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Crianças querem de eleito em São Paulo comida, diversão e igualdade

Por: FOLHAPRESS - LUCAS VELOSO, IRA ROMÃO, LARA DEUS, LÉU BRITTO E LUCAS RODRIGUES
23/11/2020 às 07:30
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sarah tem 9 anos e sente que os políticos se preocupam mais com os adultos do que com as crianças. Pedro tem 8 e pensa que, se fosse ...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sarah tem 9 anos e sente que os políticos se preocupam mais com os adultos do que com as crianças. Pedro tem 8 e pensa que, se fosse prefeito, deixaria as ruas mais seguras para outras crianças brincarem.
Eloá, 8, e Débora, 11, dizem que é preciso reformar as quadras e que a prioridade deveria ser comida para todos.
Ao longo das últimas semanas, a reportagem conversou com crianças entre 8 e 12 anos de idade nas periferias da capital paulista para entender o que elas esperam do futuro prefeito de São Paulo.
A reportagem também apurou as propostas dos planos de governo dos candidatos focadas nas crianças, sobretudo nas periferias. Sem poder de voto, elas falam sobre o que deveria ser prioridade para melhorar a vida delas.
Sarah Lima de Matos, 9, vive no Jardim Mitsutani, no Campo Limpo, zona sul, e é aluna do quarto ano da rede municipal de educação. Espaços de lazer e a melhora da economia são pontos que ela vê como necessidades na região.
"Se eu fosse política, ia colocar aqueles brinquedos infláveis nos parquinhos. As crianças de todos os anos iam ter o dia do brinquedo", diz. "Ia baixar o preço das contas de água e luz porque tem muitas pessoas que são pobres e não têm dinheiro pra pagar, aí elas são despejadas das casas."
Sarah também se preocupa com o coronavírus. Afirma que poderiam "dar os medicamentos para as pessoas".
O mercado é outro lugar que precisa de atenção. "Os preços têm que baixar. Sempre quis comer cereal, mas nunca pude porque minha mãe sempre disse que não tinha dinheiro", explica. "Tem o arroz também. Está caro demais. Quarenta reais aí já é palhaçada com a minha cara."
Com 10 anos, Pérola Soares de Deus diz que política é a disputa onde se escolhe quem vai cuidar da população. Para a moradora de Pirituba, zona norte, os eleitos deveriam "mudar o tanto de assalto" na cidade, já que quando ela viaja percebe que outros lugares são mais seguros.
Questões sociais também estão na ponta da língua. "As pessoas deveriam ter mais trabalho e mais chances para deixar de roubar", afirma, e reforça a importância da educação. "Os políticos não se preocupam com as crianças e querem que elas fiquem burras pra não saber o que é política, o que cada um está fazendo."
Para melhorar a sociedade, a menina diz que os ricos deveriam ajudar os pobres a serem ricos e que as pessoas deveriam ter acessos iguais. "Tipo, igualdade entre homens e mulheres, pretos e brancos."
Pérola demonstrou preocupação com a pandemia e com o que ouviu sobre a Covid-19. "Os políticos podiam parar de falar que era só gripezinha, porque não é", afirma. "As pessoas para se cuidar deveriam ter mais máscara pelo menor preço. Nem todo mundo tem condição de pagar saúde e é tão básico que não deveria ter que pagar".
Em Heliópolis, considerada a maior favela de São Paulo, Eloá de Carvalho Silva, 8, e Débora Moraes Santos, 11, frequentam o Centro para Crianças e Adolescentes, espaço público que oferece atividades. As meninas dizem que a comida deveria ser prioridade de quem for eleito.
"Acho que eu pediria pra eles arrumarem a quadra de esportes aqui, dar brinquedo, colocar piscina e dar cestas básicas para quem precisa", diz Eloá.
Segundo Débora, o prefeito deve cuidar das famílias e cumprir o que prometeu na campanha. "Se eu fosse política, ia entregar cesta, dar brinquedo no Dia das Crianças e dar o apoio que as famílias precisam", resume.
Quando vê outras crianças com problemas, ela diz perceber que os gestores não se importam com os pequenos. "Os políticos não se preocupam. Tem criança na rua, tem criança querendo comida e não tem. Tem pai e mãe parando de comer pra dar para as crianças."
No Campo Limpo, na zona sul, Pedro Henrique Ferreira de Lira, 8, cita o movimento intenso do trânsito que o preocupa. Diz que é perigoso para crianças brincarem.
A escola seria outro foco se ele entrasse na política. É preciso melhorar a estrutura, para que quando chova não vaze água do telhado. Também cita a dificuldade para chegar à aula. "Não pode ser muito longe. Tem vezes que as crianças não têm dinheiro ou os adultos para levar elas até lá. Tem vezes que a perua é cara."
A tia do menino, Sofia Alice Francisco de Lira, 10, está no 5º ano da escola e mora no Jardim Mitsutani. "Eles [políticos] sempre prometem as coisas e nunca fazem", diz, antes de listar necessidades do bairro e da cidade.
"Mudaria as ruas que são muito sujas e também são muito difíceis de andar. Também arrumaria os parquinhos que tivesse na rua, mudaria as escolas para elas terem uma qualidade melhor, um estudo bem melhor", cita Sofia.
Todas as crianças entrevistadas foram questionadas sobre a volta às aulas e disseram que preferem continuar em casa por conta da pandemia.
Estudam na capital 675 mil alunos na rede municipal acima dos 4 anos. Em setembro, a prefeitura anunciou que testaria todos sobre o contágio de Covid-19.
Na semana passada, o Governo de São Paulo prorrogou a quarentena até 16 de dezembro. "Acho que não [deveria voltar], também pela segurança das crianças", afirma Sofia.
A reportagem também perguntou às crianças o que é política.
"É uma forma que a sociedade encontrou para governar o país, pra ter leis, vamos dizer assim. Não tendo um governante acho que iria ficar meio vaga a sociedade", define Letícia Inácio Silva, 12, estudante do sétimo ano e moradora de Taipas, em Pirituba.
"Para ter um pouco mais de voz, eu acho que deveria mudar a forma como o governo trata as pessoas mais jovens e com menos condições", observa a estudante.
Letícia diz que muitas pessoas não são observadas pelo poder público. Entre os exemplos citados por ela estão os negros e os desempregados. "Isso deveria mudar, tendo mais vagas de emprego e mais atenção às vozes de pessoas negras e mais pobres."
Em Perus, na zona norte, Elisa de Paula da Costa, 9, estudante do terceiro ano, entende que política é algo ruim. "É uma coisa que causa briga entre familiares e amigos."
Ao exemplificar onde ocorrem essas brigas, ela foi direta. "Num debate que minha mãe estava vendo e eu fui acompanhar com ela. Teve uma briga lá. Não achei legal", lembra.
Na cabeça de Jhonatan Costa Nascimento, 12, estudante do sexto ano, a definição está associada a um espaço. "Acho que política é onde o governo trabalha."
Morador da Vila Zatt, na zona norte, ele demonstra preocupação com as crianças com deficiência. "Em metade dos lugares que não têm acesso para os cadeirantes teria que colocar acesso."
Ele completa dizendo que, se fosse um político, certamente faria mais com esse foco. "Para algumas crianças, as que têm deficiência, eu abriria uma escola para eles aprenderem a lidar melhor com a deficiência deles. Por exemplo, os que têm deficiência visual aprender a explorar melhor, a tocar nas coisas."

Publicado em Mon, 23 Nov 2020 07:10:00 -0300







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