Ela chega à Casa ao mesmo tempo que outra pessoa trans, Thammy Miranda (PL), também aparece entre os candidatos mais votados
Aos 27 anos, Erika Hilton (PSOL) é a primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.
A futura vereadora foi a sexta mais votada, com 50.508 votos. Ela chega à
Casa ao mesmo tempo que outra pessoa trans, Thammy Miranda (PL), também
aparece entre os candidatos mais votados. Ex-estudante de gerontologia da UFSCar e "codeputada" na Bancada
Ativista da Assembleia Legislativa, mandato coletivo encabeçado pela
deputada Mônica Seixas (PSOL), ela resolveu se candidatar a vereadora
por avaliar que sua experiência não foi das melhores nesse modelo de
representação e que sua luta precisa de protagonismo.
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Pergunta - Como avalia a eleição de duas pessoas transgênero à Câmara de São Paulo?
Erika Hilton - Eu enxergo que é uma organização em resposta ao fascismo
que o Bolsonaro e o bolsonarismo trouxe ao Brasil. Nós nos sentimos
muito acuadas e amedrontadas com a eleição do presidente e percebemos
que, se não nos organizássemos e nos colocássemos dentro das Casas
Legislativas para tomadas de decisão, talvez nós continuássemos sendo
aniquiladas de forma bárbara.
Antes a sra. já fez parte de um mandato coletivo na Assembleia. Como foi a recepção entre os colegas?
EH - A recepção nunca é boa. Nosso corpo é estranho em qualquer lugar. O
Parlamento não é aparte da sociedade. Ele é parte da sociedade. E a
sociedade é transfóbica, racista. Teve aquele episódio lamentável do
deputado dizendo que tiraria uma mulher trans do banheiro aos tapas.
Isso se reflete no comportamento de outros fascistoides que lá haviam. É
claro que conseguimos abrir terrenos e dialogar com pessoas de outros
campos que não a esquerda, porque nem todo mundo é fascista.
Por que agora um mandato individual?
EH - Os mandatos coletivos não são a solução de tudo. A minha
experiência não foi das melhores na Bancada Ativista, que pincelou
pessoas vindas de lugares completamente distintos do meu e a minha pauta
se viu espremida dentro de um gabinete. E a minha pauta é uma pauta
cara, uma pauta de vida, uma pauta urgente para toda a sociedade. Avalio que os mandatos coletivos possam ser potentes, desde que todos que façam parte dele estejam alinhados ideologicamente.
Como vereadora, o que pode fazer pela população trans?
EH - Ampliar as vagas do projeto Transcidadania, melhorar o projeto para
que tenha continuidade, para que tenha parceria com empresas para que
depois de dois anos as meninas não precisem voltar para a prostituição,
para o drogadicídio.
Enfim, promover a dignidade humana a partir do emprego, da moradia, não é
inventar a roda. É dar direito de cidadania para quem tem ele negado.
Num eventual governo Covas, como seria a postura da bancada do PSOL?
EH - Tem coisas que não dá para negociar. Precisamos ser resistência,
ser um dedo na ferida. Outras coisas talvez seja possível chegar a um
consenso.