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Edinho Araújo, prefeito de Rio Preto
Foto por: Divulgação
Edinho Araújo, prefeito de Rio Preto

’Só tem briga quando dois querem. Eu não vou brigar com ninguém’, diz Edinho sobre nova Câmara

Por: Maria Elena Covre e Fabrício Carareto
16/11/2020 às 20:20
Política

Diante da perspectiva de um Legislativo mais combativo, prefeito reeleito volta a fazer discurso na linha "paz e amor”


Os olhos miúdos e cansados que a máscara deixava expostos na reta final da batalha eleitoral já estavam sorridentes e espertos de novo nesta segunda-feira (16). Isso porque, Edinho Araújo (MDB), 71 anos, reeleito para o quarto mandato como prefeito de Rio Preto no domingo (15), disse que tinha dormido pouco mais de uma hora na noite anterior. 

Era o entusiasmo de quem acrescente à trajetória política o 12º cargo conquistado na urna. O tom de voz, os gestos, as brincadeiras, os sorrisos, o bom humor e a leveza como tratou até os temas mais espinhosos mostraram, nesta entrevista ao DLNews, que Edinho, no momento, não quer guerra com ninguém. Pelo menos por enquanto, já que política é terra conflagrada por essência. 

E foi nessa linha paz e amor que ele falou sobre a relação com uma Câmara de vereadores, da qual fará parte o ex-deputado estadual João Paulo Rillo (Psol), mais combativa na oposição.

Na conversa, o prefeito tratou ainda da dificuldade de disputar uma eleição em tempos de pandemia com nove adversários, disse que foi um erro a decisão de bancar a candidatura do filho em 2018 e que na briga entre Doria e Bolsonaro, seu foco é o interesse de Rio Preto. 

Segundo Edinho, a Saúde, território de Eleuses Paiva, seguirá como está se Aldenis Borim aceitar ficar. Ainda de acordo com o prefeito, o atual vice, Orlando Bolçone "será o que quiser no governo”. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com os jornalistas Maria Elena Covre e Fabrício Carareto.

DLNews - A abstenção mais os votos nulos e brancos somam cerca 40% dos eleitores - ou 130 mil pessoas - que não optaram por ninguém. Mais que a votação do senhor, que teve 111.525 votos. Além do medo da Covid-19, que outro fator pode explicar esta maciça "ausência” no processo eleitoral de Rio Preto?
Edinho Araújo: Acho que a abstenção em Rio Preto (31,33%) foi mais alta que a média nacional (23,14%) porque nós temos também uma população com mais de 60 anos de idade maior que a média de outras localidades, o que é um mérito, já que nossa expectativa de vida é elevada. Agora, fico honrado em ser o mais votado que a soma dos outros nove adversários. Não tiro o mérito de ser o preferido de mais de 111 mil eleitores, ou 54,88% dos votos válidos. Então, eu acho que essa é a justificativa. E a pandemia que está aqui no interior, com o fato de Rio Preto ser o centro da região, com circulação de mais pessoas, o que faz o medo de contágio ser maior também. 

DLNews - Mas a rejeição foi alta também em outras cidades, no geral. Na opinião do senhor, como reconquistar o cidadão desiludido com a política?
Edinho: Acho que as pessoas não estão desiludidas. É uma parcela que sempre esteve contra a política, afastada. Mas eu acho que ter uma eleição com mais de 380 candidatos a vereador e 10 candidatos a prefeito é bem simbólico. Isso mostra, sim, o interesse pela política. Eu não vejo isso contra o político. É uma corrente contra que sempre existiu. Eu acho que o caminho é a democracia, é através do voto, é através de eleições. É claro que foi uma campanha diferente. Inegavelmente. Você vê. Eu não cumprimentei ninguém, não fui a uma feira. Eu não dei a mão a ninguém. Eu não abracei ninguém. Era esse o protocolo que eu tinha estabelecido, porque nós somos grupo de risco. Aí, eu via aqui Catanduva. Lá, todos os candidatos  pegaram Covid-19. Muitos amigos meus pegaram Covid. Se fosse para o contato, com certeza pegaria. 

DLNews - O primeiro mandato do senhor é de 1976. E quem o acompanha sabe que o senhor gosta de fazer política e até se diverte. Mas a gente percebeu que nesta eleição o senhor estava mais nervoso ou irritado que o normal, especialmente nos debates. Por que isso aconteceu?
Edinho - Vocês não têm a noção do que é chegar num debate com  nove concorrentes. E você sabe que muitas vezes, ali, um levanta a bola para o outro, porque o objetivo é combater a administração e fazer ganhar o discurso do novo, do diferente, do vamos mudar. Então você fica tensionado por isso. Eu não posso dizer uma palavra fora do normal. Uma crítica que eu faço ganha uma dimensão enorme. A vida inteira foi assim. Eu nunca posso fazer uma crítica a alguém. Se eu fizer uma crítica a alguém, ela cresce.  Essa era minha preocupação, fazer o debate onde eu não atingisse ninguém. 

DLNews - Qual dos nove adversários tiraram mais o senhor do sério nesta campanha?
Edinho - O problema é que falavam muitas coisas que não eram verdades. 

DLNews - Mas o que mais incomodava o senhor?
Edinho - O desconhecimento de muitas coisas. E também levantavam dúvidas sobre, por exemplo, o Semae. Diziam que vou vender Semae. Essa coisa do fechamento do comércio também. Eu tenho pesquisa de que a população, na maioria, aprovou as nossas ações com relação à pandemia. Então, é isso. Eu sei que eu estou ganhando o jogo. Todos as pesquisas mostravam isso. Então, qual é o meu raciocínio? Se eu empatar eu ganho. Eu jogava para empatar. Vou confessar a vocês. Eu convivi muito com o Montoro (ex-governador Franco Montoro). E, como ele, eu nunca vivi para agredir ninguém. Minha vida foi sempre para construir pontes e não muros. Então, o debate para mim era isso. Agora, se vamos para o debate no tête-à-tête é diferente. 

DLNews – Na próxima legislatura a Câmara terá alguns personagens que deverão se colocar como forte oposição ao governo, casos dos dois vereadores republicanos, de João Paulo Rillo e até de alguns que estiveram no seu palanque, mas deverão atuar com independência.  Como o senhor pretende conduzir essa relação?
Edinho - Com diálogo. Vamos conversar muito e mostrar o futuro, porque não sou mais candidato a prefeito. Então, o que viam antes? O Edinho pode ser candidato à reeleição. Não vão mais me ver como candidato. Ou seja, não sou mais candidato a vereador, não sou candidato a prefeito…

DLNews - Mas é candidato a deputado?
Edinho - Ahn? 

DLNews - É candidato a deputado?
Edinho - Não, não sei. Eu quero é cumprir esse mandato aí com o Bolçone. Esse é o meu objetivo. Então eu vou dialogar. Esse é o meu perfil e do Bolçone: diálogo e entendimento. Queremos fazer as coisas pelo bem da cidade. Como fizemos ao longo deste três mandatos em Rio Preto, com tudo que conquistamos. É só questão de parar para pensar. Mas enquanto eu estiver vivo, eu sei que as coisas são assim mesmo: de luta, de trabalho. 

DLNews - Sobre o Republicanos. Os dois vereadores mais votados são do partido. Coronel Helena foi sua principal opositora. O senhor vai chamar o comando da legenda para uma conversa, para tentar compor na Câmara, vai esperar um aceno deles. Como vai ser?
Edinho - Eu vou conversar com eles. Agora, preciso reconhecer que eu tenho os partidos que estiveram conosco. Acho que nós temos de trabalhar no sentido da administração, num pacto pela cidade. E eu vejo que o perfil dos vereadores – conheço a Karina e o Robson – não é o do embate político. Eu não vejo que eles queiram fazer um confronto. Vejo os dois preocupados com a cidade. O Robson é colega de vocês. Um homem que sabe dos problemas da cidade. A Karina sempre foi vereadora. Vamos discutir, com o próprio João Paulo (Rillo). Temos uma afinidade com ele (João Paulo). Foi meu candidato a prefeito em 2012. Não tenho absolutamente nada. Agora, só tem briga quando dois querem. Eu não vou brigar com ninguém…

DLNews - E o que o senhor achou do desempenho Coronel Helena, candidata pela primeira vez e sua principal adversária?
Edinho - Ela teve um bom desempenho. Sempre dialogamos, inclusive nas eleições passadas. Entendo que ela é um nome novo que passa a fazer parte do quadro político. E com um teste, com o batizo das urnas. Ela foi batizada nas urnas...

DLNews - A Secretaria da Saúde tem uma ligação intrínseca com o atual vice-prefeito Eleuses Paiva (PSD), que indicou Aldenis Borim. Com Eleuses fora do governo, o senhor vai manter a atual equipe, que foi a responsável pela gestão da crise do novo coronavírus a partir de janeiro?
Edinho - O Aldenis estava na equipe do Eleuses, é meu amigo de muitos anos. E faz um excelente trabalho. Vou conversar com ele…

DLNews - Mas o senhor quer que ele permaneça?
Edinho - Se ele quiser continuar secretário, claro. É um excelente secretário, respeitado. Se ele quiser, vai continuar comigo. 

DLNews - E qual vai ser o papel de seu novo vice, Orlando Bolçone (PSB), no governo?
Edinho - (olhando para Bolçone, na cadeira ao lado) Ah, então, o Bolçone vai ser o que ele quiser no governo…

DLNews (direcionando a pergunta ao vice eleito) - E o que o senhor quer ser, senhor Bolçone?
Bolçone: Eu? Eu quero ser vice-prefeito (risos). A gente vive um momento muito importante. Sabemos o tamanho do desafio. Temos uma amizade desde 1982. Já passamos da fase da vaidade, queremos uma cidade ainda mais desenvolvida. 

DLNews – Algumas unidades de UTI já foram desativadas com o arrefecimento do novo coronavírus, mas temos o fantasma de uma segunda onda. Rio Preto está preparada para o enfrentamento com resultados menos dramáticos?
Edinho - É claro que a primeira é sempre muito mais intensa. E totalmente desconhecida. Agora, nós continuamos não tendo remédio nem vacina. Acho que essa é uma questão que coincide. Eu não sei qual vai ser a intensidade. Porém, gora temos um conhecimento maior, mas não a ponto de curar. Só com a vacina e com o remédio…

DLNews - Quando o senhor imagina a volta às aulas presenciais? 
Edinho - Olha, é um assunto que nós vamos colocar com os pais. Pesquisas que temos mostram que 80% dos pais não queriam que as crianças voltassem às aulas. Vamos ter de dialogar muito com os pais, discutir essa questão, discutir protocolos, mas as crianças precisam voltar às aulas. É um assunto prioritário, que vamos discutir tão logo passe esse momento pós-eleição com a secretária e com a equipe de educação. 

DLNews - Em 2017,  perguntamos qual seria a marca deste mandato. E o senhor disse que desejava que fosse conhecido pela duplicação da BR-153, que não se consolidou ainda. Qual é, então, a marca que o senhor acredita que está deixando?
Edinho - Eu acho que foi a BR-153. Eu considero que continua, porque já está com mais de 90% concluída. Eu considero a mobilidade um aspecto importante. O anel viário, corredores, calçadas, recape (fizemos 350 quilômetros de calçada). O Terminal Urbano tinha muitos problemas, que nós equacionamos. Fizemos pavimentação das calçadas e ajustamos guias mais altas. Então, mobilidade urbana. E não podemos esquecer também o Hospital da Região Norte, que já está 50% construído. Vocês não têm ideia ainda de como mudaram as condições físicas das UBSs. Fizemos reformas, ampliações, unidades novas. E também o que tem de obra para inaugurar nesses próximos seis meses. Olha só, passamos por uma crise dessas, a maior dos últimos 50 anos, com seca, queimada, pandemia. E uma eleição com nove candidatos muito bem preparados, de todas as correntes, de extrema direita a extrema esquerda, de meia direita e meia esquerda. Eu respeito todos, porque sou um homem plural, sempre gostei da pluralidade.  

DLNews - Doria e Bolsonaro já queimaram a largada da disputa presidencial, atiçando os ânimos e até politizando a vacina anti-Covid. Essa disputa antecipada, com coronavírus no meio, dificulta ainda mais a vida de um gestor municipal que tenta dialogar com as duas esferas de governo?
Edinho - Presta atenção. Meu foco é administrativo. Dialogar com as duas esferas. Ainda há pouco recebi telefonema dos deputados federais que nos apoiaram, que têm as suas posições. Então, temos aí os doze partidos da coligação com deputados federais e estaduais. E também tem a minha história. E o Bolçone tem a história dele. Nosso foco é a cidade, é resolver os problemas de Rio Preto, é o planejamento a curto, médio e longo prazos. E teremos aí o contorno ferroviário, que vai começar o projeto no nosso governo, mas só vai ficar pronto no outro. Então, temos de deixar tudo planejado, porque é um trem regional. Isso é uma coisa espetacular, tanto como meio de transporte como turisticamente falando. Esses dias recebi um recado de Pereira Barreto pedindo para incluir a cidade no trem regional (risos). Para isso, vou ter de atravessar o rio São José, o canal de Pereira Barreto (disse brincando). A água do rio Grande. Temos o projeto pronto por volta de R$ 14 milhões, temos a autorização da ANA (Agência Nacional das Águas). Estamos na frente. Se você olhar as cidades que conseguiram financiamento, estão todas com as obras em andamentos. As nossas já estão quase todas terminando. Porque eu preparei projeto, estava na frente, eu sabia. Desde o projeto do esgoto, por exemplo. Então, é isso que temos feito sempre. Estamos muito atentos, ligados. Quando o ministro do desenvolvimento regional esteve aqui e mostramos o projeto da água, ele ficou encantado. Percebeu que estamos pensando no futuro. 

DLNews - Prefeito, temos um drama de mães com filhos pequenos que precisam trabalhar e estão sem creches, fechadas devido à pandemia. Não é possível buscar uma alternativa para essas mulheres que precisam trabalhar neste momento tão difícil?
Edinho - Eu já pedi para o chefe de gabinete pautar educação. Essa é nossa prioridade a partir de amanhã. Vamos tratar deste assunto. 

DLNews - O que falta na carreira de Edinho, que já foi prefeito, deputado estadual, deputado federal e ministro?
Edinho – Acho que não falta nada. Eu sou realizado. Eu nunca atrasei salário, nunca recebi cobrança de alguém que tinha vendido algo para a prefeitura. Eu delego, confio nas pessoas e deixo elas fazerem o que sabem fazer bem. Já eu, o que sei fazer um pouquinho é política…

DLNews - Eleger o filho do senhor, o Edinho Filho, é um projeto?
Edinho - Aí é questão dele. O Edson é um menino espetacular, vocês não têm ideia de como ele é um menino educadíssimo, foi candidato numa hora que não deveria ter saído. Circunstância: a gente acerta e erra. Errei, erramos. Mas confesso para vocês que estou muito feliz da vida em ganhar esta eleição, uma eleição muito dificílima, em função de todas as circunstâncias. E adotamos uma estratégia que deu certo. Devo a Deus, à minha família, aos meus amigos, à minha equipe que me acompanha há tantos anos. E por ter essa parceria com o Bolçone, que é uma amizade de 40 anos. Sempre nos demos muito bem e vamos trabalhar muito juntos. 







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