Há vinte e sete anos vim para São José do Rio Preto, cidade que adotei como minha. Aqui cheguei, cheia de sonhos, que ainda são muitos, cheia de esperança e com uma consciência de classe e de gênero ideologicamente definidas.
De lá para cá o amadurecimento bateu em minha porta e o meu ser
"mulher”, entendeu e entende cada vez mais que a luta tem que romper a teoria e
ser transformada em ações que impactem de verdade no cotidiano da vida de todas
as mulheres, que a luta deve ser coletiva e inclusiva, ou seja, para todas as
mulheres e que principalmente devemos fazer o enfrentamento estrutural das
causas do machismo e do patriarcado que ferem e matam mulheres, sejam elas cis,
trans, dentro ou fora da sigla LGBTQI+.
Ao longo desses anos muitas foram as conquistas no Brasil e em
nossa cidade, fruto das incessantes batalhas travadas por nós mulheres. Mas,
infelizmente este 08 de Março nos traz uma pauta desafiadora, que é o "Pela
vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais", porque penso ser Impossível não
relacionar a luta das mulheres com a necessária derrota de Bolsonaro nas
próximas eleições, pois ele é um entrave aos avanços e, mais do que isso, é
responsável pelas inúmeras perdas que tivemos: de vidas, de direitos, de uma
existência digna. Desde que assumiu,
esse governo tem as mulheres como alvo de suas políticas nefastas. Mesmo antes
de ser presidente, Bolsonaro já odiava as mulheres, quem não se lembra do "você
não merece ser estuprada”, dito em alto e bom som para a deputada Maria do
Rosário? Nesse sentido, ele é o responsável por esse fundo do poço em que nos
encontramos: sem saúde, sem segurança, sem direitos, sem dignidade.
Diante de tamanha crise econômica, sanitária, ambiental e
política, temos um governo que opera como um estado miliciano, militarizado a
serviço do ultra neoliberalismo. Um governo que investe, fortemente, em armar
os seus ao invés de cuidar e atender quem necessita de assistência do Estado.
Um governo que se transforma em uma máquina de matar corpos que não importam,
dentre eles milhares de mulheres vítimas do feminicidio, incentivado por sua
fala misógina, homofóbica, machista e racista.
Neste contexto, a violência contra as mulheres além de ser
estrutural é fortalecida, autorizada e naturalizada diariamente na nossa
sociedade. Os assédios e abusos físicos e psicológicos, a violência doméstica,
o feminicídio e a cultura do estupro tornam a vida das mulheres um verdadeiro
inferno. Há uma autorização "velada” para matar as mulheres, a juventude negra
e pobre, os povos tradicionais, as pessoas LGBTQI+.
A isso se somam as garantias de acesso fácil a armas e o fim de
políticas de prevenção e combate a violência contra as mulheres. Poderíamos
continuar listando o rol de barbaridades desse governo, porque ele é imenso.
Mas temos o suficiente para justificar o repúdio que as mulheres, com poucas
exceções, sentem por este governo. E é neste
cenário estarrecedor que chegamos
neste 08 de março lutando pela vida de todas as mulheres, reafirmando nossa
força de seguirmos juntas pelo propósito de autonomia e liberdade com os
direitos de todas, todos e todes garantidos.
"Apesar de você, amanhã há de ser um novo dia", por
isso, salve o 08 de março! Que hoje as nossas forças se renovem, se
potencializem, que gerem condições de liberdade para todas as mulheres. Que
tenhamos nossos direitos garantidos e
que possamos viver em paz.
Sônia Paz, Assistente Social, Ex presidente do Conselho Municipal
dos direitos das mulheres - Frente feminista de SJ. Rio Preto.