Dados do Tribunal Superior Eleitoral indicam que o eleitorado rio-pretense é majoritariamente feminino, representando quase 54% dos títulos válidos. A superioridade é de 25.411 mulheres a mais com relação aos homens votantes*.
Para dar um panorama sobre a importância do eleitorado feminino, juntas e organizadas as mulheres poderiam eleger os três vereadores mais votados da eleição passada, cuja quantidade de votos somada foi de 21.759.
Mas este artigo pretende se ater ao protagonismo das seis mulheres que integram, como postulantes a prefeita ou a vice, chapas para o Executivo. Os perfis carregam importantes bandeiras: para o cargo de prefeita concorrem uma coronel negra e uma ex-servidora sindicalista; enquanto que para o cargo de vice ganham visibilidade uma policial militar mediadora de conflitos, uma advogada gestante, uma delegada da Polícia Civil e uma servidora que já comandou a Secretaria de Saúde.
Embora representem ideais absolutamente opostos, as prefeituráveis têm entre si uma mesma qualidade: a capacidade de liderança em meios predominantemente masculinos. Isso por si só bastaria como excelente justificativa para a conquista do pleito, não fossem as dicotomias entre o que elas são e o que elas representam.
E aqui começo pela Coronel Helena Reis, que pela posição de titular é a mulher com mais chances de ser eleita. Oficial da Polícia Militar formada na primeira turma feminina da Academia do Barro Branco, a policial que galgou o posto mais alto do comando local é "cria” da Vila Toninho. Sem dúvidas, merecedora de todas as honras e com comprovada experiência administrativa.
Mas a origem humilde numa das regiões mais pobres da cidade só é mencionada quando inserida num contexto de promoção pessoal. Enquanto chefe da PM, perdeu a oportunidade de propor projetos sociais de polícia comunitária que visassem diminuir os índices de criminalidade na "Vila” e aproximassem a população da corporação, como almejam as campanhas institucionais da Polícia Militar.
Pelo contrário, para o combater a violência, defende políticas de austeridade, como armar a Guarda Municipal para ser braço de apoio da PM frente ao crime.
Mulher negra, nunca se engajou nas ações ou projetos do atuante Conselho Afro de Rio Preto e, quando perguntada sobre políticas para as minorias, o discurso é generalizado, demonstrando pouca militância sobre o tema.
Aqui eu abro um parênteses para uma resposta que me chamou muito a atenção na entrevista feita pela psicóloga Mara Madureira para o portal DLNews. Perguntada sobre sua opinião acerca da diversidade social, a prefeiturável diz que "democracia é o governo da maioria”, quando o que se esperava de uma representante das minorias seria dizer que "democracia é o governo de todos”.
Na icônica música "Negro Drama” do grupo Racionais Mc’s, tem um verso que diz "Você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você”. A máxima parece não valer para a coronel Helena, que defende nas entrevistas das quais participa propostas políticas pensadas para a elite branca rio-pretense, que move a máquina da economia. Mas é importante dizer: não sem o amparo da população de baixa renda, que agoniza com limitado acesso a saúde e com a falta de políticas comprometidas com a qualidade de vida do povo da periferia.
Os ricos bancam a campanha, mas são os pobres, por serem maioria, quem estabelecem as cadeiras. Na expectativa de um governo ideal, votam naqueles os quais reconhecem alguma semelhança com seu histórico de vida.
Candidata pelo Republicanos, partido conservador e de direita, até mesmo seu reconhecido carisma parece engessado e desconfortável mediante orientações de seus assessores políticos, todos homens.
Já a candidata Celi Regina, professora concursada do município, conhece na pele as mazelas do serviço público. A vivência permitiu desempenhar importante papel como presidente do Sindicato dos Servidores, administrando um orçamento de R$ 1 milhão e, como vereadora - eleita uma única vez – ocupou o púlpito muitas vezes para defender causas feministas. Concluiu o mandato sem protagonizar escândalos, nem se envolver em esquemas de corrupção.
Mas ao tentar reeleição, teve a experiência política engolida pelos escândalos nacionais envolvendo o Partido dos Trabalhadores, demonizado por integrar esquemas que, na história política, sempre combateu. Nem Martin Luther King seria eleito em Rio Preto se representasse o PT. A cidade que elegeu Bolsonaro, maior opositor político do partido esquerdista, com 78% dos votos, mantendo ainda hoje, e apesar de tudo, 58% de aprovação.
Não poderia encerrar esse artigo sem mencionar as candidatas a vice, embora a nossa cultura de cobertura eleitoral deixe o "prefeito reserva” na sombra. O episódio nacional envolvendo o vice da presidenta Dilma Rousseff, Michel Temer, nos deixou uma importante lição: a necessidade real de ponderar sobre o currículo dos "coadjuvantes” que, por ocasião de um passo mais alto do protagonista, podem vir a ocupar a cadeira mais importante.
Das quatro mulheres a que esse artigo se propõe a analisar, Luciana Fontes é a que parece rejeitar o papel secundário e qualquer direcionamento de assessoria. Presidente do Psol e advogada especialista em Direito das Famílias e das Mulheres, personifica a luta feminista por respeito e igualdade de direitos. Na atuação política, fala por si e ocupa igual espaço nas discussões junto ao candidato a prefeito do mesmo partido, Marco Rillo. Não se pode negar o peso representativo de uma mulher independente, que apoia as bandeiras de luta na barrigona de oito meses. Segura firme o microfone, prestes a trazer à vida, justamente, outra mulher.
O contraponto fica pela homogeneidade partidária que, por representar apenas uma sigla, tem como desafio justamente convencer o eleitorado direitista de suas intenções democráticas.
Aqui vai a oportunidade de conhecer ainda a sargento Valquíria Faganelli, postulante a vice-prefeita pelo Democracia Cristã. Curioso dizer que, por tudo o que representa, é a candidata que mais se afasta das minhas ideologias políticas, mas com quem tenho maior proximidade. Integrante de uma corporação que, em razão das minhas coberturas, mantenho delicada relação, foi por causa da sua diplomacia que estabelecemos alguma afinidade.
Reconhecida e homenageada pelo desempenho excepcional na resolução de conflitos através de um serviço oferecido pela Polícia Militar, não representa nem de longe o estereótipo do eleitor bolsonarista, inegavelmente extremista. A personalidade forte no comando da equipe contrasta com a humanidade nas decisões. Pacificadora, é alguém que pode aproveitar a experiência dessa campanha para traçar estratégias mais inclusivas numa próxima oportunidade.
Em tem a delegada Aglaé Antunes, vice na chapa de Filipe Marchesoni, candidato do Partido Novo. Filha do histórico ex-prefeito Manoel Antunes, já falecido, ligado às periferias de Rio Preto, ela ainda precisa mostrar se herdou do pai a capacidade de falar com os mais necessitados na lida com a política.
Por fim, Terezinha Pachá (PSB), que é a vice de Marco Casale (PSL). Conta com a bênção de Valdomiro Lopes, seu padrinho na vaga. Politicamente leal ao ex-prefeito, ela assumiu a secretaria da Saúde em agosto de 2014, quando o médico José Victor Maniglia, da Famerp, pediu demissão. Terezinha, funcionária de carreira da prefeitura, se envolveu em polêmicas, e recebeu críticas especialmente por não ser médica, mas chegou até o final do mandato, em dezembro de 2016, relativamente ilesa. Tem no currículo a experiência de ter comandado uma pasta nevrálgica, mas não deixou uma marca de gestão feminina que possa ser puxada pela memória.
*Segundo relatório do TSE, há 178.844 eleitoras femininas, 153.433 eleitores masculinos e 263 que não se definiram em nenhum gênero.
Joseane Teixeira, 33 anos, é formada em Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Atua há 7 anos como repórter nas editorias de Polícia e Justiça, sendo dois anos pelo Diário da Região e cinco pela rádio CBN Grandes Lagos, onde trabalha atualmente.