Arthur Fleck é um homem que trabalha como palhaço durante o dia e pretende virar comediante de stand-up durante a noite, e assim ter seu devido reconhecimento. Mas, mais do que isso, ele procura reconhecimento como ser humano.
De início, a maquiagem de palhaço pintada no rosto de Fleck
possui um risco azul limitando seus extremos. Mas quando colorido fica apenas de
vermelho, as linhas azuis somem, definindo que não há mais limitações para seus
risos.
Dirigido e escrito por Todd Phillips, o filme possui uma
direção eficiente quando necessária, sem enfeites irrelevantes. O diretor
utiliza seu primeiro plano para caracterizar a face de Fleck que, acompanhada
de seu dente torto, cicatriz, tiques e o olho verde, funcionam intensamente. Phillips
traz um cenário real e eficiente quando sujeiras e obscuridade se solidificam
na Gotham dos anos 80. Ruas, lojas e até mesmo o apartamento do protagonista
possuem uma fotografia escura, sem cores muito fortes. Porém, quando passado
para locais de maior visibilidade (rodeada por pessoas com mais dinheiro), as cores quentes surgem. Há ainda as trilhas sempre instigando e influenciando os sentimentos
do espectador.
Além disso, o roteiro de Phillips juntamente com Scott
Silver consiste em uma narrativa competente e coerente. Reviravoltas e
descobertas portam pesos reais, sempre valorizando a história como um todo.
Cada personagem inserido possui papel ideal para o desenvolvimento do
protagonista.
Interpretando o personagem principal temos Joaquin Phoenix.
O ator se entrega ao papel integralmente. Usando uma dança tenebrosa como forma
de expressão em vários momentos, Phoenix traz um corpo esquelético,
evidenciando seus ossos e ainda auxiliado do corpo corcunda com pequenos
machucados. Também, a risada – ícone do vilão –, além de trazer um incômodo
pela forma de ser executada e pela repetitividade, tem uma justificativa
extremamente coesa e compreensível; destaque para o esforço do protagonista para
tentar não rir. Sem mais, se não é spoiler.
Ainda que perigoso por certos discursos, "Coringa" trata de
um assunto arriscado quando associado à realidade. Uma breve
comparação: Thanos defendia algo compreensível, mas utópico, já Coringa
discursa um tema relevante, real, delicado e pesado. Perceba a cena enquanto os
pobres protestam e vivem em uma euforia intensa do lado de fora e os ricos e
poderosos mantêm a sua tranquilidade dentro de um palácio elegante e seguro onde
conferem "Tempos Modernos”, de Charles Chaplin. Ou até mesmo quando Thomas Wayne
se "comove” com a morte de três funcionários de sua empresa sem ao menos
conhecê-los.
Em um momento final, é interessante perceber que herói e
vilão surgem paralelamente juntos. Um rodeado por uma multidão e idolatrado,
enquanto o outro nasce só, em um cenário sujo, escuro e triste. E por mais que
as luzes e paredes brancas pareçam contraditórias em sua última cena, na verdade
elas refletem a paz que o personagem finalmente encontrou.
Por fim, "Coringa" é um filme extremamente triste, tenebroso
e muito competente. Esta obra pode e deve ser lembrada como uma das mais
memoráveis deste ano.
"A pior parte de se ter uma doença mental é que as pessoas
esperam que você se comporte como se não tivesse.” "But just smile.”
Nota: 5/5 (Excelente)