Sai ano entra ano e as estatísticas sobre a violência contra a mulher se mantêm e por vezes piora. Os padrões de violência se repetem: maridos, companheiros, namorados figuram como os principais agressores dentro desse cenário.
Pouco se fala da maternidade nessa configuração,
das ocorrências de violências acometidas contra as mulheres-mães pelos próprios
filhos.
Esse fenômeno mesmo não sendo o de maior destaque
em mídias e nem o foco de discussões mais aprofundadas pela literatura e instâncias
assistenciais públicas tem ganhado destaque no âmbito jurídico, no qual tem
sido concedido com frequência medidas protetivas e a aplicação da Lei Maria da
Penha. Magistrados têm entendido que mesmo não sendo uma violência cometida pelo
parceiro afetivo, caracteriza-se como violência doméstica, e por isso a Lei tem
tido aplicabilidade.
Estão imputadas nessa condição todas as formas de
violência descritas na Lei, a violência física, psicológica, sexual,
patrimonial, moral.
Numa pesquisa realizada pelo Sistema de
Informação de Agravos e Notificação (SINAM), do Ministério da Saúde, foi
constatado que os números da violência de filhos contra mães é relevante e
crescente. Nesse levantamento
entre 2012 a 2014, cerca de 70% das vítimas de violência dos filhos foram
direcionadas às mães. A violência que mais incide é a física, mas também está
presente a violência moral, psicológica, a negligencia e o abandono.
Nesses casos as agressões contra as mulheres vêm
de onde menos se espera dentro do contexto doméstico familiar, pelo próprio
filho. Na maioria das vezes a vítima sofre em silêncio por medo de denunciar o
agressor e sofre ainda mais após a denúncia, duplicando a tão famosa e
companheira culpa materna. O sofrimento se intensifica pela vergonha em pedir
ajuda e pela exposição da situação à família, aos amigos, à comunidade e à
polícia, tornando crônica a situação e perpetuando o ciclo de violência,
podendo levar ao adoecimento e até mesmo a morte dessa mulher-mãe.
Essa conjuntura contribui para o reforço de um estigma
de fracasso na maternidade, principalmente quando essa situação acontece em
lares onde a mulher se separou e criou esse filho sozinho, como mãe-solo,
muitas vezes para se distanciar de uma relação abusiva e violenta do parceiro.
Acontecendo o que essa mulher-mãe mais temia, ser vítima de violência mesmo
assim.
Um dos motivos mais frequentes das mulheres-mães
serem alvos de agressões tanto físicas, morais e psicológicas é o envolvimento
do filho com o mundo das drogas, tanto para o uso como para o tráfico. Uma
situação dessa natureza, desestabiliza as relações de afeto, confiança e senso
de pertencimento e cuidado, comuns às organizações familiares
Destaco a importância do acesso às informações
sobre a Lei Maria da Penha e aos serviços de denúncia e acolhimentos, para a
comunidade como um todo.
A agressão contra a mulher, seja quem for essa
mulher e pelo motivo que for, é crime e precisa ser denunciado sempre.
Karina Bruna Caldo Rossetti, Psicóloga,
mãe, líder do Grupo Mulheres do Brasil - Núcleo SJRP
21 dias, 21 vozes femininas pelo fim
da violência contra a mulher.