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Eliane Gonçalves de Freitas é bióloga e docente da UNESP de São José do Rio Preto. Integrante do grupo Mulheres na Política, do grupo Com Ciência do IBILCE e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto
Foto por: Arquivo Pessoal
Eliane Gonçalves de Freitas é bióloga e docente da UNESP de São José do Rio Preto. Integrante do grupo Mulheres na Política, do grupo Com Ciência do IBILCE e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto

Tchau queridas

Por: Redação
04/12/2021 às 10:22
Artigos

Neste mês de novembro em que iniciamos os 16 dias de ativismo pela fim da violência contra a mulher, recebemos a notícia que o Brasil foi condenado por feminicídio pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, em decorrência do assassinato de Márcia Barbosa de Souza.


A menina de 20 anos foi morta em 1998 por um Deputado Estadual da Paraíba (Aércio Lima), que se beneficiou de foro privilegiado para permanecer sem julgamento. Por ser deputado, o processo só poderia ter início mediante a concordância da Assembleia Legislativa da Paraíba, o que nunca ocorreu. O deputado só pode ser processado 5 anos após o crime, quando não foi reeleito para o cargo. A condenação ocorreu em 2007 e, por recorrer da sentença, Aércio ficou em liberdade até 2008, quando faleceu, portanto, sem nunca ter sido preso. Nesse contexto, ainda houve uma tentativa de desmoralização da vítima, pela utilização dos estereótipos sexuais comumente e covardemente atribuídos às vítimas de feminicídio.

O cenário dessa tragédia mostra nitidamente a postura machista e protecionista entre a maioria dos parlamentares de nosso país, em todas as instâncias. O caso da Márcia não é um caso isolado. Uma das maiores violências de parlamentares contra uma mulher ocorreu durante o processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff, em 2016. A frase "tchau querida” na boca e nas placas de parlamentares federais não matou fisicamente a ex-presidente, mas certamente foi um ato de violência psicológica. Um desrespeito imenso à mulher com o mais elevado cargo de liderança do país.

Além de "tchau querida”, outras frases e comentários humilhantes foram expostos na mídia. A presidenta, no entanto, passou elegantemente por esse processo, sem trazer à tona as consequências psicológicas dessas violências "sutis”. Alguém pode dizer que não foi machismo, pois foi apenas um protesto. Mas, certamente se o presidente fosse homem não haveria tal violência, como não houve durante o impedimento de Fernando Color de Melo.

Seguindo a linha do tempo, em 2018 tivemos que ouvir que "a mulher nasce de uma fraquejada”. Em 2021, um Deputado estadual "sem querer” colocou a mão nos seios de uma deputada, quando ela defendia suas ideias na Assembleia Legislativa de São Paulo. Alguma punição? Ridículos seis meses de suspensão. Obviamente, não poderia faltar a difamação, colocando a índole da deputada sob suspeita, como tentativa de minimizar o ato violento.

Casos como esses deixam uma conclusão assustadora: os parlamentares praticam e são coniventes com a violência direcionada às mulheres. Ainda que saibamos que não são todos que pensam dessa forma, infelizmente também não são todos que defendem abertamente nossos direitos.  

Nenhuma mulher deveria ser agredida, nem morta física ou mentalmente por aqueles que têm a obrigação de cuidar de seu povo. Por isso, precisamos manter os protestos, comemorações e reflexões constantemente, pois atos de violência provocados por representantes no governo atingem todas as mulheres do país.

 

Eliane Gonçalves de Freitas é bióloga e docente da UNESP de São José do Rio Preto. Integrante do grupo Mulheres na Política, do grupo Com Ciência do IBILCE e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto  - 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.

 







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