é uma das melhores coisas que experimentei na vida. A
sala de aula é um universo de possibilidades, cada estudante é um mundo
próprio, cada um com suas expectativas seus medos, suas aspirações, sonhos e
suas dificuldades. É um espaço de ensino e aprendizagem onde todos podem
aprender, todos podem ensinar. Quando comecei não acreditava nisso ou não tinha
noção que seria possível aprender enquanto ensinava.
Hoje
após alguns anos lecionando sei que não ensino nada a ninguém o máximo que
posso fazer e que me esforço por fazer é criar as situações, as condições
mínimas para que cada estudante possa por suas próprias experiências e
capacidades construir seus próprios conhecimentos. Por isso me alegro, me
emociono, quando eles chegam lá. Mas também sofro, me preocupo quando vejo que
os estudantes no terceiro ano do ensino médio não possuem nenhuma perspectiva
de futuro. É por tudo isso e muito mais que, ser professora, trabalhar na
escola pública com todas as dificuldades e possibilidades me ajudam a ser a mulher
que eu sou!
Luana Silva de Souza Flor - Professora de Sociologia da Rede pública de Ensino
Instagram: @luanasilvadesouza5