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 Luana Silva de Souza Flor, mulher negra, feminista, cientista social, professora da rede pública estadual de São Paulo.
Foto por: Arquivo Pessoal
Luana Silva de Souza Flor, mulher negra, feminista, cientista social, professora da rede pública estadual de São Paulo.

Mulheres negras e a violência cotidiana

Por: Luana Silva de Souza Flor
22/11/2021 às 19:30
Artigos

Quando afirmo que sou mulher negra digo isso sabendo e sentindo todas as implicações que essa afirmação acarreta. Acredito que ....


Vou começar dizendo quem sou até o momento, sou Luana Silva de Souza Flor, mulher negra, feminista, cientista social, professora da rede pública, casada e mais recentemente promovida ao cargo de mãe da Iana, a flor mais bela!

 Quando afirmo que sou mulher negra digo isso sabendo e sentindo todas as implicações que essa afirmação acarreta. Acredito que haja uma relação quase que inata, indistinta na nossa sociedade entre mulheres negras e violência.

Nunca fui vítima de violência física, e por muito tempo essa prática não esteve em meu horizonte de convivência. Mas por conta da minha formação e minhas experiencias pessoais entendo que muitas vezes as violências não chegam ao ato físico consumado.  Embora a violência física cause impacto imediato e que, as mulheres negras sejam vítimas preferenciais, entendo que muitas vezes – como meu caso – outras dimensões da violência como a institucional, psicológica, simbólica dão conta do recado.

Tenho refletido muito de uns anos para cá – principalmente quando comecei a trabalhar na escola pública - sobre a questão do "ser mulher”, e mais exatamente do "ser mulher negra”. Trabalhar como professora foi e ainda é um processo muito violento, lidar com o descrédito, a desconfiança nas minhas capacidades cognitivas, ser questionada constantemente em relação a minha postura dentro da sala de aula reafirmam pra mim o quanto o racismo ainda está presente determinando o que é socialmente aceitável ou não.

Penso que desde de muito cedo nós mulheres negras aprendemos e sentimos na pele o quão violenta podem ser as mais simples e corriqueiras interações cotidianas. A violência que é velada, que não é dita, mas é praticada e também a violência que é objetivada em nossos corpos seja por meio da agressão física seja por meio da falta de assistência, descaso, omissão a que estamos submetidas em nossa sociedade.

Exemplos que me acompanham desde a infância até hoje e que podem parecer irrelevante aos olhos de quem não experimenta ilustram o que eu quero dizer: sentar na última carteira na sala de aula, nunca tirar a melhor nota, não ter amigos, não receber elogios dos professores e os xingamentos constantes no ambiente escolar. Não conseguir um emprego em uma loja da cidade, trabalhar de empregada doméstica – e acredito que isso não seja demérito – não ter um relacionamento afetivo na adolescência. Sentir-se feia, desajustada, ter vergonha da minha aparência, duvidar das minhas capacidades.

Ser mulher e ser negra exige uma capacidade de agência muito sofisticada uma vez que exigências e violências distintas operam em nossas vidas de forma concomitante. O machismo e o racismo e, muitas vezes a situação de classe colocam as mulheres negras a em posição de constante desigualdade. Não me lembro de um momento em minha vida em que não tive que provar a minha capacidade: estar bem arrumada, ser educada, esforçada e todos esses estereótipos que fixam em nossos corpos. 

Por tudo isso (e muito mais!) decidi fazer algo para que mulheres como eu não precisassem experimentar situações de violência como tenho experimentado. Por isso sou feminista, por isso sou professora, por isso luto para que a Iana e todas aquelas que conseguir alcançar ou não experimentem a transformações na sociedade. Que um dia a sociedade não seja mais pautada por definições opressoras como as de gênero e raça.

 

Luana Silva de Souza Flor, mulher negra, feminista, cientista social, professora da rede pública estadual de São Paulo.21 dias, 21 vozes femininas  pelo fim da violência contra a mulher.







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