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Parayba Lima foi ícone da música em Rio Preto
Foto por: Divulgação
Parayba Lima foi ícone da música em Rio Preto

De músico reconhecido à vida na roça: por onde anda Parayba Lima?

Por: Augusto Fiorin, exclusivo para o DLNews
13/09/2019 às 18:48
Famosos

A música é minha alegria, minha companheira, meu sustento. É minha angústia, minha sina, meu lamento. A frase é de Josimar Rocha de Lima, o Parayba, um dos maiores músicos rio-pretenses durante a década de 90.


À época, não eram poucos os artistas que se apresentavam pelos bares da cidade. Porém, apenas alguns carregavam consigo o dom de oferecer aquilo que a arte realmente tem de melhor: a paz que o mundo tenta tirar.

Parayba Lima cumpriu à risca esse conceito, tornando-se um ícone em São José do Rio Preto no período. Mas por onde anda esse cantador que virou documentário? "Mano Velho”, como também gostava de ser chamado, sumiu sem deixar rastro. Há quase um ano se afastou da família, dos amigos e partiu de Rio Preto sem olhar pra trás. Prestes a completar 63 anos - quase 50 deles dedicados à música -, Parayba está muito distante de onde realmente gostaria de estar: os palcos da vida. Segundo Juninho Lima, filho e também músico, o pai teria abandonado a profissão e, hoje, estaria se dedicando à roça em Monteiro, no Cariri Paraibano, município instalado a 319 quilômetros de João Pessoa. "Mas não temos certeza. Recebemos a informação de um parente distante já há algum tempo. Depois disso ninguém mais nos atendeu. Procuramos por  informações, mas dizem não tê-lo visto mais por lá”, afirma Lima, que reside no Rio de Janeiro.

Além de trabalhar na Cidade Maravilhosa, Juninho segue a missão de reencontrar o pai, que é seu grande ídolo e incentivador. Com a voz embargada pela emoção, garante que a maior dor em relação ao sumiço está na falta de tudo: Parayba afincou na bagagem todas as fotos retratadas ao longo de sua carreira, seus instrumentos musicais, os cordéis e os muitos aspectos culturais tão expressivos para a sua vida. "Sinto mais que a presença física, pois significava a história dele, sua luta, o amor dispensado à
família. Sinto falta de cada acorde inventado, dos dias de glória numa Rio Preto acolhedora”, explica.

No município, o jornalista e documentarista Fernando Marques foi amigo-irmão. Produziu e arranjou gratuitamente o único disco que o músico gravou: "O Cheiro do Verde”, reunindo suas composições de décadas. Esculpido pelo selo Tempo Livre, em 1996, foi gravado totalmente acústico e é considerado um dos melhores da história da cidade. "Saber que esse nordestino arretado sucumbiu à mágoa me entristece. Parayba sempre dizia que não era valorizado, mas jamais imaginei que deixaria pra trás um legado sem precedentes”, diz.

Para Juninho, porém, a fúria do pai está relacionada à falta de oportunidades. "Quando estava bem todos o queriam por perto. Mas depois de alguns erros, poucos  permaneceram ao seu lado, muita gente sumiu sem nem dizer adeus. Parayba bateu em muitas portas, tocou de graça em muitos bares, enfrentou muitos obstáculos. Agora, buscou um caminho que, aparentemente, deu mesmo no sol”, afirma.

Quem também sente falta do "cabra da peste” é o músico Luis Dillah. Como o amigo paraibano, o mineiro de Uberlândia também construiu carreira nas Terras de São José, onde reside com a família e realiza seu trabalho até os dias atuais. Dillah tocou ao lado de Parayba em diversas ocasiões e, mesmo depois de tanto tempo, se recorda da amizade verdadeira. "Desceu ao sul para nos dar o ar de sua graça. Amigo, parceiro, companheiro de alguns goles e muitos acordes, sua música vinha sempre acompanhada de boas risadas.

Onde quer que esteja que siga propagando a paz com sua arte que inspira”, declara. Além de muitas lembranças, "Mano Velho” ainda pode ter sua história propagada. O documentário de 30 minutos produzido pela RZ2 Produções – Parayba Lima – Vida e Arte -, encontra-se disponível no YouTube. Para quem não o conheceu, uma boa oportunidade para saber um pouco mais sobre a vida desse cantador.

A obra conta com depoimentos de diversos músicos e amigos de Parayba, como Benê Ferreira, Pedrão, a jornalista Daniela Golfieri, Gerson Barbosa, o artista plástico Daniel Firmino, a professora e ex-vereadora Celi Regina da Cruz, o radialista Pica Pau, Cícero Cordel, presidente do Centro de Tradições Nordestinas de Rio Preto, entre muitos outros.

O material foi produzido gratuitamente por Hélio Ricardo e Renato Lima. E não foi só em Rio Preto que o cabra se destacou e fez amigos. A região também se rendeu ao talento do músico. De acordo com Luiz Augusto Fernandes, que foi dono de um bar em Ibirá em meados de 90, Parayba era a certeza de casa cheia. "Quando o anunciava, imediatamente já solicitava à administração municipal que interditasse uma das vias do estabelecimento”, lembra. "Quando dedilhava Chão de Giz, de Zé Ramalho, era difícil não se emocionar”, completa.

Parayba Lima nasceu em Monteiro, em 18 de outubro de 1956. O mais novo de onze irmãos, logo cedo já sabia o que queria da vida: ser cantador. Antes de Rio Preto,  atravessou o Rio São Francisco rumo ao Estado de Pernambuco, depois foi para Cruz das Almas, na Bahia, onde iniciou o estudo musical. Em seguida desceu para as Minas Gerais, onde ingressou em um grupo de bailes.

Passou por Goiás, Belém do Pará, voltou à Bahia e novamente às Minas. Na cidade de Uberaba, conheceu sua companheira de vida. Entrou pela primeira vez no Estado de São Paulo em Pereira Barreto, onde formou com alguns amigos o Grupo Sapoti. Mas não demorou e Parayba já estava em Araçatuba tocando em faculdades. Chegou a Rio Preto e se instalou até janeiro deste ano, quando partiu rumo ao desconhecido.

Para Juninho Lima, se pudesse escolher uma música que definisse seu pai, esta seria, com certeza, "Nos bailes da vida”, de Milton Nascimento. "Tocou em troca de pão, ainda assim nada era longe, tudo tão bom. Enfrentou estrada de terra, roupa encharcada, boléia de caminhão. E teve apenas uma direção na vida: ir exatamente onde o povo estava”. Talvez esteja certo. Com a partida de "Mano Velho”, restou à música rio-pretense apenas a lembrança do que era. 

Fonte: Documentário Parayba Lima – Vida e Arte – RZ2 Produções

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