Por: Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil (Com Thais Covre e Bruna Yamasaki)
16/10/2019 às 09:34
Cidades
Juntos, Paulo Maurício de Almeida Xavier, de 63 anos e Thiago
Barcelos de Almeida Xavier, de 30 anos, pai e filho, já fizeram mais de 10
milhões de pães desde 2000, quando entraram para o ramo da padaria. E foi
fazendo e vendendo pães que a família colocou comida na mesa desde então.
Um dos alimentos mais tradicionais e antigos de toda a humanidade,
o dia 16 de outubro foi destinado mundialmente a homenageá-lo. Instituído em 2000, em Nova York, pela União
dos Padeiros e Confeiteiros, nesta quarta (16) é celebrado o Dia Mundial do Pão.
Thiago conta que cresceu vendo e ajudando o pai a fazer
pães. Começaram em 2000 com uma padaria no bairro Solo Sagrado, migraram para o
Eldorado e agora estão voltando ao Solo Sagrado. "Eu cresci fazendo pão, então aprendi desde
pequeno a trabalhar assim e a gente pega amor na profissão”, comenta.
O trabalho é intenso e tem de ser feito com antecedência,
uma vez que são vários os processos. "O que é para vender de manhã, a gente começa
a fazer a noite. Os pães já ficam crescendo de madrugada”, explicou. E é aí que
os fornos são acesos e começam a assar os pães.
O pão também entrou na rotina do empresário Everton Alves, 31 anos, ainda na infância, influenciado pelo pai.
"O hábito de comer pão começou na infância com meu pai. Ele comprava pãozinho para todo mundo e eu e meu irmão comíamos todos e deixávamos os outros sem. Um dia meu pai comprou 30 pães e fez eu e meu irmão comer tudo. De lá pra cá só gostamos mais, não enjoamos. Eu tomo café da manhã controlado, porque se deixar eu como 5 pães por dia. Eu uso o pão pra acompanhamento, no café da manhã, no almoço, na janta, num churrasco ou café da tarde, sempre tem que ter o pão francês", disse o empresário.
A história do pão é antiga. Ele teria surgido há mais de 6 mil anos, quando os egípcios descobriram a fermentação do trigo. Ali ele era considerado um alimento básico e era um símbolo de poder. Os pães preparados com trigo de qualidade superior eram destinados apenas aos ricos. Os egípcios se dedicavam tanto ao pão que se tornaram conhecidos como "comedores de pão”.
"É importante lembrar da importância que o pão tem para a humanidade. Desde os primórdios, os grãos eram consumidos de forma bruta, comidos crus. Posteriormente, alguns historiadores falam que, por acidente, os pães - que eram formados numa pasta mascada na boca, pasta essa feita de mingau – caíram em cima de uma pedra quente, em uma fogueira e, a partir dali, se gerou uma massa assada”, conta o especialista e historiados sobre pão, Augusto Cezar de Almeida, em entrevista à Agência Brasil. Almeida é autor de diversos livros como A História da Panificação Brasileira – a Fantástica História do Pão e da Evolução das Padarias no Brasil e do Dicionário da Panificação Brasileira. Ele também é editor da revista Panificação Brasileira.
Quando o homem começa a controlar o processo de fermentação, a técnica de fazer pão se aprimorou e se espalhou pelo mundo. "No começo da história, tinha muita rejeição àquilo que fermentava porque dava ideia que estava estragando. Quando se teve controle, com Pasteur [Louis Pasteur, cientista francês, 1822-1895], que foi um estudioso que conseguiu controlar e entender o processo fermentativo, essa ação da fermentação passou a se propagar de forma mais controlada, mais industrial”.
O pão no Brasil
Almeida conta que o produto chegou ao Brasil por meio dos portugueses: "Para se ter ideia, o primeiro documento que narra um brasileiro consumindo pão foi a carta de Pero Vaz de Caminha. Quando as naus chegaram em território brasileiro, elas traziam pães. Os índios então provaram, pela primeira vez, aquilo que era totalmente estranho, que era o pão. E a reação dos índios não foi lá muito favorável porque eles não estavam habituados a consumir aquele tipo de produto. Os produtos que se consumiam aqui eram derivados da mandioca e típicos da região”.
Os pães que foram provados pelos índios eram muito rústicos e, pela longa viagem, provavelmente eram duros também. "Por isso não deve ter sido muito fácil aceitar”, diz Almeida.
Mas com o plantio do trigo, que teria sido iniciado pelas sementes trazidas por Martim Afonso de Souza [nobre e militar português, 1490-1570], é que o hábito de comer pão começa a crescer no país. "A primeira narrativa que se tem aqui [no Brasil] de trigo foi com Martim Afonso de Souza, lembrando das Capitanias Hereditárias. Ali, o militar Martim Afonso de Souza se tornou donatário da Capitania de São Vicente, primeira capitania que tivemos no Brasil. Ele também era governador da Índia, muito próxima das regiões árabes, e ele trouxe sementes de trigo para o Brasil. São duas narrativas que pouco se fala aqui: primeiro, que o pão foi provado pelos índios nas naus portuguesas. E, segundo, que o trigo foi trazido pelo Martim Afonso de Souza”, conta o historiador.
Padarias
No ano passado, havia em todo o país 70.523 padarias, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip). Mais de 14 mil delas estavam localizadas no estado de São Paulo. A maior parte dessas padarias, cerca de 95% do total, são micro e pequenas empresas familiares.
A primeira delas pode ter surgido no Rio de Janeiro. Ou em São Vicente, no litoral paulista. Mas há poucos dados ou registros sobre isso. Com isso, a padaria que ficou conhecida como a mais antiga do Brasil é a Santa Tereza, localizada na região da Praça da Sé, em São Paulo. A Santa Tereza foi fundada em 1872.
"As padarias, no passado, eram consideradas indústrias na cidade. Elas fabricavam biscoito, bolachas, vários produtos que eram vendidos para outras regiões próximas. Bolachas e biscoitos são produtos que não se estragam facilmente. As padarias tinham capacidade industrial e empregavam muitas pessoas. Depois surgiram as indústrias de biscoito e massas. Tem muitas histórias de grandes indústrias hoje no mercado brasileiro que surgiram de padarias”, contou o historiador.