Chefe do Laboratório de Virologia da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), médico virologista Maurício Nogueira, que vai coordenar pesquisa para a vacina contra a Covid-19 na cidade, falou com exclusividade ao DLNews sobre como serão os trabalhos com os voluntários e pesquisadores.
Nesta quarta-feira (1º) o
governador do Estado de São Paulo, João Doria, anunciou que a instituição será
um dos 12 polos de pesquisa para a vacina no Brasil, a "Coronavac”. O
investimento será feito pelo Instituto Adolfo Lutz.
De acordo com o médico virologista Maurício Nogueira, que vai coordenar pesquisa para a vacina contra a Covid-19 na cidade, a pesquisa na Famerp deve começar ainda neste mês, após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão de Ética, órgãos reguladores. Serão recrutados voluntários entre a população de Rio Preto para testar a eficácia da vacina. O número de pessoas que vão participar da pesquisa ainda não foi divulgado.
Confira a entrevista que ele concedeu com exclusividade ao DLNews:
DLNews: Como será o trabalho da Famerp na pesquisa?
Maurício Lacerda Nogueira: O trabalho vai ser muito semelhante ao
trabalho que fazemos na dengue, que é recrutar uma população alvo, vacinar e
acompanhar durante o período de estudo para ver se alguém fica doente, pra ver
se vacina protege ou não. É um trabalho que já temos experiência.
DLNews: Quantos voluntários serão selecionados em Rio Preto?
Nogueira: Teremos voluntários de Rio Preto, mas o número será divulgado
após aprovação dos órgãos reguladores – a Anvisa e a Comissão de Ética. Esse
número de voluntários será divulgado nos próximos dias.
DLNews: Quais são as etapas do trabalho e como
serão feitas?
Nogueira: Vamos fazer aqui o que é chamado de estudo Fase 3 – quando é
verificada a eficácia da vacina. É só isso, vacinamos o pessoal, acompanhamos
durante um ano e veremos a eficácia dela.
DLNews: Quando o senhor acredita que a vacina
ficará pronta?
Nogueira: Não dá para saber. Os estudos de vacina
podem ser de curto a longo prazo, porque depende do número de variáveis. Nós
acreditamos que, em geral, as vacinas mais avançadas talvez estejam disponíveis
daqui a seis meses, a oito meses. Provavelmente no
começo do ano que vem teremos vacina disponível.
DLNews: A pandemia trouxe a
discussão sobre a importância de investimentos na Ciência no Brasil, como o
senhor analisa este quadro atualmente?
Nogueira: É uma discussão sem fim. O Brasil
sempre optou por investir pouco – nós temos pouca infraestrutura de pesquisa,
nós temos pouco investimento em ciência e tecnologia e temos que viver a
reboque de outros países. Nós temos diversos grupos de pesquisa no Brasil que
têm competência para desenvolver vacinas nacionais. Mas o Brasil está
investindo em vacinas internacionais, tanto o governo federal e estadual, porque
esses grupos conseguem andar mais rápido do que os brasileiros, já que aqui somos claramente subfinanciados. Também não tem pessoal para fazer
diagnóstico, não tem a cultura de formação de pessoal. Então, a Ciência e Tecnologia
no Brasil é muito boa, mas muito pouco financiada. O Brasil optou por ser um
país que gasta pouco em pesquisa e desenvolvimento.
DLNews: Qual a importância do trabalho dos pesquisadores que atuam com o senhor nessa pesquisa?
Nogueira: Nós temos aqui na Famerp um grupo maravilhoso que trabalha com a gente desde médicos, enfermeiros, biólogos, biomédicos até veterinários que atuam na área de pesquisa de doenças de vírus, desde bioquímica de vírus até estudos populacionais de vacina. É um grupo grande no qual hoje mesmo, nesse dia, estou especialmente orgulhoso porque completamos 10 mil testes de PCR pra Covid-19 realizados em conjunto dentro do meu grupo da Faculdade de Medicina e do Laboratório de Biologia Molecular do hospital, que eu também coordeno.