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O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores na frente do palácio do planalto, ao final da manifestação em favor do seu governo
Foto por: Pedro Ladeira
O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores na frente do palácio do planalto, ao final da manifestação em favor do seu governo

Bolsonaro diz que não pode ser ameaçado e que seria um golpe isolar o presidente

Por: Folhapress - Gustavo Uribe, Danielle Brant e Daniel Carvalho
16/03/2020 às 15:43
Política

’Não pode um chefe do Poder Executivo viver ameaçado o tempo todo’, afirmou


O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta segunda-feira (16) a cúpula do Poder Legislativo de ter iniciado contra ele uma "luta de poder" e afirmou que seria um golpe de Estado isolá-lo.

Em entrevista por telefone à Rádio Bandeirantes, de São Paulo, ele disse que tem sido ameaçado "o tempo todo" e que não existem hoje elementos para a abertura formal de um processo de impeachment contra ele".

"Não pode um chefe do Poder Executivo viver ameaçado o tempo todo", afirmou. "Seria um golpe isolar o chefe do Poder Executivo por interesses outros que não sejam os republicanos", afirmou.

Em uma referência a Fernando Collor e a Dilma Rousseff, presidentes que sofreram processos de impeachment, Bolsonaro disse que não foi acusado de corrupção nem cometeu irregularidades na área fiscal.

"Eu não abuso e não tenho qualquer envolvimento com corrupção. E terceiro fato: um impeachment só pode haver, no meu entender, se o povo estiver favorável a isso. Não existe nenhum ingrediente no tocante a isso daí."

Para o presidente, houve motivação política nas críticas feitas contra ele pelos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por sua participação em manifestação neste domingo (15), apesar das recomendações do Ministério da Saúde para evitar aglomerações.

"Nós estamos em uma briga pelo poder e vou ser fiel àquilo que eu sempre tive com a população brasileira. Não dá para querer jogar nas minhas costas uma possível disseminação do vírus", disse.

Neste domingo, Bolsonaro estimou e participou de manifestações em diferentes pontos do país com gritos de guerra e faixas em defesa do governo federal e com uma série de ataques ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal).

O presidente incentivou os atos desde cedo em suas redes sociais —foram ao menos 42 postagens sobre o tema. Sem máscara, participou das manifestações, tocando simpatizantes e manuseando o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.

Na entrevista, o presidente disse ainda que sofreu um "ataque frontal" de Maia e emendou que nunca o tratou "dessa maneira". Ele reclamou que o Poder Legislativo não tem aprovado projetos simples enviados pelo governo.

"Até as coisas simples que a gente manda para o Congresso Nacional não vão para frente. O que quero do Parlamento é que ele vote. Agora, tem um jogo de interesse muito g​rande", afirmou. "Não quero ser melhor que o Maia ou o Alcolumbre. Eu quero que nós aprovemos as questões que interessam a população", emendou.

Bolsonaro disse ainda que tem havido uma "crítica enorme" à postura de Maia e que já o aconselhou a tentar reverter o quadro atual. Ele apontou como um dos motivos do desgaste a disputa entre Executivo e Legislativo pela g​estão de R$ 30 bilh​ões do Orçamento impositivo.

"Qual o interesse dessas lideranças políticas? É uma luta de poder e uma irresponsabilidade de algumas pessoas. E eles posando como mártires", disse.

O presidente voltou a dizer que não h​​ouve acordo sobre a divisão do montante, apesar de ele ter enviado ao Congresso propostas propondo a repartição, e criticou o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, responsável pela articulação política.

"O defeito dele é ser muito inexperiente ainda. Mas ele esta vendo essa questão", disse. "Talvez o Ramos tenha se perdido um pouco pela sua imaturidade, inocência e até pela sua honestidade."

Em um ataque ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o presidente disse que uma crise econômica neste momento, causada pela pandemia no coronavírus, interessa a seus adversários para a sucessão de 2022.

"O que está em jogo é o poder. Alguns estão em campanha eleitoral, esperando 2022. É toda hora pancada em mim", afirmou. "Essa campanha o tempo todo para desgastar o governo é para prejudicar o Brasil."

Na entrevista, o presidente disse também que não foi só ele quem participou de aglomerações e lembrou da presença de políticos e autoridades na festa de lançamento da CNN Brasil, que reuniu na capital paulista cerca de 1.300 pessoas, na semana passada.

Além de Maia e Alcolumbre, estiveram presentes no encontro, promovido no parque Ibirapuera, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), José Dias Toffoli, e o vice-presidente Hamilton Mourão.

"Que exemplos as pessoas estavam dando no tocante a essa manifestação?", questionou. "Agora, não vou partir para a hipocrisia na Oca do Ibirapuera. A elite política pode reunir 1.300 pessoas e não posso ficar perto do povo", afirmou.

Bolsonaro disse ainda que não se arrependeu de ter se aproximado dos simpatizantes no domingo (15), mas lembrou que fará um novo exame nesta terça-feira (17) para constatar se não contraiu de fato a doença.

"Segundo teste que vou fazer. Eu digo para você: até o momento, se eu tiver com o vírus aqui, não estou sentindo absolutamente nada, tudo normal", afirmou.

Ele ressaltou que não pretende ficar isolado no Palácio do Alvorada até o resultado final, que cumprimentar as pessoas é um direito dele e que, caso tenh​a se contaminado durante o protesto, é uma responsabilidade dele e ninguém tem a ver com isso.

"Eu não vou viver preso dentro do Palácio da Alvorada esperando mais cinco dias, com problemas grandes para serem resolvidos no Brasil", disse. "Se eu me contaminei, tá certo, isso é responsabilidade minha, ninguém tem nada a ver com isso."

"Essa é minha posição. Agora, se eu resolvi apertar a mão do povo, desculpe aqui, eu não convoquei o povo para ir às ruas, isso é um direito meu. Afinal de contar, eu vim do povo. Eu venho do povo brasileiro", disse.

Bolsonaro voltou a dizer que tem havido uma "histeria" e um "superdimensionamento" em relação à pandemia de coronavírus, apesar de a doença ter causado 6.513 mortes.

"Está havendo uma histeria", afirmou. "Se a economia afundar, afunda o Brasil. E qual o interesse dessas lideranças política? Se acabar economia, acaba qualquer governo. Acaba o meu governo. É uma luta de poder", disse.

O presidente informou também que promoverá na tarde desta segunda-feira (16) uma reunião para discutir a possibilidade de um fechamento das fronteiras do país. Ele antecipou, contudo, ser contrário à medida.

"Não é fechar a fronteira, não é assim que funciona. O que eu vou sugerir hoje é que nesta entrada de pessoal você faz um exame. Quem tiver os sintomas fica", disse.

O presidente afirmou que não adianta fechar, por exemplo, a fronteira entre Brasil e Venezuela em Roraima se há outras formas dos refugiados ingressarem no país.

"É uma fronteira seca. Pode colocar um batalhão do Exército, mas vaza por outro lugar", afirmou. "Não podemos dizer que todo mundo da Venezuela, Paraguai e Bolívia está infectado."

Bolsonaro disse que a Lei de Imigração, aprovada em 2017, proíbe o fechamento de fronteira. Nesta segunda-feira (16), ele criará um comitê de emergência para o combate ao coronavírus, que deve ser coordenado pelo ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto.​

Nesta segunda-feira, apesar dos ataques, Bolsonaro afirmou à rádio que pretende se aproximar do Legislativo.

Pouco depois da entrevista, o apresentador José Luiz Datena conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que evitou partir para o confronto e defendeu que os Poderes trabalhem juntos para conter a crise provocada pelo coronavírus.

"Neste momento, independente do que aconteceu de hoje para trás, nós precisamos estar unidos para organizar as soluções para reduzir o impacto da chegada do coronavírus do Brasil.”

Maia se defendeu ainda de uma crítica que Bolsonaro fez sobre a participação do presidente da Câmara em um evento ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em São Paulo, na segunda-feira passada (9).

"O mais importante é que naquele momento não havia o crescimento do vírus, (...) que começou a crescer na quinta e na sexta, e principalmente depois da live feita pelo presidente com seu ministro da Saúde, pedindo que dali para a frente se evitassem as aglomerações", disse.

"O que nós precisamos, em prol da sociedade brasileira, é esquecer nossas diferenças politicas, as nossas divergências, e vamos olhar para o problema do povo."

Em resposta às críticas do ministro Paulo Guedes (Economia), Maia disse que as reformas caminham de acordo com o cronograma. Segundo ele, a tributária deve ser votada em maio, embora tenha reiterado que o governo ainda não enviou sua parte da proposta.

Maia ressaltou que o Congresso precisa estar pronto para votar as medidas emergenciais encaminhadas pelo governo para enfrentar a doença. Os acordos poderiam ser feitos por WhatsApp e a votação em plenário seria simbólica, afirmou o presidente da Câmara.

O protesto que ocorreu neste domingo (15) estava previsto desde o fim de janeiro, mas mudou de pauta e foi insuflado após o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, ter chamado o Congresso de chantagista na disputa entre Executivo e Legislativo pelo controle de parte do Orçamento deste ano.

Na última quarta-feira (11), a Comissão Mista de Orçamento aprovou dois projetos de lei enviados pelo governo que repartem com o Congresso cerca de R$ 15 bilhões dos R$ 30,8 bilhões. Os dois textos, agora, vão a plenário do Congresso, e a discussão continua.

Durante o Carnaval, Bolsonaro compartilhou em um grupo de aliados um vídeo que convocava a população a ir às ruas para defendê-lo. Na semana seguinte, em discurso, chamou a população a participar do ato, o que mais uma vez irritou as cúpulas do Congresso e do Supremo.

Além de apoiar o presidente, os organizadores da manifestação sempre carregaram bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário e a favor das Forças Armadas. Nas redes sociais, usuários compartilharam convocações com mensagens autoritárias, pedindo, por exemplo, intervenção militar.

Nesta segunda, antes de falar à rádio, Bolsonaro voltou a minimizar a pandemia do coronavírus e disse que a crise mundial "não é isso tudo que dizem".

Na entrada do Palácio da Alvorada, onde parou para conversar com um grupo de eleitores, ele ficou distante dos apoiadores e evitou dar as mãos, apesar de não ter seguido essa recomendação no protesto de domingo.

O presidente afirmou ainda que a epidemia da doença na China, considerado o epicentro da doença, está "praticamente acabando". O país asiático teve até agora 81 mil casos confirmados de coronavírus, com 3.204 mortos. No mundo, são 6.513 mortos até agora.

"Foi surpreendente o que aconteceu na rua. Até com esse superdimensionamento. Tudo bem que vai ter problema. Vai ter. Quem é idoso e está com problema ou deficiência. Mas não é isso tudo que dizem. Até que na China já está praticamente acabando”, afirmou.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, já há 200 casos confirmados. E a previsão é de que o número apresente um grande aumento nas próximas semanas, atingindo um pico no país.

Na entrada da residência oficial, o presidente chamou os veículos de imprensa de mentirosos e disse que nunca defendeu o fechamento do Legislativo ou do Judiciário. No protesto convocado pelo presidente, no entanto, havia cartazes e faixas contra os dois Poderes.

"Imprensa mentirosa aí. Capa dos jornais aí falando que eu estou falando para fechar o Congresso ou Supremo. Nunca falei isso, nada. Tudo é mentira. O tempo todo", afirmou.

No domingo, o presidente criticou o interesse do Congresso em controlar cerca de R$ 15 bilhões do Orçamento 2020 e mandou Alcolumbre e Maia irem às ruas.

Em entrevista à CNN Brasil, ele também chamou de "extremismo" e "histeria" medidas adotadas diante da pandemia do coronavírus. Bolsonaro foi durante criticado por ter estimulado as manifestações.







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