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Doutora em Ciências da Saúde.  Servidora Pública Municipal. Docente no curso de Medicina da Unilago. Membra do Coletivo Mulheres na Política e Mulheres do Brasil. 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.
Foto por: Arquivo Pessoal
Doutora em Ciências da Saúde. Servidora Pública Municipal. Docente no curso de Medicina da Unilago. Membra do Coletivo Mulheres na Política e Mulheres do Brasil. 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.

Feminismo ou Feminicídio?

Por: Amena Alcântara Ferraz.
15/12/2021 às 09:34
Artigos

Muitas vezes, no nosso dia a dia, quando estamos em uma roda de conversa, falando sobre a nossa defesa e luta pelos direitos iguais entre homens e mulheres, muitos se assustam ou se incomodam...


Muitas vezes, no nosso dia a dia, quando estamos em uma roda de conversa, falando sobre a nossa defesa e luta pelos direitos iguais entre homens e mulheres, muitos se assustam ou se incomodam, ou até mesmo, se revoltam com esse tipo de ideia, dizendo e nos julgando como mulheres alteradas, chatas, briguentas ou ainda, no jargão machista, mulheres mal amadas ou pior ainda, mal "comidas”.  Achou esse termo pesado para a leitura no jornal? Então imagine escutar isso todos os dias.


É caro leitor, ser mulher é enfrentar e gerenciar todos os dias com atitudes violentas; violência física, emocional, institucional, entre outras.

A obra da escritora feminista francesa Simone de Beauvoir "O Segundo Sexo”, que desconstruiu a imagem de que a "hierarquização dos sexos” seria uma questão biológica, mas sim unicamente o fruto de uma construção social pautada em séculos de regimes patriarcais, justifica porque muitas vezes, esse julgamento não vem apenas de homens, mas também de mulheres. Somos produtos da construção social, e pensando assim, só podemos nos refazer, enquanto sociedade.


E é por isso que à medida que nos entendemos como seres parte desse mundo e enxergamos as desigualdades existentes nessa sociedade, defendemos o feminismo, pois ele é um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideológicos e filosóficos que tem como objetivo comum: DIREITOS EQUANIMES (iguais) e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino, dos direitos das mulheres e da libertação de padrões patriarcais.

Vou trazer para nossa reflexão alguns dados:


1.     Em 2019, homens dedicaram em média 11 horas/semana aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, enquanto o tempo dedicado pelas mulheres a essas mesmas tarefas foi de cerca de 21 horas e meia/semana.

Isso significa que ficamos 10 horas a mais que os homens nessa tarefa. E te pergunto, por quê? E por favor, não caia na armadilha do discurso superficial de que "mas lá em casa é diferente, meu marido ajuda em tudo”. Primeiro porque estou citando resultados de pesquisas nacionais, e devemos lembrar que nossa casa não reflete todas as casas, nossa "bolha social” não é a mesma para todos; e Segundo, porque essa história de "ajuda” é exatamente a pegadinha. Não queremos ajuda, queremos divisão das tarefas. Se ele mora na casa, ele tem responsabilidade sobre o cuidado dela, sobre a roupa que irá vestir, sobre a comida que irá comer. Se ele é o pai da criança, tem a responsabilidade do cuidado, assim como nós. Lhe parece agressivo isso? Agressivo é acharmos que, por sermos mulheres, isso nos torna mais responsáveis nas obrigações diárias.

2.     Em relação ao que é recebido pelo trabalho, as mulheres brasileiras receberam cerca de 77,7% do rendimento dos homens. Em 2019, o salário médio mensal dos homens no Brasil foi de R$ 2555, 00 e o das mulheres foi de R$ 1985,00.


Recebemos menos pela mesma função exercida. Isso é desigualdade de gênero. Isso é violência.


3.     Dados do IBGE mostram que 62,2% dos homens ocupavam cargos gerenciais, em 2016, contra 37,8% das mulheres. Quanto aos cargos ministeriais, por exemplo, em dezembro do ano passado, dos 28 cargos de ministro, apenas dois eram ocupados por mulheres.


Olhe para sua empresa, seja ela publica ou privada, e observe. Quantas mulheres ocupam os cargos de liderança, não apenas gerenciais/operacionais, mas cargos estratégicos, que chamamos comumente de "alto escalão”?


Quando entramos no mundo político essa diferença fica ainda mais evidente. Olhe as fotos de eventos políticos, nos palanques. Quantas mulheres estão lá, para além das esposas ou funcionárias da organização do evento.


4.     "Um terço das mulheres assassinadas no Brasil morrem apenas por ser mulher” e "Brasil registra um caso de feminicídio a cada 6 horas e meia”. Duas manchetes de jornais que representam a triste realidade do nosso País.  


Morremos por que somos mulheres? Apanhamos por que somos mulheres? Sofremos por que somos mulheres? E todos esses dados apresentados aqui, são muito piores quanto olhamos para o recorte de raça/cor. Mulheres pretas e pardas são mais desconsideradas, prejudicadas e violentadas. O racismo estrutural é por si só uma violência.


Eu, junto com muitas mulheres, de várias classes sociais, multipartidárias, aprendemos com nossas antecessoras, e vamos continuar a luta. Que a revolução (sim, revolução, porque precisamos de mudanças radicais) possa acontecer todos os dias, em todos os espaços. Que a revolução possa ser democrática, através do diálogo, mas resistir é necessário. Sigamos de mãos dadas.


Doutora em Ciências da Saúde.  Servidora Pública Municipal. Docente no curso de Medicina da Unilago. Membra do Coletivo Mulheres na Política e Mulheres do Brasil. 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.

 

 







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