Nesta semana um amigo compartilhou print de publicação no Instagram feita pelo empresário Luciano Hang, vulgo "Véio da Havan”, acerca de pesquisa realizada pela Folha de S.Paulo, segundo a qual "71% dos que dizem votar em Boulos têm ensino superior”. A montagem contendo a manchete do jornal e a foto do candidato à Prefeitura de São Paulo vinha acompanhada de uma frase em destaque: "Não me surpreendo! E você?” O post superou 52 mil curtidas e centenas de comentários.
É claro que o homem que se posiciona como formador de opinião do eleitorado conservador não estava enaltecendo a importância da escolarização para a escolha consciente dos representantes políticos. Pelo contrário. A legenda da publicação ataca diretamente as universidades, acusadas de atuarem como doutrinadoras de uma juventude "comunista”.
Tamanho foi o meu espanto que não só fui checar se a publicação existia, como se a reportagem era real. Ambas as suspeitas se confirmaram.
A consequência imediata foi o assombro. Ora, se cidadãos com nível superior são tão manipuláveis, qual a solução para formar eleitores críticos e, posterior a isso, eleger políticos dignos de exercerem o cargo?
O que me levou a outra indagação: a quem interessa a precarização dos sistemas de ensino?
Dados mais recentes do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) indicam que três em cada dez brasileiros têm dificuldade para interpretar textos, reconhecer ironia e realizar operações matemáticas simples. Trinta por cento da população do país é considerada analfabeta funcional.
Para exemplificar o cenário caótico, nesta semana outro amigo usou de certa poesia para contar que adquiriu coronavírus. Embora tenha se apropriado de um vocabulário mais rico para trazer a notícia, palavras-chave como "falta de paladar” e "ser parte da estatística” deixavam claro o objetivo da mensagem. Apesar disso, todos os internautas que interagiram no post (quase 50), não perceberam a notícia da doença.
A consequência imediata da baixa escolaridade e do sucateamento do ensino é a perpetuação da velha política, dos esquemas milionários de corrupção e da retirada de direitos sob a égide de um bem maior, coletivo. Nesse universo, as fake news "nadam de braçada".
E como mudar o cenário? A transformação do País começa no município, com o interesse da população no histórico de vida dos candidatos, na atenção ao que dizem os programas políticos e, principalmente, na leitura dos planos de governo, disponíveis a todos no site do TSE.
É deixar de se iludir com tapinha nas costas e jogo de camisa para participar ativamente das decisões que afetam diretamente nossa qualidade de vida.
E a solução está na Educação. O fio condutor para uma sociedade democrática, próspera e inclusiva está nas mãos dos professores. Espera-se dos governantes, verdadeiramente engajados nesses três objetivos, ações efetivas para capacitar os educadores, a fim de que formem eleitores inteligentes, capazes de opinar e fiscalizar a eficiência dos gastos públicos.
Dos dez candidatos à Prefeitura de Rio Preto, três não registraram no plano de governo intenção de investir no processo de formação continuada dos professores.
Já disse Paulo Freire, "se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Fique de olho para não cobrar do seu candidato promessas que ele não fez.
Joseane Teixeira, 33 anos, é formada em Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Atua há 7 anos como repórter nas editorias de Polícia e Justiça, sendo dois anos pelo Diário da Região e cinco pela rádio CBN Grandes Lagos, onde trabalha atualmente.