A cadeira está lá, no 5º andar do Edifício Matarazzo, no centro de São
Paulo, mas quem quiser ocupá-la a partir de 1º de janeiro do ano que vem
ainda precisa transpor algumas barreiras.
A pouco mais de uma semana do segundo turno, Bruno Covas (PSDB) e
Guilherme Boulos (PSOL) precisam furar algumas bolhas e reforçar algumas
vidraças na disputa para o cargo de prefeito.
Pesquisa Datafolha aponta qu, em votos válidos (que excluem brancos e
nulos), Covas tem 58% e Boulos, 42%. Mostra também que Boulos, por
exemplo, ainda não rompeu a barreira da parcela da população que promete
focar.
Ele tem menos de metade da preferência entre quem estudou apenas até o
ensino fundamental do que seu adversário, Bruno Covas (PSDB).
A pesquisa mostra que 59% de quem tem esse nível de escolaridade diz
votar em Covas, e 28%, em Boulos (a margem de erro nessa faixa é de 6
pontos percentuais).
O tucano tem performance melhor também entre os que ganham até dois
salários mínimos --50% dizem votar nele e 34%, no adversário (margem de
erro de 5 pontos).
Boulos vai melhor e empata com o adversário (dentro da margem de erro) entre os mais escolarizados e os mais ricos.
A pesquisa mostra que o psolista, que começou a carreira política no
movimento sem-teto, tem tido dificuldade de furar a bolha progressista
que o levou ao segundo turno.
O atual prefeito e candidato à reeleição Bruno Covas, por outro lado,
fica numericamente atrás do adversário entre os mais jovens, com até 24
anos (46% a 31%) e os que têm entre 25 e 34 anos (44% a 38%).
O prefeito precisa correr para conquistar essa parcela do eleitorado.
Sua vantagem maior se dá entre os mais velhos, com 60 anos ou mais (65% a
23%), faixa que, por fazer parte do grupo de risco da Covid-19, pode
ter mais resistência a sair de casa para votar em meio à pandemia.
Além de furar suas bolhas eleitorais, os candidatos ainda têm calos que devem ser mais apertados nessa reta final.
Nesta semana, Covas voltou a ser atacado pela escolha de seu candidato a
vice, o vereador Ricardo Nunes (MDB), nome da bancada religiosa da
Câmara escolhido em uma articulação do governador João Doria (PSDB), que
busca apoio do MDB para uma candidatura à Presidência em 2022.
Reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que Nunes, de base eleitoral
na zona sul, mantém uma teia de influência sobre administradoras de
creches terceirizadas na região e é alvo de inquérito da polícia sobre a
relação de políticos com essas entidades gestoras.
A Folha de S.Paulo também revelou que ele foi acusado pela esposa de
violência doméstica, ameaça e injúria em 2011. Ela prestou queixa mas
não seguiu com o processo. Os dois continuam casados e hoje ela nega ter
sido agredida.
Os casos têm sido explorado por Boulos e seus partidários na internet,
em entrevistas e no debate da Band. Covas tem defendido o vice dizendo
que ele não responde a nenhum processo, que não há indício de
favorecimento a ele e que sua proximidade com empresas na região é
natural do cargo de vereador.
Outra quebradiça vidraça de Covas é seu padrinho político João Doria. O
Datafolha aponta que 60% dos paulistanos dizem que jamais votariam em
alguém apoiado pelo governador. Covas só virou prefeito porque entrou em
uma chapa como vice de Doria, que deixou o cargo após 15 meses para
disputar o governo.
Doria ficou escondido no primeiro turno da campanha e foi ignorado na
propaganda de TV, o que foi questionado por todos os adversários do
prefeito --ele se defendeu dizendo que Doria não poderia largar a
funções de governador para entrar na campanha.
Como resposta às críticas, no entanto, Doria estava ao lado de Covas no
primeiro discurso após o resultado do primeiro turno, no domingo (15).
A ligação com Doria se tornou mais desconfortável agora que Boulos tem
explorado o BolsoDoria, slogan que o governador usou para se eleger em
2018, quando se colocou como representante do bolsonarismo em São Paulo.
Boulos tem recuperado esses momentos, e seus partidários resgataram foto
que o prefeito tirou ao lado de Bolsonaro. Na quinta, o prefeito reagiu
e afirmou: "Bolsonaro que trate do Rio de Janeiro, não tem nada que se
envolver aqui em São Paulo, não tem candidato aqui que seja alinhado
ideologicamente a ele".
O candidato do PSOL, por sua vez, também tem sido atacado pelo apoio que recebeu de Lula, condenado por corrupção, e do PT.
O Datafolha aponta que 54% dos paulistanos não votariam em um candidato
apoiado pelo ex-presidente, de quem Boulos se aproximou especialmente
nas mobilizações contra a prisão do petista em 2018 --isso tem sido
usado por Covas, que já afirmou não ter subido no palanque para defender
Bolsonaro da prisão.
O apoio do PT também jogou no colo de Boulos questionamentos sobre a
gestão do partido no governo federal e sobre a administração Fernando
Haddad (2013-2016) na prefeitura, usados por Covas no debate da Band.
O tucano questionou o psolista sobre por que o PT acabou com o programa
Mãe Paulistana e disse que Boulos poderia "retroceder para o jeito de
governar do PT", que criou 40 estatais no governo federal.
O prefeito criticou ainda a falta de menções do programa de Boulos à
Operação Delegada, da Polícia Militar --espécie de bico oficial feito
por convênio com a prefeitura, em que agentes patrulham as ruas mesmo na
folga. Segundo Covas, a única menção à PM é para chamá-la de genocida.
Outra vidraça do psolista é a atuação do MTST em protestos, que por
vezes acabaram em depredações --como à sede da Fiesp em ato contra a PEC
do teto dos gastos, em 2016. Além disso, o próprio Boulos é réu sob
acusação de vandalismo na desocupação do Pinheirinho, terreno em São
José dos Campos, em 2012.