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A empresária e baterista Yasmin Tranjan: "É muito possível ficar tudo bem, eu juro!"
Foto por: Yasmin Tranjan - arquivo pessoal
A empresária e baterista Yasmin Tranjan: "É muito possível ficar tudo bem, eu juro!"

’É possível ficar tudo bem!’: música é aliada de jovens ao enfrentar a depressão

Por: Karol Granchi
20/09/2020 às 11:41
Cidades

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com o maior número de pessoas com o transtorno. São mais de 12 milhões de brasileiros com depressão – no mundo são mais de 264 milhões de pessoas com a doença


"É possível ficar tudo bem, eu juro! Eu queria muito que essa dor terminasse, mas ela passa. Então, é muito possível ficar bem!”. A empresária e baterista Yasmin Tranjan, de 30 anos, não contém as lágrimas ao deixar uma mensagem aos que enfrentam a depressão a pedido da reportagem do DLNews que, enquanto escrevia esse texto, cantarolava a música "Coisas da Vida”, da rainha do rock brasileiro Rita Lee.

Yasmin foi diagnosticada com depressão há três anos. Os primeiros sintomas foram contrários aos que todos estão habituados a escutar sobre o transtorno mental. Diferentemente de uma tristeza profunda e falta de energia e ânimo para realizar qualquer atividade, ela foi acometida pelo stress e pela irritabilidade intensa.

"Eu estava extremamente irritada. Caía alguma coisa no chão e eu já queria matar todo mundo. Eu estava muito impaciente e ansiosa, trabalhava muito e sempre queria me sentir muito ocupada. Por isso eu demorei tanto para entender que isso era um sintoma muito grave da minha depressão, que por sinal estava em estágios bem avançados”, conta.

A baterista também não sentia mais forças para fazer as atividades comuns do dia. De repente, todas as atitudes que a levaram a ser quem ela é na vida perderam o sentido e seu mundo ficou apático, cinza.

"Eu comecei a perceber que eu não conseguia entender a razão de acordar, fazer, trabalhar, casar e ser uma pessoa normal. Eu acreditava muito que a morte era, sem dúvida, a melhor saída. Porque doía muito, eu não me encontrava, eu não me sentia eu. Todas as decisões que eu tomara eram baseadas em alguma coisa que não era eu. Eu simplesmente não sentia nada, nem coisa boa ou ruim, eu vivia apática”, explica.

A baterista conta que teve muita dificuldade em compartilhar seus sentimentos com os amigos. Para ela, o preconceito estava presente nas falas de pessoas de sua convivência. "A depressão ainda é vista como um estado da pessoa e não como uma doença química no corpo dela. Eu tinha uma resistência por conta do preconceito que eu também tinha – algumas pessoas me diziam que era falta de filho, falta de Deus. Então, eu contei somente para as pessoas muito próximas, que eram as minhas melhores amigas da minha banda, meu marido e minha família”, diz.

Após ser incentivada pelos familiares a procurar ajuda profissional e iniciar um tratamento com terapia, medicação, alimentação alcalina e yoga, Yasmin também encontrou na música um momento de encontro verdadeiro consigo.

"No início eu estava impossível de me comunicar, fiquei muito tempo sem conseguir trabalhar na minha empresa e a única coisa que eu conseguia fazer era tocar. Eu não sei explicar como isso aconteceu dentro de mim, mas a música me ajudou muito nesse processo. Quando eu tocava eu estava comigo de verdade”, revela.

"Dê Pressão"

Assim como para a Yasmin, a música também foi para o jovem Lucas Oliveira, de 26 anos, grande aliada no tratamento da depressão e na externalização da dor. Entre os anos de 2015 e 2017, o músico passou por diversos conflitos, chegando ao auge do transtorno.

O fim de um relacionamento amoroso, a sobrecarga de inúmeras responsabilidades com os estudos e o trabalho, comportamentos hostis, além do falecimento da "tia Célia” (vizinha que ele apadrinhou de segunda mãe), tornaram-se uma grande bola de neve que foram consumindo sua vida. Ainda se negando a olhar de frente para a situação, Lucas se viu diante de grandes excessos.

"Eu não sabia que tinha depressão e não aceitava isso. Então comecei a fugir, foram muitas fugas. Eu agendava shows com a banda direto, a vida noturna foi me consumindo, foram muitos os excessos e eu fui perceber que eu precisava de ajuda quando eu cheguei a ponto de me ferir”, relembra o jovem quando atentou contra a própria vida.  

Após chegar ao estopim da crise, Lucas não conseguia mais fingir que estava tudo bem e procurou ajuda.

"Eu tentei conversar com pessoas mais velhas da minha família, mas existe um problema cultural de as pessoas acharem que a depressão é falta de serviço, falta de trabalho, falta de Deus, e muitos não me davam atenção porque não entendiam a gravidade do problema. Isso me fez entender que o tratamento era importante e a medicação me ajudou a organizar as ideias”, conta.

Para externalizar o que sentia, Lucas compôs a música "Dê Pressão” (veja o clipe abaixo), que gravou com a participação da locutora Lolla Scafe, também vocalista da banda The Monnas (na qual Yasmin é integrante). No clipe, que já soma 18,4 mil visualizações no Youtube, Lucas revela sua história - o cara feliz, cheio de amigos, que bebia todas e postava fotos com frases de efeito nas redes sociais, mas que por dentro enfrentava uma tempestade de sentimentos e precisava de ajuda.

"Na época nem eu sabia o que eu sentia, mas eu também não sentia liberdade para falar sobre isso. Também é importante partir de cada um a vontade de se curar e dar o primeiro passo. A gente pode escutar o outro, mas não tem receita mágica, a gente também tem que tomar cuidado para não tomar o lugar de nenhum profissional, a gente tem que preservar a gente e preservar o outro, tá ligado? Eu já cheguei a ter medo de mim mesmo, mas hoje eu me sinto bem e renovado”, revela o músico que atualmente não faz uso de medicação nem bebidas alcoólicas.

Setembro Amarelo

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país da América Latina com o maior número de pessoas com o transtorno. São mais de 12 milhões de brasileiros com depressão – no mundo são mais de 264 milhões de pessoas com a doença.

Organizada desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha Setembro Amarelo tem como objetivo prevenir o suicídio. Dados disponíveis no site oficial da campanha mostram que cerca de 12 mil suicídios são registrados por ano no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Destes números, cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais.

A psicóloga Aline Carceres explica que falar sobre a saúde mental tornou-se importante nos últimos tempos.

"Está havendo uma valorização da saúde mental e emocional. Então, falar de depressão é muito importante porque a depressão não é fraqueza ou falta de Deus, por exemplo. A depressão é uma doença que atinge milhões de pessoas no mundo e afeta o humor, o pensamento, a disposição e o comportamento da pessoa. Existem tratamentos eficazes e conhecidos para a doença, mas muitos dados mostram que há uma defasagem mundial no tratamento porque ainda há um estigma social e também o preconceito. A depressão pode ser prevenida e tratada, mas é preciso termos uma visão aberta sobre a doença, entender que a doença é real e existe”, esclarece a especialista.

Como perceber que o seu amigo não está legal

- A pessoa apresenta mudanças no comportamento como falta de entusiasmo, falta de energia e motivação;

- Afastamento ou isolamento das atividades sociais;

- Confusão e dificuldade de tomar decisões;

- Baixo rendimento no trabalho;

- Problemas alimentares;

- Distúrbio do sono;

- Baixa autoestima;

- Sensação de culpa;

- Pensamentos negativos e de desvalorização consigo;

- Perda de prazer pela vida;

- Abuso de álcool e drogas;

- Ansiedades e medos;

- Irritabilidade, inquietude e pessimismo;

De que forma eu posso ajudar?

"Justamente por ser uma pessoa que a gente conhece e ama, é natural a gente querer estar presente na vida dessa pessoa. É importante mostrar que você e outras pessoas se preocupam e estão disponíveis a dar apoio. Ter em mente que é uma condição séria e que essa preocupação pode significar muito. É importante saber ouvir e oferecer auxílio de um tratamento psicológico e as vezes até psiquiátrico, ajudando essa pessoa entender que o tratamento é fundamental”, orienta a psicóloga.

Assista ao clipe da música Dê Pressão abaixo: 

O músico Lucas Oliveira: "O clipe conta a minha história, mas hoje eu me sinto renovado"
Foto por: Lucas Oliveira - arquivo pessoal
O músico Lucas Oliveira: "O clipe conta a minha história, mas hoje eu me sinto renovado"








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