Infelizmente, mais uma vez entramos nos "16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres". Digo infelizmente porque nós mulheres, em pleno século XXI, ainda somos obrigadas a conviver com a violência de gênero que nos obriga a realização de infinitas campanhas de combate a esta verdadeira pandemia que é a violência, revelando assim um triste retrato de uma sociedade que nos impõe o medo.
Em Rio Preto entre
os anos de 2020 e 2021, tivemos 4.049 notificações de violência contra as mulheres.
Destes, 412 foram de meninas de 5 a 14 anos, sendo que 3.504 desses casos
aconteceram dentro de casa. A violência
nos acompanha em todas as fases da vida e em todos os lugares. O lar que
supostamente deveria ser um espaço de segurança, não é seguro para as mulheres.
Conversando com
muitas mulheres e homens sobre o que nutre e alimenta este monstro da
violência, sempre chegamos à conclusão de que esta situação se agigantou neste
governo bolsonarista, autoritário, aliado de forças fundamentalistas e grupos
conservadores que ganharam força no
poder e que infelizmente usam todas formas de dominação que dispõem para
reafirmar o lugar das mulheres dentro da ordem patriarcal.
Mas, e por aqui na nossa cidade, onde estão e
como vivem hoje estas 4.049 mulheres que tiveram a coragem de pedir socorro?
Estamos conseguindo vencer essa guerra, cuja arma a ser utilizada se chama
políticas públicas?
Para isso, não basta
somente conceituarmos ou mapearmos a violência, precisamos sair da zona de
contemplação do que já conquistamos para construir caminhos que devem nos levar
à existência de uma delegacia da mulher que funcione 24hs e sete dias por
semana; à implantação de uma casa de passagem para as mulheres que sofrem
violência, que na maioria das vezes precisam de um lugar seguro por poucos
dias, para uma reorganização inicial de suas vidas.
Devem nos levar a
serviços de acolhimento descentralizados, de um CRAM – Centro de Referência
Atendimento à Mulher na região nordeste da cidade que é onde temos os maiores
índices de notificações. Devem nos levar a existência de campanhas
publicitárias de prevenção à violência feitas com profissionalismo e ainda que
a Secretaria dos Direitos das Mulheres seja
protagonista e principal articuladora das ações intersetorias junto a
todas as secretarias municipais, devemos envolver principalmente a Secretaria
de Educação, que tem um papel primordial na desconstrução do machismo e
violência desde a primeira infância. Precisamos de uma educação que trabalhe
pedagogicamente com seriedade o enfrentamento das desigualdades de gênero,
raça, classe, uma educação não-sexista, antirracista, anti-lgbtfóbica que
valorize a diversidade e a diferença.
Esses caminhos devem
nos levar à implantação da Casa da mulher Riopretense, nos mesmos moldes da
Casa da mulher brasileira, facilitando assim o acesso das mulheres a toda rede
de proteção, cujos serviços funcionarão em um único local.
Por isso, embora
tenhamos caminhado, a luta precisa continuar.