Hoje, esses imigrantes encontram-se preocupados com a situação do país de origem, após a renúncia do ex-presidente Evo Morales, que aconteceu neste domingo. Em todos os cantos da pequena cidade do Noroeste paulista, é possível notar a apreensão dessas pessoas, que têm muitas dúvidas sobre os rumos da nação.
Em sua casa, onde toda a família trabalha no ramo da confecção, Benito Vella, 34, um dos líderes do grupo de bolivianos, afirma reunir diversos sentimentos nesta segunda-feira, entre eles a tristeza, mas também o alívio.
"Choramos de verdade, mas estamos felizes com a renúncia. A situação de massacre nos preocupava, precisava ter um fim”, diz.
"Mas acompanhamos todo o processo com o coração muito apertado, é necessário dizer. Evo foi um presidente que lutamos muito para elegê-lo como nosso representante. Infelizmente, se perdeu no caminho”, complementa.
Ainda assim, dos 445 eleitores que compareceram às urnas em Bady no dia 20, 74% dos votos foram dados ao representante do partido Movimento ao Socialismo (MAS). A Organização dos Estados Americanos (OEA), acredita, porém, ter havido fraude no processo eleitoral. "Também acreditamos nisso”, completa.
Silbério Sandoval Leon, 22, divide da mesma opinião do compatriota. Para ele, venceu a democracia. "O povo boliviano conseguir fortalecer exatamente aquilo que ele sempre defendeu sem limites, a soberania popular”.
Bady Bassitt, cidade de 16.850 habitantes, de acordo com o Atlas Temático - Observatório das Migrações em São Paulo, da Unicamp -, é considerada polo de atração de bolivianos. Eles representam 3% da população do município. Atuando na fabricação de roupas femininas, cada trabalhador tem renda mensal aproximada de R$ 3,5 mil.
Com o pedido de renúncia, a Constituição boliviana prevê que a sucessão começa com o vice-presidente, depois passa para o titular do Senado e depois para o presidente da Câmara dos Deputados, mas todos eles renunciaram com Evo. "Esperamos, sinceramente, que a transição seja serena e com respeito. Que nosso País, definitivamente, reencontre a paz e o desenvolvimento. Enfrentamos um mal necessário. A dor maior é saber que a Bolívia encontra-se à deriva, mas vai passar”, finaliza Vella.