Buscas envolvem empresa de Rio Preto que comercializava estrutura de hospitais de campanha. A PF esteve numa casa no condomínio Quinta do Golfe e na empresa de rio-pretense
Em entrevista coletiva na sede da Delegacia da Polícia Federal de Campinas, o delegado Edson Geraldo de Souza afirmou que duas empresas de Rio Preto supervisionaram e assinaram laudos técnicos para a construção de dois hospitais de campanha na cidade de Paulínia.
As investigações apontam que o então secretário de Obras da cidade abriu processo licitatório em tempo recorde. No dia 2 de abril de 2020 foi realizado contato via e-mail com quatro empresas candidatas, sem nenhum termo de referência ou estudo técnico acerca da estrutura desejada pela prefeitura. No dia seguinte as empresas já responderam com os valores e, no dia 6, a Secretaria de Obras contratou uma delas pelo valor de R$ 4 milhões.
De acordo com Souza, a empresa de Rio Preto tem ligação com servidores de Paulínia e prestava serviços para a empresa que venceu a licitação.
Dois indícios apontam para a possibilidade de licitação de fachada. Um é que no mesmo dia em que foi informada sobre a escolha, o caminhão da empresa vencedora chegou à Paulínia com a estrutura a ser montada. A sede dela fica a 800 km da cidade. O outro é que a empresa reservou estadia para seus funcionários em um hotel de Paulínia do dia 3, ou seja, antes de ser informada sobre o resultado da concorrência.
A Polícia Federal já sabe que entre as quatro candidatas, três têm relações entre si.
"Os mandados cumpridos nesta terça-feira têm como objetivo identificar quem são as pessoas físicas e jurídicas, privadas e públicas, que participaram dessa fraude”, disse o delegado.
Os agentes apreenderam documentos e dispositivos eletrônicos que serão periciados.
Outro escândalo revelado pela investigação é que, na ocasião da negociação, Paulínia registrava apenas 30 casos de pacientes com Covid-19, sendo os leitos disponíveis suficientes para atender a demanda.
"O secretário de Saúde se manifestou contra a construção. Mas houve um esforço enorme do secretário de Obras para que empresas ligadas a ele fossem contratadas. São empresas especializadas em eventos, sem conhecimento nenhum na área da saúde”, explicou.
O prefeito e o secretário de Saúde não são investigados porque não foram identificados indícios de participação deles no esquema.
O valor da licitação já estava empenhado, mas foi bloqueado após os indícios de irregularidades.
"Embora não tenha havido prejuízo aos cofres públicos, está caracterizado o crime de fraude à licitação”, explicou o delegado.
O então secretário de obras foi exonerado em novembro do ano passado, após ser abordado com R$ 51 mil no carro.
Ele e os alvos dos mandados poderão ser enquadrados ainda por corrupção passiva, ativa e falsidade ideológica.