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Socorro Rangel - Docente voluntária no Departamento de Matemática da  UNESP-SJRP, participa do Grupo Com-Ciência.
Foto por: Arquivo pessoal
Socorro Rangel - Docente voluntária no Departamento de Matemática da UNESP-SJRP, participa do Grupo Com-Ciência.

Violências sutis

Por: Socorro Rangel
25/11/2021 às 08:31
Artigos

Ao refletir sobre a violência contra as mulheres recebi uma dica oriunda de um provérbio africano: "veja o pôr do sol da sua própria janela”.


Ao refletir sobre a violência contra as mulheres recebi uma dica oriunda de um provérbio africano: "veja o pôr do sol da sua própria janela”. Ao longo dos meus quase sessenta anos sofri algum tipo de violência pelo simples fato de ser mulher? Ocupando espaços em que mulheres representam menos de 30% vivenciei cenas de violência em função das relações de gênero? A pessoa que me lê pode pensar: Por que a dúvida? Você saberia!  Será?... Revendo meus passos, percebo que nem sempre a violência é explícita, e por onde transito ela é ainda mais sutil.

Em um clube de leitura virtual, tivemos a oportunidade de analisar um livro que aborda uma CEO que trabalha numa empresa de prestígio. Uma das tônicas é a violência sutil que essa mulher foi levada a praticar contra outra mulher, a babá de sua filha, para galgar e manter o seu cargo, e assim viabilizar o tal "sucesso” profissional.

Vivemos numa sociedade em que a violência contra as mulheres está sempre presente. Não me refiro aqui à violência física, noticiada diariamente: tapas, socos, facadas, tiros. Mas a um outro tipo de violência, menos visível, que ignora as especificidades do corpo da mulher. Afinal, como diz Rita Lee "Mulher é bicho esquisito, Todo o mês sangra”!

Esse sangue escoado mensalmente é ignorado sob o ponto de vista trabalhista. A mulher/adolescente é obrigada a trabalhar/estudar desconsiderando seu corpo, gerenciado por hormônios ou pela falta deles. O ciclo hormonal da mulher inclui dores e desconfortos habitualmente ignorados. O modelo "produtivista" dificulta o resguardo quando o corpo pede cuidados. O ritmo insano da produção, a jornada de 44/40 horas de trabalho semanal impede o desenvolvimento pleno da pessoa humana, a divisão igualitária do trabalho doméstico e dos cuidados com as crianças entre as pessoas do núcleo familiar.

            A questão central é que a sociedade ignora e pune a diferença de forma cruel. À exemplo do Projeto de Lei 14.214 que foi sancionado com vários vetos. Entre os quais, pasmem, o Art. 1º que institui: "[...] o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual para assegurar a oferta gratuita de absorventes higiênicos femininos e outros cuidados básicos de saúde menstrual.". Esse auxílio específico é importante para que as mulheres/adolescentes de baixa renda possam existir com um mínimo de dignidade. Sobretudo, porque a situação do Brasil é crítica, entre outras questões, o poder aquisitivo da população cai todos os dias.

Se é difícil combater a violência explícita, o que dizer da implícita, simbólica? Não há respostas fáceis, mas questões para reflexão. Que modelo de sociedade é esse em que não se pode viver na plenitude o item mais básico da existência que é o nosso próprio corpo? Precisamos urgente de novos paradigmas de organização social. Enquanto isso, políticas públicas de estado são necessárias para a redução das violências contra a pessoa humana.


Socorro Rangel - Docente voluntária no Departamento de Matemática da  UNESP-SJRP, participa do Grupo Com-Ciência, 21 dias, 21 vozes femininas  pelo fim da violência contra a mulher.







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