Ator se despede do papel com um desfecho à altura
A franquia de Daniel
Craig me conquistou de forma única. Dos cinco filmes, não encontro um que me
faça reclamar ou até mesmo criticar de forma intensa. A questão é que, de todas
as sagas de 007, a de Craig possui uma escuridão ímpar, fundido a cenas de ação
entusiasmantes, além de, claro, o clássico toque de elegância e sensualidade.
O que mais difere
esta última produção das outras (que ele fez parte), é que aqui presenciamos um
James Bond mais humanizado, no sentido de vê-lo como uma pessoa normal, que
tenta seguir a vida na casa no meio do mato, pescando e até tomando banho com
água natural. Mas mesmo com esta tentativa, os sintomas de assassino ainda o
perseguem, já que fazem parte da sua natureza, como por exemplo, a arma
presente na gaveta, a desconfiança de olhar para trás em um passeio com sua
amada, entre outros. O romance estabelecido entre James e Madeleine (Léa
Seydoux) também evidencia essa humanização, juntamente a uma grande surpresa
que se eu escrever mais darei spoilers; estes elementos solidificam a
exploração desta melancolia que é tão presente na despedida do ator.
Além disso, o filme
apresenta um protagonista mais velho e de certa forma cansado. Determinados
momentos até oferece um humor interessante e nada prejudicial, refiro-me quando
Bond encontra sua substituta na MI6 – inclusive, a personagem de Lashana Lynch
possui um toque de ironia e astúcia divertidos –, ou então quando a clássica
apresentação "Bond. James Bond” é citada pelo fato do secretário não conhecer –
ou fingir, que é o mais óbvio.
Mas a despedida de
Craig ainda entrega de forma competente uma das principais propostas da obra: a
ação. Como todo 007 protagonizado pelo mesmo, há uma ação eficaz e extremamente
empolgante, e claro que neste não seria diferente. Cary Fukunaga (diretor) guia
a câmera de uma forma orgânica que encaixa o espectador no meio do tiroteio sem
deixá-lo confuso – me refiro principalmente à cena onde os capangas cercam Bond
e Madeleine, e a movimentação e cortes nos deixam aflitos com a moça e
impressionados com a calma do agente. Ainda mais, em seu ato final, presenciamos
um plano sequência longo e brilhante, onde deixa ainda mais explícito a
fatalidade e engenhosidade do protagonista em situações de puro risco.
Apesar de obter diversos
momentos entusiasmantes, o longa apresenta uma queda de ritmo em seu segundo
ato. Contudo, o roteiro se sustenta pela história, que desenrola camadas interessantes
para a trama; novas descobertas que criam mais peso dramático e narrativo. Toda
cena conduz o roteiro para frente, guiando para um ato final digno, e aqui vai
um simples ensinamento sobre cinema e filme: toda cena deve fazer a obra avançar.
Então que baita ponto positivo.
Agora, vi um nome na
introdução – que tinha como música ‘No Time to Die’ com a belíssima voz de
Billie Eilish – que me deixou ainda mais empolgado, no qual era: Hans Zimmer.
Zimmer é um grande compositor de Hollywood e tem em seu currículo inúmeros
filmes e composições sensacionais como ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas’,
‘Interestelar’, ‘O Espetacular Homem-Aranha 2’, ‘A Origem’, ‘O Homem de Aço’,
entre outros. Mas acontece que é nítida a marca do alemão, principalmente no
ato final onde ele mantém as cordas no clima de tensão, como costuma fazer nos
filmes de Christopher Nolan. Além do mais, o músico não perde a essência
clássica dos sopros que marcaram a franquia, trazendo um gosto nostálgico
perfeito.
Ainda assim, é
interessante notar o trabalho da direção de arte com Madeleine, necessariamente
no seu figurino. O branco está sempre presente como cor principal,
representando sua pureza e verdade que insiste em dizer para Bond.
Por fim, a despedida
de Craig encerra sua saga com presença. Claro que haverá sempre inúmeras
opiniões divergentes, mas não tem como negar que o ator deixou sua marca na
história do agente mais conhecido do cinema; principalmente pelas cenas de
ação, que são o grande forte de sua passagem.
Quase três horas de
um entretenimento gostoso e empolgante. Está aí uma ótima sugestão para ir ao
cinema.
Nota:
4/5 (ÓTIMO)