O espetáculo de cores proporcionado pelas
flores nos últimos dias tem chamado a atenção de todos, especialmente o
florescimento dos ipês, que tem sido um show à parte. O florescimento das
cerejeiras é um evento simbólico no Japão, e os ipês estão contribuindo
para esse sentimento em nosso País, no sentido de valorizar a natureza
bela e efêmera da vida.
Participam também as azaleias, alamandas,
bougainvilleas, ipês-de-jardim, hibiscos, quaresmeiras, manacás-da-serra,
calistemos, helicônias, bicos-de-papagaio, patas-de-vaca, sapucaias,
ixoras, cosmos amarelos, coroas-de-cristo, flamboyant-mirins, mussaendas,
lírios e outras mais.
As condições climáticas disparam o relógio
biológico das plantas, indicando o início da fase reprodutiva com a
emissão das flores. Espécies que não apresentam dormência das sementes
tendem a florescer nesta época do ano, de forma a coincidir com a
dispersão dos frutos no início da estação chuvosa, contribuindo para a
germinação e o crescimento inicial das plantas.
Espécies que apresentam sementes dormentes,
como as palmeiras, muitas leguminosas e plantas, cujas sementes apresentam
tegumentos duros ou impermeáveis, tendem a efetuar a dispersão durante a
estiagem. As altas temperaturas do solo, processos abrasivos e a
incidência de queimadas participam da quebra da dormência dessas
espécies. Então é possível observar plantas com flores ao lado de outras
em plena dispersão dos frutos.
A beleza dos ipês
As mudanças no clima têm afetado a reprodução
dos ipês. O aumento da temperatura induz ao florescimento mais cedo, e
nos últimos anos temos observado o adiantamento do início do florescimento
em até dois meses em relação à normalidade. O ipê roxo normalmente é o
primeiro a florescer, seguido dos ipês amarelo e rosa, e por último o ipê
branco.
As sementes dos ipês perdem rapidamente o
poder germinativo, e o florescimento precoce afeta drasticamente as
chances de reprodução da espécie porque as sementes morrem antes do
início da estação chuvosa. Sendo espécies caducifólias, que perdem as
folhas durante o período de estiagem, as plantas tendem a dispersar os
frutos e emitir nova folhagem, que virá a ser novamente descartada em
função da insuficiência hídrica e da consequente emissão de novas flores.
Desse modo, têm ocorrido florescimentos coincidentes com a presença de
folhas nas árvores, o que reduz a beleza cênica e causa enorme estresse
nas plantas.
Situação análoga pode ser observada no
jacarandá-mimoso, que apresenta floração esplendorosa nas avenidas de
Buenos Aires e passa quase despercebida no Brasil. Neste ano foi
diferente, e as baixas temperaturas combinadas com a forte estiagem
contribuíram para um florescimento único em árvores totalmente
desprovidas das folhas, e na época certa para coincidir a dispersão das
sementes com a chegada das chuvas.
O destaque das árvores no meio da vegetação
natural mostra claramente que, apesar de todas as adversidades climáticas
reinantes, os ipês mantêm altíssima população de plantas saudáveis no
meio ambiente, pois, afinal de contas, o nome ipê em tupi-guarani
significa "árvore de casca grossa". Além do ipê amarelo, temos
também nessa época do ano o florescimento do ipê do cerrado que é
caracterizado por menor porte, tronco mais escuro, tortuoso, casca ainda
mais grossa e flores em tons de amarelo gema.
Dentro de mais alguns dias, teremos a florada
do ipê branco, a mais efêmera dentre todos eles. Essa é a espécie de ipê
com menor número de indivíduos na natureza. É preciso ficar atento e ter
muita sorte para encontrar um ipê branco em pleno florescimento. A
observação da natureza traz muitos ensinamentos e contribui para superar
muitas adversidades, além de preparar o espírito para a chegada da
primavera.
Daniel Pereira Guimarães
Pesquisador da Embrapa
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